Há tempos, a truculência da Polícia Militar chega ao conhecimento público. Depois de mais um episódio, envolvendo a execução de um agricultor em Colombo, ocorrida no último domingo, o governador Roberto Requião admitiu que a corporação está ?passando dos limites?. Ontem, durante a reunião semanal do secretariado, em Curitiba, ele declarou publicamente que não irá mais aceitar o embrutecimento da corporação e que vai exigir uma postura duríssima com aqueles que cometerem abusos. Em situações anteriores, o governador já tinha exigido mais rigor na punição dos policiais, o que parece não ter surtido efeito, uma vez que as ações violentas continuam acontecendo.
No último domingo, o plantador de mudas Deiviti Maicon dos Santos, 19 anos, deixou a Festa do Vinho na garupa da motocicleta de um primo. Eles andavam por uma rua de chão quando Deiviti foi baleado na cabeça e o primo dele de raspão no braço. O agricultor morreu na hora. A polícia alegou que Deiviti atirou primeiro, mas essa não é a versão contada pelo primo dele, que garantiu que os policiais sequer deram voz de abordagem. Nenhum dos rapazes estaria armado.
Somente em fevereiro deste ano aconteceram pelo menos duas execuções parecidas com a de Deiviti. Nos dois casos, os PMs envolvidos alegam que foram surpreendidos a tiros e que mataram as vítimas no revide.
Édson Elias dos Santos, 28 anos, foi atingido por seis tiros, no Largo da Ordem, em Curitiba. A versão dos policiais do 12.º Batalhão de Polícia Militar é de que a vítima, ao ser abordada, atirou contra os policiais. Mais uma vez, testemunhas afirmaram que Édson não estava armado.
O segundo caso aconteceu dias depois. Felipe Osvaldo da Guarda dos Santos, 19, foi fuzilado dentro do carro de sua mãe, no Umbará, também na capital. A Polícia Militar alega que o rapaz reagiu a tiros à abordagem. Na ocorrência registrada na PM, consta que os policiais viram um carro, com alerta de roubo, e ao abordá-lo o condutor apontou um revólver calibre 38, dando início ao confronto. O detalhe é que o veículo era o Gol, ano 99, quatro portas, placa ATK-3856, que pertence à mãe de Felipe e não estava com alerta de roubo. Uma garota, de 15 anos, contou que viu o momento da abordagem. ?O Felipe estava dentro do carro. Os policiais da viatura 5784 da Rotam chegaram e o abordaram. Ele colocou as mãos na cabeça e, mesmo assim, encheram o Felipe de tiros?, relatou a garota.
O que aconteceu?
Para apurar a truculência nas ações foram instaurados inquéritos policiais militares, entretanto, não se sabe qual o desfecho das ações. A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) não soube dizer se os policiais envolvidos nestes dois casos foram afastados ou não. O órgão informou que está sendo feito um relatório para apurar todos os casos envolvendo PMs, mas não informou se esse documento será divulgado ao público.