Pagar contas e fazer transferências online tem virado rotina para muitos brasileiros que preferem a comodidade, praticidade e segurança da internet a ir pessoalmente ao banco e enfrentar filas, ficar restrito aos horários de funcionamento das agências ou correr o risco ter uma arma apontada para a cabeça no chamado crime “saidinha de banco”. Mas se a tecnologia está a nosso favor, os criminosos virtuais também se aproveitam dela e do vacilo de usuários que costumam ter senhas fracas, abrir e-mails que contêm vírus e acessar páginas falsas de banco. No ano passado, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) detectou uma redução no número de fraudes eletrônicas (6,7%), mas verificou um crescimento de 75% no número de tentativas de golpes pela internet.

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Segundo a instituição, hoje 24% das transações bancárias são realizadas online. E o número de pessoas que optam por usar o internet banking só tem crescido, como constatou a Pesquisa TIC Domicílios 2012, realizada pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC.br) entre outubro de 2012 e fevereiro de 2013. O estudo aponta que 22% dos usuários de internet entrevistados fizeram uso de serviços financeiros online, como consultas ou transações. Pode parecer pouco, mas em 2006, eles eram apenas 16%.

Especialistas afirmam que as instituições financeiras têm investido cada vez mais em segurança no acesso aos serviços. Mas a segurança não freia os ataques cibernéticos e o perigo dos crackers – os ladrões virtuais ou hackers do mal. Segundo o Núcleo de Combate aos Cibercrimes (Nuciber), de Curitiba, 383 boletins de ocorrência foram registrados na delegacia nos cinco primeiros meses do ano, por vítimas de fraude virtual. A maioria dos BOs é da capital, contra poucos do interior do Paraná. As estatísticas não especificam os casos de furto qualificado via internet banking (em que os crackers desviam dinheiro das contas) e englobam todas as ocorrências envolvendo crime contra o patrimônio, ou seja, de vítimas de estelionatários (que compraram pela internet e não receberam o produto) e furto qualificado.

Segurança

Para se esquivar dos crackers e não ver seu dinheiro desaparecer da conta é preciso tomar medidas preventivas, como aquelas recomendados pelo Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil (CERT.br), que lançou, no mês passado, o fascículo “Internet Banking” da Cartilha de Segurança para Internet (veja quadro com as dicas de segurança).

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“Existe todo um contexto que deve ser observado com cautela. Não adianta fazer uma senha difícil e acessar um link falso, por exemplo”, avalia o delegado Fernando Zanoni, do Nuciber.

Caso o usuário não tenha se precavido, deve ir até o Nuciber, de preferência, ou à delegacia mais próxima de casa para fazer boletim de ocorrência. Zanoni também recomenda que a vítima salve e imprima todos os registros utilizados para a transação – como troca de e-mails, boletos, etc. – para anexar ao BO. “A vítima também deve ir à agência onde tem conta e protocolar a reclamação com o gerente. A instituição deverá ressarci-la”, explicou. O telefone do Nuciber é o 3321-1900.

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Prejuízo virtual maior que o físico

Os crackers chegam a lucrar mais com ataques cibernéticos do que os próprios assaltantes “tradicionais”. Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), de cada R$ 100 roubados ou furtados de bancos no Brasil, pelo menos R$ 95 são provenientes de fraudes eletrônicas. Só no ano passado, os criminosos virtuais – que têm bom conhecimento de computação e são basicamente de classe média – deram um prejuízo de R$ 1,4 bilhão aos bancos através de golpes em canais eletrônicos (telefone, internet, mobile banking, caixas eletr&ocir,c;nicos, cartões de crédito e de débito), um recuo de 6,7% em relação a 2011. Em contrapartida, os assaltos feitos por quadrilhas em agências bancárias, incluindo as explosões de caixas eletrônicos, causaram um rombo de R$ 75 milhões a instituições financeiras.

A Febraban avalia que dois fatores impulsionaram a ligeira queda no prejuízo: o crescente número de abertura de contas e operações bancárias e o aumento de 75% do número de tentativa de golpes pela internet, o que mostra que os mecanismos de segurança dos bancos estão funcionado. Só em 2011, o setor investiu R$ 1,8 bilhão em infraestrutura, recursos tecnológicos e humanos para evitar possíveis tentativas de fraude e garantir a confidencialidade dos dados dos clientes. Apesar de expressivo, o número de fraudes, segundo a Febraban, representa menos que 0,007% das transações bancárias.

Em 2005, quando o Nuciber foi criado, ocorriam em média de 10 a 15 furtos por dia. Hoje, o número é 15% menor e se refere mais a transações mal sucedidas (quando a pessoa compra e não recebe a mercadoria).

Furtar senha é mais fácil que invadir sistema

Dificilmente os criminosos virtuais atacam diretamente os sistemas internos de banco, segundo Cesar Faustino, coordenador da subcomissão de prevenção a fraudes eletrônicas da Federação Brasileira dos Bancos. O crime acontece externamente, como captura de dados de cartões nas operações de compras e obtenção de credenciais junto aos clientes para acessar o internet banking.

Isso porque, de acordo com a analista de segurança do Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil (CERT.br), Miriam Von Zuben, não é tarefa simples fraudar dados do servidor de uma instituição bancária ou comercial. Os golpistas procuram, então, enganar e persuadir vítimas a fornecer informações sigilosas.

Uma das táticas dos crackers é fazer com que o usuário acesse páginas falsas, o chamado “phishing”. Por isso, não se engane quando receber algum e-mail pedindo atualização de cadastro e de cartão de senhas. Os bancos dificilmente enviam e-mails assim.

E os riscos para quem cai na armadilha dos ladrões virtuais vão além das perdas financeiras e da quebra de sigilo e podem causar muita dor de cabeça. O usuário pode ser acusado de participação em esquema de fraude se sua conta for usada para aplicar golpes.

Popularização do internet banking

Dos 22% de clientes bancários que fazem uso de serviços financeiros online, a maioria tem entre 25 e 59 anos, de acordo com a pesquisa do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC.br). O estudo mostra que o uso maior é entre aqueles com grau de instrução superior, com renda familiar maior que 5 salários mínimos e pertencentes à classe A e B.

Com o acesso à internet ampliado, a tendência é que mais pessoas optem pelo internet banking. “É uma mudança cultural. Hoje o sistema virtual está mais acessível, as facilidades são maiores, como a tecnologia móvel. Do ponto de vista de integridade física, é muito mais seguro. Hoje é intolerável sacar altos valores em agências. Em vez disso, dá para fazer transferências online”, comenta o delegado Fernando Zanoni, do Nuciber.

Arquivo
Prejuízo: R$ 75 mi em ataques físicos, contra R$ 1,4 bi virtuais.