Policial morre baleado. Mulheres podem ter entregue armas aos bandidos. Um preso de “confiança” ficou ferido. (Fotos: Átila Alberti e Alberto Melnechuky)

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Uma seqüência de irregularidades resultou em tiroteio, fuga e morte na delegacia de Almirante Tamandaré, no final da noite de terça-feira. O investigador Rommel do Brasil Prudente Lima, 57 anos, levou quatro tiros e morreu no momento em que recolhia três presos que havia retirado da cela, sem autorização, para um encontro amoroso com cinco mulheres que estavam na delegacia.

 Alertados por vizinhos que ouviram o barulho, policiais militares chegaram pouco depois, ainda a tempo de trocar tiros com os presos Edemilson da Silva e Adalberto Ferreira Correia, que tentavam abrir as celas para que outros escapassem.

Ambos foram baleados e morreram a caminho do Hospital Cajuru. O detento Claudinei do Rocio Lourenço de Oliveira, apontado como o mentor do plano, conseguiu escapar.

Três revólveres calibre 38 foram apreendidos no local, mas a polícia não soube explicar como as armas chegaram aos detentos. Suspeita-se que tenham sido levadas pelas mulheres.

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Sabrina Subtil, 20 anos, que seria namorada de Claudinei e participou da trama, está presa. Ela sabia do plano e revelou à polícia que iria receber dinheiro e um quilo de cocaína para ajudar os detentos a escaparem. Disse que entrou na delegacia com uma adolescente. As outras quatro mulheres foram interrogadas e liberadas.

Confiança

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Um homem, cujo nome também não foi divulgado, recebeu um tiro no braço. Foi medicado no local pelo Siate. Ele se recusou a dar qualquer explicação, avisando que quem poderia falar por ele era o superintendente da delegacia, Marco Aurélio Furtado.

Alguns curiosos asseguraram que se tratava do “preso de confiança”, que costumava ficar fora da cela, para fazer a limpeza da delegacia. Esta informação foi confirmada horas depois pelo delegado Miguel Stadler, do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), responsável pela investigação do caso. Rommel foi rendido ao levar o trio de volta para a cela. Baleado, correu na tentativa de escapar, mas foi novamente atingido. Ao todo, recebeu quatro tiros.

Os detentos mortos estavam recolhidos por porte ilegal de arma, receptação e tráfico de drogas. A fuga foi planejada, contando com a facilidade que os presos tinham em receber visitas íntimas, mesmo sendo isso proibido.

As delegacias da região metropolitana e algumas da capital ficam fechadas à noite e não atendem sequer vítimas que as procurem, porque não há segurança e fica somente um plantonista para cuidar do prédio ou de presos.

Pizza

Após o tiroteio, várias denúncias chegaram à polícia dando conta de que visitas noturnas acontecem freqüentemente na delegacia de Almirante Tamandaré. As informações são de que o plantonista, que fica sozinho durante a noite, recebia propina para permitir a entrada de mulheres.

O delegado Miguel Stadler também confirmou a ocorrência de visitas irregulares e enfatizou que isso pode ter contribuído para o crime. “Pelo que foi apurado, nem sempre eram feitas revistas nos visitantes”, acrescentou o delegado. Ainda de acordo com as denúncias, com freqüência os presos promoviam festas na delegacia, regadas a cerveja, pizza e com música sertaneja.

Sete detentos foram isolados e surgiram comentários de que fariam parte de uma facção criminosa. Porém, a polícia suspeita que os próprios presos criam esses boatos para impor respeito entre os demais. “Não acredito que haja alguém de alguma facção naquela delegacia”, disse o delegado Stadler.