Esta semana, o desaparecimento da estudante Gabriele Haccourt de Carvalho, de 13 anos, moradora de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, chamou a atenção para os riscos que a internet pode representar quando mal utilizada. A garota sumiu depois de marcar um encontro via web, sem o conhecimento dos pais. Porém, este não é o único caso do tipo registrado nos últimos anos.
“A quantidade de crimes com início na internet tem crescido bastante. Isto não está acontecendo porque a internet ficou mais perigosa, mas porque tem mais gente se relacionando primeiro via virtual para que depois o relacionamento se torne real”, diz a advogada Patricia Peck, que é especialista em Direito Digital e idealizadora do movimento Criança Mais Segura na Internet. Na maioria das vezes, quando a criança ou o adolescente tem uma relação digital com alguém há bastante tempo, não sente que aquela pessoa é uma desconhecida e pode representar algum tipo de risco. Em função disso, deixa de ter alguns cuidados como, por exemplo, avisar os pais que vai encontrar determinado amigo virtual, como o que aconteceu com a adolescente de Pinhais.
“Muitos pais, quando os filhos vão a uma festinha, se preocupam em saber na casa de quem é a festa, querem levar até a porta, conhecer o amigo e seus pais. Quando veem que o filho tem um amigo virtual, não se preocupam porque acreditam que o relacionamento acontece dentro de casa e não representa riscos. Isto é um grande erro”, afirma a advogada.
Busca
Assim como buscam conhecer os amigos reais, Patrícia explica que é importante os pais destinarem um tempo para sentar em frente ao computador junto com os filhos, perguntar quem são os amigos virtuais e fazer uma busca para saber que tipo de comunidades as crianças e adolescentes estão participando. Além de tudo isso, é fundamental explicar aos filhos que nem sempre uma pessoa que divulga informações sobre si mesma na internet é realmente quem está dizendo ser. “É muito difícil saber se informações divulgadas são verdadeiras ou não. Quando um texto é colocado na internet, não temos como saber, por exemplo, se ele foi escrito por uma pessoa de 12 ou 30 anos”, lembra Patricia.
Desaparecimentos são raros
Fernanda Deslandes
Casos como o de Gabriele são raros: em cinco anos, o delegado titular do Núcleo de Investigação de Crimes Cibernéticos (Nuciber), Demetrius Gonzaga de Oliveira, lembra-se de ter investigado no máximo quatro situações semelhantes.
Ele recomenda mais informação por parte dos pais. “O seu filho no mundo virtual pode ter idade, imagem e comportamento diferentes. Os pais conhecem os filhos no mundo real, mas não no virtual”, ressalta.
O uso da internet para prática de delitos não está tipificado em lei. Ainda assim, foi criada, em Curitiba, a delegacia específica para a investigação dos cibercrimes. O Nuciber lavra, em média, 15 boletins de ocorrência por dia.
Em maioria, são delitos contra o patrimônio, como desvio de dinheiro de bancos ou vendas falsas através da internet. Oliveira explica que o computador é apenas uma ferramenta para o criminoso.
“O código penal descreve condutas, circunstâncias e resultados. Verificamos se a conduta da pessoa que usou o computador se encaixa em alguma tipificação penal”, afirma.
Os detidos geralmente respondem por falsidade ideológica (quando há objetivo de lucro), falsa identidade (quando a intenção é denegrir a imagem de alguém), ou estelionato.
De acordo com ele, o índice de acerto nas investigações está acima de 85%. “Fazemos a coleta de informações, a quebra de sigilo autorizada judicialmente, vítimas e suspeitos são rastreados e detectamos os criminosos”, revela.
Com cautela
Se um jovem quiser conhecer pessoalmente alguém com quem mantém contato pela internet, o encontro deve ser cercado de muitos cuidados. Eles devem ser orientados a avisar os pais, a marcar o encontro em local público e a nunca irem sozinhos.
Em relação a informações próprias divulgadas na internet, a advogada Patricia Pec,k orienta que deve haver cautela no fornecimento de endereço, telefone, nome dos pais e fotos ousadas ou sensuais.
“A pessoa nunca deve fornecer informações sobre sua rotina, como dizer que está sozinha em casa ou informar que horário sai para ir à escola”, recomenda. Dentro do movimento Criança Mais Segura na Internet, a advogada defende a inclusão da disciplina “Cidadania e Ética Digital” nos currículos escolares. “Não podemos proibir os jovens de utilizar a internet, mas podemos ensiná-los a utilizá-la de forma correta e segura”, diz. (CV)