Uma história de dor em Quatro Barras

A ação de um monstro? O barbarismo de um ritual de magia? Um acesso de maldade ou um crime frio e calculado? Ou ainda, quem sabe, um pouco de cada um destes ingredientes misturados no caldeirão da insanidade e o resultado foi o assassinato cruel da pequena Giovanna dos Reis Costa, uma das centenas de crianças que aguardavam com alegria a Páscoa de 2006, em Quatro Barras. Até então, o município era conhecido por abrigar o Morro do Anhangava e a Estrada da Graciosa . Hoje pode estar  abrigando um matador de crianças. Transcorridos dois anos, há quatro acusados pelo crime,  membros de uma família cigana. Mas não há  prova material que os incrimine. Eles aguardam decisão da Justiça para saber se serão ou não levados a júri popular. A promotoria os culpa. A defesa garante que são inocentes e que o assassino ainda está solto. A Tribuna foi  fundo no intrincado caso, descobriu novos detalhes do crime s e outros suspeitos que tiveram contato com a  menina.  O interesse é que o o verdadeiro assassino (ou assasinos) seja punido como merece. A partir de hoje e até a edição de domingo, o leitor conhecerá os meandros do Caso Giovanna, um crime que abalou o Paraná.

Ansiosa para ganhar uma cesta recheada de chocolates – prêmio prometido para o aluno que vendesse mais rifas – a pequena Giovanna não perdeu tempo. Na segunda-feira que antecedia o domingo de Páscoa, chegou da escola, almoçou e ainda de uniforme foi comprar iogurte para a irmã em um mercadinho próximo de casa. No caminho, com seu jeito meigo e falante, ofereceu rifas aos vizinhos. O pai passou por ela de carro e acenou, rumo ao trabalho, sem imaginar que não voltaria a ver a filha com vida. Era o último adeus.

Depois da compra, a menina voltou para casa, trocou de roupa, apanhou o bloco de rifas do irmão e saiu novamente, para vendê-lo. Estava decidida a ganhar a cesta de Páscoa e passou a percorrer a rua paralela à de sua casa. Foi vista por moradores por volta das 16h30 e depois desapareceu, misteriosamente. Este é o resumo do último dia de vida de Giovanna dos Reis Costa, a menininha de 9 anos, cujo assassinato – praticado com requintes de crueldade – revoltou e comoveu o município de Quatro Barras, há dois anos.

Naquela mesma noite de 10 de abril, os pais, os amigos e os vizinhos iniciaram uma maratona, em busca da criança. No dia seguinte, policiais do Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride) e da delegacia da cidade, registraram a ocorrência e partiram para o ataque. A meta era localizar a criança. Cartazes com a foto dela foram espalhados pela região. Toda informação que chegava era checada.

O encontro

No começo da tarde de quarta-feira, já dia 12, enquanto a polícia e a família davam prosseguimento às buscas, o taxista Edson Takahiro Suzuki, morador da Rua José Rodrigues Fortes, acometido por uma forte dor de estômago, resolveu apanhar folhas de boldo no terreno baldio, ao lado de sua casa, para fazer um chá. No carreiro até o pé de boldo, viu um saco de acondicionar lixo, de cor azul, colocado logo após um morrinho. Achou estranho, aproximou-se e imediatamente percebeu que o que estava embalado era algo parecido com um corpo. Como sabia do desaparecimento de Giovanna, correu para casa e em lágrimas, contou para a mulher, que chamou a polícia. O taxista estava certo.

Policiais militares em ronda, chegaram rapidamente e abriram com cuidado, um pedacinho do plástico, confirmando a tragédia. Delegados, peritos, policiais civis foram chamados e realizaram a primeira perícia. Decretado o fim das buscas, foi dado início à dura missão de encontrar o culpado (ou culpados) pelo brutal crime.

O corpo estava nu, em posição fetal, amarrado por restos de fio de luz, remendados. A vagina estava lacerada, indicando violência sexual. Não havia sangue no saco de lixo; os cabelos estavam úmidos e os dedos enrugados: a menina fora morta e depois minuciosamente lavada.

Ao lado do corpo, a polícia encontrou a primeira, ou talvez, a única pista que pudesse levar a autor do crime: uma carteira de cigarros da marca Marlboro Light. O dono só havia fumado cinco deles. É possível que tenha caído do bolso no momento em que depositava o corpo no mato. Mas os peritos não conseguiram encontrar digitais nela nem no saco de lixo que serviu de primeiro sepulcro para Giovanna.

A notícia do encontro do corpo espalhou-se como rastilho de pólvora. O pai, que fazia buscas na região, passou por ali e ficou em choque; a mãe, levada ao local, foi acolhida pelos vizinhos. Mal se mantinha em pé. Dezenas de pessoas acompanharam o trabalho da polícia. Gritos, choro, e o desespero de quem havia passado a madrugada procurando pela criança. O mato onde Giovanna foi deixada havia sido vasculhado pelos vizinhos na noite anterior.

Quem seria capaz de tamanha crueldade? Por que fizeram isso? Eram perguntas feitas naquele dia e que até hoje esperam por uma resposta.

Amanhã, no segundo capítulo da Tribuna na Justiça, o leitor conhecerá as dificuldades do pai para registrar queixa do desaparecimento de Giovanna, a mobilização da comunidade e o ?quadrilátero do crime?.

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