Um cenário de caos e tragédia marcou o show das bandas Raimundos, Natiruts, Tihuana e Charlie Brown Jr., sábado à noite, no Jockey Club do Paraná, Tarumã. O local foi alugado por uma empresa promotora de eventos, responsável pela realização do show de rock. Três adolescentes morreram pisoteados e pelo menos 40 pessoas ficaram feridas, 12 delas em estado grave, em um enorme tumulto na entrada do clube, supostamente provocado pela tentativa dos fãs de ultrapassar os portões de acesso após o início do espetáculo. Os organizadores não foram localizados pela polícia, mas um deles teve a prisão temporária solicitada pela Delegacia de Homicídios e decretada pela Justiça na noite de ontem.
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Os portões de acesso ao Jockey abriram às 19h. Mas, devido ao grande afluxo de público (a estimativa era de 30 mil pessoas), ainda havia filas de cerca de um quilômetro às 21h20, quando a banda Raimundos começou a tocar. Muita gente com ingresso em mãos forçou a entrada, dando início a um tumulto generalizado. Fãs foram espremidos contra os portões de acesso, bloqueados pela segurança particular do evento quando a casa lotou. Jovens caíram uns sobre os outros, atropelados pelos que vinham de trás. Os estudantes Larissa Cervi Seletti, 15 anos, moradora em Santa Felicidade, e Jonathan Raul dos Santos, da mesma idade, morador em Fazenda Rio Grande, morreram no local, pisoteados. Mariá de Andrade Souza, 14 anos, foi levada pelo Siate ao Hospital Cajuru, onde chegou sem vida.
Sem interrupção
A Polícia Militar foi acionada e deslocou um efetivo de 100 policiais para ajudar a socorrer as vítimas, isolar as áreas de acesso e conter os mais exaltados, que ainda forçavam a entrada no clube. Cerca de 10 viaturas do Siate realizaram o transporte dos feridos: 13 ao Hospital Cajuru, além de Mariá; 11 ao Evangélico e 2 ao Trabalhador. Vários conflitos menores eclodiram perto do estabelecimento – um rapaz foi baleado de raspão no ouvido na Avenida Victor Ferreira do Amaral e outro levou uma garrafada, em tentativa de assalto.
Enquanto isso, do lado de dentro, o show continuava sem que os presentes se dessem conta da dimensão da tragédia. “Se fosse encerrado, teríamos novo tumulto. Mas houve cenas lamentáveis, como a de pessoas dançando ao lado de outras em óbito”, relatou o major Roberson Luiz Bondaruk, chefe da sala de imprensa da Polícia Militar. Integrantes da banda Raimundos confirmaram a investigadores da Delegacia de Homicídios que pretendiam parar de tocar, mas foram orientados a prosseguir.
Segundo o major, a empresa responsável pela organização não solicitou policiamento preventivo – havia somente seguranças particulares. “Em shows dessa envergadura, é praxe a PM ser comunicada até duas semanas antes para organizar a segurança externa. Desta vez, sequer fomos avisados”, afirmou. A PM registrou tumultos nos terminais urbanos do Cabral e Campina do Siqueira antes do evento – originados, segundo Bondaruk, pela escassez de ônibus. “O sistema de transporte coletivo também não foi comunicado”, afirmou.
Negligência
O delegado-geral da Polícia Civil, Adauto Abreu de Oliveira, acompanhou ontem de manhã as primeiras investigações da DH. Ele considera evidentes a negligência e imprudência dos responsáveis pelo show. “Houve total ausência de segurança, o que pôs em risco a vida das pessoas. A Polícia Civil vai chamar os responsáveis pelo evento, que serão indiciados por homicídio culposo (sem intenção de matar)”, afirmou.
De acordo com a DH, dois sócios de uma promotora de eventos seriam os responsáveis pela organização do show. O alvará emitido pelo 6.º Distrito Policial, autorizando a realização do espetáculo, foi assinado em favor de Athayde de Oliveira Neto, 23 anos, que teve a prisão temporária solicitada pelo delegado Rinaldo Ivanike. O outro sócio não havia sido oficialmente identificado até o início da tarde de ontem. “O documento diz que a previsão de público era de apenas 5 mil pessoas, haveria 300 seguranças e a Polícia Militar seria notificada. Nada disso foi confirmado”, disse o superintendente da DH, Neimir Cristóvão.
Em entrevista à Rádio Clube, ontem de manhã, o presidente do Jockey Club, secretário de Estado da Indústria, Comércio e Assuntos do Mercosul, Luís Guilherme Mussi, isentou de responsabilidade o Jockey Club. De acordo com o secretário, a entidade apenas locou o espaço à empresa responsável pelo evento. Mussi levantou também a suspeita de que cerca de 10 mil ingressos tenham sido falsificados. Algumas das pessoas hospitalizadas estavam com bilhetes de entrada, recolhidos pela polícia para serem periciados.
A DH foi designada pelo delegada Adauto a prosseguir com as investigações. Como triste e irônico detalhe, a campanha publicitária do show o anunciava com a frase “Unidos pela Paz”.
Relação dos feridos
Diante da grande procura por informações – de parentes e amigos de pessoas que pretendiam ir ao show – a Polícia Militar divulgou ontem pela manhã a relação com os nomes dos adolescentes feridos que foram socorridos pelo Siate e encaminhados para os hospitais da cidade. Alguns deles estavam em estado grave e outros foram medicados e liberados. Muitos feridos não chegaram a receber atendimento médico e retornaram para suas casas onde as famílias trataram de atendê-los.
Os feridos socorridos pelo Siate, segundo a PM são:
Edilaine Rodrigues dos Santos, 19 anos; Jean Rodrigo de Oliveira, 19; Rúbia Mara Silva Rodrigues, 15; Ana Paula Crisa dos Santos, 14; Tatiane Pacheco Prado, 17; Kelly Fernanda da Silva, 14; Diego Costa Santos, 17; Carla Ashoslz, 21; Nívia Aparecida Almeida, 12; Júnior Ongaro, 22; Maria dos Santos, 17; Rodrigo Richard de Brito, 25; Debora Lipemann Correia; Rosealva Fátima Guimarães, 16; Renato Antoniesciski, 21; Vania Passoni, 22; Jonathan Alisson de Quadros, 19; Valeska Carvalho, 15; Desireé Batista Garcia da Silva, 15; Naiara Maria de Oliveira,17; Priscila Teixeira; Joice Aparecida; Ivan Chamord; Michel dos Santos Tinin; Andressa Cristiane; Daiana Maria de Oliveira; Dulcicléia Barbosa.
*Link inserido na matéria em 30/05/2017.