Treinamento do COE prevê tomada de avião e operações com helicóptero

As forças já estão no limite. Quilos mais magros – denunciados pelos cintos das fardas cada vez mais apertados -, os 13 ?sobreviventes? do curso do Comando e Operações Especiais (COE), que permite fazer parte do batalhão de elite da Polícia Militar, já suspiram pelos cantos em busca de uma resposta: ?Quando vai acabar?? Não se sabe. O curso, um dos mais importantes da polícia brasileira, requer, entre outras coisas, paciência e superação. Iniciado em 17 de abril, está na reta final, mas o dia da formatura ainda é uma incógnita. Somente os instrutores sabem a data e o segredo é guardado a ?sete chaves?.

Também não se sabe se todos conseguirão se formar. Depois de superar árduas provas, passando fome, frio, sede e sono – que lhes valeu a perda conjunta de quase 100 quilos -, além de sofrer pressões psicológicas e saudade da família (estão em regime de internato no quartel), os alunos ainda precisam conseguir aprovação em matérias teóricas. Quanto à prática, nem se fala. Um tiro errado, um movimento inesperado ou um erro de cálculo podem colocar por água abaixo todo o esforço despendido até agora.

A tônica da semana passada foram os exercícios de tiro com diversos tipos de armas e em diversas situações. Inclusive o treinamento para ?sniper? ou atirador de precisão. No estande de tiros – ao ar livre – da Academia Policial Militar do Guatupê, em São José dos Pinhais, o grupo recebeu preciosas informações de como utilizar armamento pesado (e põe pesado nisso, um fuzil descarregado chega a pesar 6 quilos) e avançar por barricadas até o local ?de risco?.

Numa fria noite, outra ação aconteceu no Aeroporto Internacional Afonso Pena, também em São José dos Pinhais. A missão era invadir um avião, supostamente tomado por seqüestradores.

Helicóptero

Por fim, o grupo aprendeu outro exercício – este de grande risco. Os superpoliciais desceram de rapel (cordas) de um helicóptero, para simular uma infiltração rápida.

O detalhe é que não usariam ganchos ou presilhas no chamado ?fast hope? (corda rápida). Tiveram que garantir a descida de 20 metros, com a aeronave balançando ao vento, com a força das mãos. Também desceram em duplas, já usando ganchos, num espetáculo emocionante de rapidez e habilidade (esta recém-adquirida, pois haviam tido aulas de rapel na semana anterior). Com fuzis, praticaram tiro embarcado para apoio de fogo, mirando alvos de papelão, sinalizados por balões. Eles tinham que acertar os balões, atirando dependurados no helicóptero. Com certeza, não é missão para qualquer um.

Para encerrar a semana, passaram pelo teste chamado Fuga e Evasão. Apenas de calção e camiseta, sem dinheiro ou identificação, foram deixados espalhados em uma estrada vicinal a 15 quilômetros de Tijucas do Sul, à meia-noite de sexta-feira. A missão era chegar juntos no quartel do Comando Geral até a manhã de sábado. Os termômetros marcavam 3 graus e eles não sabiam onde estavam. Só conseguiram se reunir quando amanheceu.

A partir de então, pegando caronas, conseguiram retornar. Às 9h30 batiam continência ao instrutor, exaustos, mas com o objetivo atingido.

Preparo também contra ações terroristas

Vistoria completa para saber por onde surpreender terrorista.

Não é comum, no Brasil, o seqüestro de aviões. No entanto, com o avanço do crime organizado, a polícia precisa estar preparada para tudo. E, diante desta necessidade, os alunos do COE também tiveram aulas da disciplina Tomada de Aeronave. Um Air Bus da Tam, de 156 lugares, parado no Aeroporto Afonso Pena para manutenção e limpeza, foi o palco da aula, na noite de quarta-feira. O exercício já começou próximo à meia-noite, quando foi autorizado à tropa o acesso ao avião. Sob a orientação do tenente Valin – coordenador do curso – e de dois técnicos de manutenção da Tam – Adilson e Barbosa – especialistas em aeronaves, a aula começou do lado de fora, com minuciosa vistoria nos equipamentos da cauda ao nariz. E uma revelação: a famosa caixa preta dos aviões não é preta, é laranja. Isso para que seja melhor visualizada em caso de acidente (de acordo com convenção internacional).

Espremidos

Até dentro do compartimento de cargas os 13 alunos se espremeram – entre armas, escudos e capacetes – para ouvir explicações de como é possível entrar no avião sem que seja pelas portas convencionais. Um trabalho, no mínimo, complicado. Os detalhes não serão revelados por questão de segurança.

?Precisamos descobrir os pontos-chaves de acesso à aeronave. Portas são só para passageiros?, salientava o instrutor, explicando inclusive a necessidade de um tipo especial de munição para o armamento, em caso de invasão para dominar seqüestrador, tornando mínimos os riscos de atingir os passageiros. Já dentro do Air Bus, entre macias poltronas e apertado espaço, eles simularam uma revista em toda a aeronave. Na primeira, levaram um minuto e meio. O instrutor alertou: ?É muito tempo para o criminoso pensar no que vai fazer?. Alguns treinos a mais e o tempo baixou para 30 segundos. Antes de saírem, uma última recomendação de Valin: ?Esta é uma situação muito arriscada, temos sempre que pensar em minimizá-la. Precisamos contar com coletes balísticos, capacetes, armamento e também muita sorte?.

Com balas de verdade

Com voz firme, o tenente Púglia – professor da Academia Policial Militar do Guatupê e instrutor do COE, de onde foi comandante por 6 anos – explica o funcionamento das diferentes armas usadas na sua disciplina. Mostra técnicas de avanço e recuo em locais de tiroteio e salienta: ?Aqui não pode errar. Usamos munição de verdade no treino?. Caso o policial vacile no trajeto combinado, pode ser ferido pelo colega. A tensão é tanta, que o suor escorre por baixo da farda. O esforço físico também é enorme.

Os fuzis são emprestados do Exército, que colabora com o treinamento por possuir mais armamentos para esta finalidade. As armas da PM são poupadas para as ações táticas verdadeiras. Afinal, só bandido consegue armamento bom e em quantidade. Os policiais, infelizmente, precisam economizar o que têm disponível, para não ficar sem, em momento de necessidade.

Tudo acontece, como sempre, muito rápido. Aula teórica, prática e a prova final. Acertar alvos com as diferentes armas (carabina, fuzil, submetralhadora, pistola e revólver) e munições, a 20 e 40 metros de distância, em pé, ajoelhado e deitado. Depois a correria de avanço e recuo. O cheiro de pólvora fica no ar. O instrutor marca os pontos, dá notas, analisa e acima de tudo explica detalhes que poderão ser fundamentais em uma ação de verdade. Sargento Damasceno, o monitor, observa posicionamentos, dá dicas, relembra normas de segurança e exige mais exercícios. No final das contas, até quem está só olhando se sente cansado.

Perto do fim

Apesar de o curso já estar próximo do fim, ainda estão reservadas muitas emoções e sacrifícios aos alunos do COE. Nesta semana, eles deverão fazer exercícios no centro de Curitiba, para aplicar os conhecimentos adquiridos. Tudo valendo nota. E serão as notas que decidirão quem participará da solenidade de formatura. A média mínima é 7, em todas as disciplinas. Menos que isso é o fim do sonho de ser um policial especial. A Tribuna continua acompanhando o destino desses 13 homens, que já provaram o quanto são valorosos.

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