Mirian reconheceu Choma como sendo o assassino, mas depois voltou atrás.
Choma foi libertado e desapareceu. (Fotos: Arquivo)
Luiz Carlos Choma merece um capítulo à parte. Nascido em 15 de agosto de 1972, em Imbituva (PR), era um garoto franzino, de olhos claros e cabelos lisos, repartidos ao meio. Filho de família pobre, quando arrumava trabalho no reflorestamento de pinus, ganhava algum dinheiro. Mas também se envolvia em furtos, roubo de carros e outros delitos.
O retrato falado feito por Mirian no Instituto de Criminalística era semelhante a ele. Enquanto os delegados do Cope e de Ponta Grossa seguiam com suas investigações, o delegado Daniel Issberner, da Divisão de Polícia Especializada, focou as diligências no garoto e o prendeu, graças a outro menor, que denunciou seu paradeiro.
Três meses após a chacina, os jornais deram como manchete a prisão de um dos envolvidos no caso. Choma confessou sua participação e apontou Mauri Alves dos Santos e Flávio Antônio Araújo, o ?Negão?, como comparsas.
Durante o interrogatório, contou que fazia parte da gangue de Mauri, um bandido sanguinário que há tempos vinha aterrorizando a região de Ponta Grossa. Mauri era cruel com suas vítimas e dono de um considerável rol de acusações. Consta que matou um cantor sertanejo, a pedradas, deixando a cabeça da vítima dilacerada. Em outra ocasião, teria matado uma anciã que caminhava pela linha férrea, só para treinar a pontaria da arma que havia recém-roubado. Segundo Choma, Mauri é quem havia planejado o roubo ao Sítio Sete Quedas.
Eles teriam saído de Ponta Grossa e caminhado pelo mato, um dia antes, até chegar na ponte do Rio Pitangui, próximo do sítio. Passaram a noite ali, assando lingüiças numa fogueira, comendo-as com farinha e tomando cachaça. No dia seguinte, ele foi ao sítio pedir trabalho. Rendeu Mirian e Dirk e possibilitou a entrada dos cúmplices, que reviraram a casa em busca de valores e depois espancaram os reféns. Mirian nunca se lembrou de Mauri ou de ?Negão?. Sempre, em seus depoimentos, sustentou a versão de que viu apenas um sujeito e ela mesmo reconheceu Choma em duas ocasiões, afirmando – conforme consta no inquérito policial – ter reconhecido inclusive sua voz.
Um ano e quatro meses depois da chacina, Mirian e o sogro, Adrianus, ficaram frente a frente com Choma. Desta vez Mirian afirmou que não tinha certeza que Choma foi o autor. ?Ele está diferente?, afirmou. Adrianus, amparado por sua amnésia, disse não o conhecer.
Depois disso, Choma mudou sua versão uma vez, afirmando que entrou no sítio depois de Mauri e de ?Negão?. Deu detalhes do que aconteceu dentro da casa, revelando inclusive que cheirou tinner, bebeu bastante e vomitou no pé de uma árvore plantada no jardim. Mais tarde, mudou a versão novamente e passou a negar o crime. Disse que foi torturado para confessar e apontar os dois outros indivíduos citados. Nada contra ele foi provado e seu advogado, Édson Stadler, conseguiu libertá-lo.
Mauri, meses depois, foi morto numa troca de tiros com policiais de Ponta Grossa e ?Negão? não foi mais localizado.
Mirian Delfrásio Boer, pode-se dizer, ?comeu o pão que o diabo amassou?, com toda a história. Além de perder o marido e o filho, meses depois do episódio passou a figurar até como suspeita. Suas informações contraditórias e a repulsa em continuar prestando declarações a colocaram no ?olho do furacão?. Por ser uma jovem muito bonita e não pertencer à colônia holandesa, ela era discriminada. Trabalhou numa lanchonete em Carambeí e teve alguns namorados. Conheceu Dirk e foi trabalhar na Cooperativa Batavo.
Ele se apaixonou por ela e se casaram, contrariando a vontade dos pais dele. No entanto, com o passar do tempo, Mirian demonstrou ser uma ótima dona de casa. Trabalhava muito com o marido e cuidava bem do sítio e do filho, o que fez com que Adrianus e Mariana passassem a aceitá-la.
A beleza de Mirian também foi sua inimiga. Como ela quase foi violentada durante o ataque ao sítio – ela revela em depoimento que o marginal a levou para o quarto, pensando em manter relacionamento sexual, mas que conseguiu dissuadí-lo dizendo estar grávida e correndo o risco de perder o bebê -, passaram a dizer que ela teria ?facilitado? a entrada do assassino e até que estaria ?encobrindo? alguém ao dificultar o trabalho policial. Especularam, inclusive, um romance entre ela e o sogro. Em junho de 1990 teve a prisão preventiva decretada pelo juiz Luiz Zarpelon, de Ponta Grossa, sob a acusação de obstruir o trabalho da polícia, já que não queria mais se submeter aos constantes interrogatórios. A prisão foi solicitada pelo promotor Célso Carneiro do Amaral, que então acompanhava o caso, em substituição ao promotor Altair Pissaia. Ela ficou recolhida alguns dias numa das celas do Cope.
O advogado de Mirian, Alcides Bitencourt Pereira, considerou a prisão arbitrária e injusta. Posteriormente ele conseguiu revogá-la. Mas não em tempo hábil para impedir mais um trauma na vida da jovem. Provavelmente esta ação da polícia e da Justiça martirizou Mirian a ponto de nunca mais ela querer falar no assunto.
*A imprensa cobriu o caso com dificuldades. Amanhã, dois repórteres da época revelarão suas opiniões sobre o que foi a ?chacina de Carambeí?.