O uruguaio Júlio Cesar Dutra Fonseca, 56 anos, foi preso em flagrante, na manhã de ontem, no terminal rodoviário de Londrina, carregando uma grande quantidade de medicamentos de procedência internacional, com referências à Argentina, Itália e Estados Unidos em suas embalagens. Inicialmente os remédios seriam anabolizantes utilizados em eqüinos, mas que estariam entrando no Brasil para serem vendidos a pessoas para uso próprio.
No mercado negro, um comprimido para ser usado como anabolizante humano pode custar até R$ 50. A Polícia Federal encaminhou os remédios ao seu setor técnico-científico que irá, num prazo máximo de dez dias, confirmar de que tipo de medicamento se tratam.
Segundo o delegado da Polícia Federal em Londrina, Pedro Paulo Figueiredo, Fonseca foi indiciado por descaminho – importação de produto de maneira irregular, ou seja, sem o pagamento de imposto. “Depois do laudo técnico, a acusação pode se transformar em contrabando, que é a importação de produto proibido no Brasil”, explicou.
Figueiredo revelou que em seu depoimento o uruguaio afirmou que não sabia do mal que os medicamentos poderiam fazer, achando que eram apenas remédios para cavalo. A prisão dele aconteceu por volta de 5h30, quando policiais militares faziam revistas de rotina nas bagagens dos passageiros. Fonseca estava num ônibus da Viação Garcia, vindo de Foz do Iguaçu, cidade onde mora com uma brasileira. “Ele contou que recebeu R$ 250 de um argentino chamado Marcelo, que mora em Puerto Iguazu, para trazer os medicamentos até Londrina”, contou o delegado. Conforme Fonseca, um homem que sabia como ele estaria vestido iria esperá-lo na rodoviária para receber os medicamentos.
Entre os produtos apreendidos estão 3.300 ampolas de Winstrol Depot 1 ml/50 mg, 1 mil ampolas de Stanolozol 2 ml/100 mg, 200 ampolas de Parabolan 1,5 ml/76 mg, 50 ampolas de Primobolan depot 1 ml/100 mg, 600 cartelas de Methandrostenolone com 20 comprimidos cada, 239 cartelas de Stanozolol com 15 comprimidos cada, 200 frascos de Winstrol 30 ml/50 mg, uma cartela de Clenbuterol e uma ampola de Sustanon.
Preocupação
Por proposição do deputado estadual Carlos Simões (PTB), está sendo discutido na Assembléia Legislativa do Paraná um projeto que exige a presença de um médico veterinário em casas agropecuárias e similares. O veterinário faria o acompanhamento para que sejam diagnosticadas as doenças e prescritos os medicamentos corretos. Além disso, a presença do profissional inibiria um grande problema que acontece atualmente, que é a venda de produtos que tragam risco à saúde humana, como hormônios, inseticidas, anabolizantes, tranqüilizantes, antibióticos, endoparasiticidas, ectoparasiticidas e anestésicos. Atualmente, esses produtos podem ser comprados sem receita médica.
Uso maltrata rins e pode causar câncer
A morte do jovem Jackson Vieira de Souza, de 21 anos, na semana passada, em Brasília, por uso de anabolizantes para animais traz à tona um alerta às pessoas que querem um corpo musculoso. O anabolizante, de qualquer tipo, não é aconselhável por médicos e professores de Educação Física. Entre as possíveis conseqüências do uso estão a insuficiência renal e o câncer de fígado e de próstata.
A vítima morreu devido às falências do coração, fígado, rins e pulmões. O médico Adriano Karpstein, especialista em medicina esportiva, conta que os anabolizantes são hormônios muitas vezes utilizados por atletas ou freqüentadores de academias com o objetivo de ganhar massa muscular. “Na verdade, a pessoa não ganha massa. Os músculos apenas incham com a retenção de água e nitrogênio”, afirma. A aplicação de anabolizantes pode causar queda de cabelo, acne, pele oleosa, impotência, atrofia dos testículos, insônia, aparecimento de características masculinas (como pêlos) na mulher, insuficiência renal, câncer de fígado e de próstata.
O professor do curso de Educação Física da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Sérgio Dal-Ri Moreira, explica que os anabolizantes só são receitados para alguns tratamentos médicos, como problemas de crescimento e distúrbios hormonais, exigindo acompanhamento de profissionais especializados. Fora isso, a aplicação das substâncias é proibida.
O órgão responsável por todo o processo de assimilação dos hormônios é o fígado, que acaba trabalhando dobrado. “As pessoas precisam saber que a atividade física é necessária para tentar se obter um efeito desejado. Mesmo assim, o interessado tem que colocar na balança e pesar os prós e contras em consumir este tipo de produto”, comenta Moreira. Segundo ele, com o tempo, o fígado não consegue mais processar o hormônio e o corpo não reage mais aos anabolizantes.
Segundo o professor, a procura por anabolizantes está crescendo, principalmente com a proliferação de academias. “Estudos americanos indicam que 10% dos freqüentadores de academias utilizam ou já utilizaram anabolizantes. É um número muito alto”, considera. Moreira acredita que o uso de hormônios esteja ligado com algumas síndromes ligadas com o aspecto estético imposto pela sociedade: “As mulheres precisam ser magras ao extremo e os homens têm que apresentar músculos bem desenvolvidos. Por isso, a maioria dos consumidores é do sexo masculino.
Idoneidade
Para Karpstein, as pessoas conseguem o anabolizante, na maioria das vezes, em farmácias não idôneas, em contrabandos ou em lojas de produtos veterinários. De acordo com ele, provavelmente o que aconteceu com o jovem em Brasília foi a superdosagem de anabolizantes. Os hormônios para uso veterinário, utilizados pela vítima, têm como função a engorda rápida dos animais, que são muito mais pesados que os humanos e possuem um organismo diferente. “O nosso corpo produz esses hormônios, mas em quantidades bem pequenas. Quando as pessoas compram, eles vêm com uma quantidade bem maior.
Para aqueles que querem músculos definidos, o professor Moreira orienta uma alimentação saudável e a prática correta de exercícios físicos. “Se quiser algum complemento, é aconselhável procurar um nutricionista esportivo e obter o máximo de informações que puder”, conclui. (Joyce Carvalho)