A folga no final de semana está se transformando em tragédia nas rodovias paranaenses. Muitos motoristas e suas famílias ou amigos querem aproveitar os dias de lazer, mas se esquecem dos cuidados necessários na hora de pegar a estrada. Somente no domingo dia 18 de abril, por exemplo, foram 52 acidentes em estradas fiscalizadas pela Polícia Rodoviária Estadual. Houve 12 mortes e 68 feridos. Foram duas mortes em um capotamento na PR-874; uma em um tombamento na PR-453; uma em um tombamento na PR-180; uma morte em uma colisão transversal na PR-484; uma morte em capotamento na PR-431; duas em um choque com barranco na PR-340; e quatro vítimas fatais em uma colisão frontal na PR-163.
Existem vários motivos para explicar a quantidade de acidentes que ocorrem nos finais de semana. O primeiro deles é a rodovia vazia nesta época do ano, quando a temporada de férias já acabou e não há feriados prolongados. “Quando o motorista viaja no feriado, ele vai com mais atenção porque já sabe que vai ter mais carro na estrada. A maioria dos acidentes nos feriados prolongados é de pequenas colisões”, afirma o inspetor Fabiano Moreno, chefe da comunicação social da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Paraná.
Com rodovia vazia e de qualidade, além de tempo bom, o motorista se sente confiante e começa a ultrapassar limites. A falsa sensação de maior segurança e o consequente abuso ocasionam o contrário: os riscos de acidente aumentam. “O motorista se sente à vontade de fazer ultrapassagens em locais proibidos, aumentar a velocidade ou ainda beber antes de dirigir”, explica Moreno.
Os jovens estão diretamente ligados com muitos acidentes de final de semana. Especialmente no interior do Paraná, é comum ver pessoas entre 17 e 25 anos pegando a estrada para curtir festas em cidades próximas. Há vários registros de carros que vão para a estrada com o número de passageiros muito acima da capacidade permitida para o veículo. Um exemplo disto aconteceu no próprio dia 18 de abril. Nove jovens entre 17 e 19 anos estavam dentro de um Gol na rodovia PR-431, entre Cambará e Jacarezinho, no Norte Pioneiro. Um morreu no local e cinco pessoas deixaram o veículo com ferimentos graves, após capotamento. “O jovem é mais arrojado. É bonito ver alguém correr na pista, mas no trânsito o arrojo traz riscos enormes”, declara o tenente Sheldon Vortolin, chefe de operações da Polícia Rodoviária Estadual.
Acidente gera trauma para toda a vida
Sofrer um acidente pode causar um trauma para o resto da vida. Quem passa por uma situação delicada e fica ferida tem a possibilidade de desenvolver um estresse pós-traumático. “Um evento como este fica marcado na memória e por muito tempo ainda aparecem os flashbacks. A pessoa hesita em voltar àquela situação, com medo de voltar a viver isto”, esclarece Salete Coelho Martins, psicóloga especialista em trânsito da Psicotran Clínica Escola de Trânsito, de Curitiba.
A terapeuta ocupacional Lucy Ramos, que trabalha em Tomazina, no Norte Pioneiro, passou por isso. Em 28 de janeiro de 2008, ela sofreu um grave acidente na estrada entre Curiúva e Figueira, na mesma região. Ela foi atingida por um carro, que não conseguiu fazer uma curva e atingiu em cheio o veículo que dirigia.
Lucy quebrou as duas pernas e o punho, além de sofrer traumatismo craniano. Ela colocou placa de titânio da tíbia esquerda e outra no fêmur da perna direita, retirada há 30 dias. “O punho foi o pior. Praticamente moeu. Eu coloquei cinco pinos e nunca mais vou fazer certos movimentos”, revela a terapeuta, que soube meses após o acidente que o motorista do outro veículo morreu na hora.
Ainda enquanto se recuperava, Lucy andou de carro, mas como passageira. E sofreu com a possibilidade de vivenciar tudo de novo. “Vinha um ciclista e eu já imaginava batendo. Eu tentava me controlar, mas era difícil, especialmente à noite. Eu deitava no banco para não ver as luzes dos veículos. Só que continuava escutando o barulho”, conta. Depois de um ano, a terapeuta voltou a trabalhar e precisava se deslocar entre cidades diferentes por causa disto. Nas primeiras vezes, veio o nervosismo e o choro. “Hoje, já dirijo normal, melhorei muito. Mas é uma co,isa que você nunca esquece”, afirma Lucy. (JC)
Confiança e inexperiência são causas
De acordo com o inspetor Fabiano Moreno, chefe da comunicação social da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Paraná, a maioria dos acidentes acontece com condutores habilitados entre um e cinco anos e aqueles que têm mais de 20 anos de carteira. No caso do considerado mais experiente, o excesso de confiança na própria habilidade, no veículo e no conhecimento da rodovia formam uma fórmula arriscada. O motorista nesta situação passa a contar com a sorte.
Alguns especialistas destacam também a inexperiência dos condutores como um dos motivos dos acidentes que ocorrem principalmente nos finais de semana. São motoristas acostumados a andar em trechos urbanos, desenvolvendo uma velocidade menor. Ou jovens que acabaram de tirar a habilitação e pegam o carro justamente no sábado e no domingo. Nas rodovias, a velocidade de deslocamento aumenta e há situações diferentes, como o pequeno tempo de reação e decisão, segundo Elaine Sizilo, pedagoga especialista em
trânsito e consultora há mais de 10 anos nesta área.
Mas, então, como fazer um motorista ser experiente em dirigir na estrada? Sizilo lembra que a Resolução 285/2008 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) determina que as aulas práticas devem ser realizadas em trechos urbanos e rurais, incluindo as rodovias. A resolução não fixa quantidade mínima de aulas práticas em cada tipo de via.
No entanto, na opinião dela, o instrutor e o centro de formação de condutores poderiam sugerir ao aluno aulas em estradas. O inspetor Moreno aconselha os condutores inexperientes a pegar a estrada em viagem curtas, respeitar todos os limites de velocidade e só ultrapassar com total segurança. (JC)