A migração para o Paraná de traficantes acuados no Rio de Janeiro é uma possibilidade real que merece a atenção da Secretaria de Segurança Pública. Medidas preventivas para evitar a entrada destes criminosos no Estado precisam ser tomadas com urgência, alertou ontem o delegado da Polícia Federal Fernando Francischini, deputado federal eleito.
Francischini também foi secretário municipal Antidrogas de Curitiba e participou das prisões do traficante Juan Carlos Ramirez Abadia e de Fernandinho Beira Mar, dentre outros.
De acordo com sua análise, “o tráfico sabe que a polícia do Paraná está destroçada, sem armamento e sem efetivo suficiente”, o que impulsiona a vinda dos bandidos que já contam com pontos de apoio na fronteira (em Guaíra, e nas paraguaias Cidade de Leste, Pedro Juan Caballero e Capitán Bado).
O Mato Grosso do Sul igualmente corre risco de abrigar traficantes fugitivos, pois Capitán Bado faz fronteira com Coronel Sapucaia (MS). Lá Fenandinho Beira Mar tinha uma fazenda que servia de entreposto para distribuição de drogas. Outros traficantes compraram terras na mesma região e exportam, além da maconha paraguaia, a cocaína produzida no Peru, na Bolívia e na Colômbia.
Para barrar a entrada dos foragidos, o delegado sugere que se busque os nomes dos suspeitos com mandados de prisões expedidos. Barreiras em todas as rodovias devem vistoriar veículos procedentes do Rio e de São Paulo.
“Os setores de inteligência das polícias Civil e Militar devem se integrar à Polícia Federal para auxiliar no controle e patrulhamento da região de fronteira, principalmente Foz do Iguaçu e Guaíra, bem como o Lago de Itaipu que fornece várias passagens seguras para o Paraguai”, explicou. A Penitenciária Federal de Catanduvas já recebeu 20 presos, detidos nas operações em favelas na capital fluminense.
Silêncio na Secretaria de Segurança
O secretário de Segurança Pública do Paraná, coronel Aramis Linhares Serpa preferiu não se manifestar a respeito. Já o superintendente da Polícia Federal, delegado Maurício Leite Valeixo, informou, através de seu assessor, que prefere “não trabalhar com conjecturas, porém, afirmou que os serviços de inteligência das policiais Civil e Militar e das forças armadas estão em constante comunicação e, caso ocorra um aumento da violência no Paraná, todos estarão prontos para combatê-la”.
Em 24 de agosto passado, o delegado José Antônio Zuba de Oliva, 47 anos, e um auxiliar, foram mortos a tiros de metralhadora, no balneário Olho d’Água, em Pontal do Paraná, por bandidos que tinham vindo da favela da Rocinha, no Rio.
Eles pertenciam a facções criminosas e estavam fortemente armados. Uma operação, comandada pelo delegado Hamilton Cordeiro da Paz, titular do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), envolvendo cerca de 200 homens das polícias do Paraná e de Santa Catarina resultou na prisão de dois dos bandidos e na morte em confronto de outros dois.
Ontem, Hamilton comentou que os traficantes cariocas nunca se deram bem no Paraná porque a resposta da polícia sempre foi imediata, a exemplo do que ocorreu na morte do delegado Zuba. Por outro lado, na avaliação do policial, traficantes paranaenses denunciariam a chegada dos “de fora”, numa espécie de “preservação do território”. (MC)
Porta de entrada das drogas
A tríplice fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina) transformou o Paraná na principal porta de entrada de drogas e armas, principalmente do Paraguai. Até junho deste ano foram apreendidos 117 quilos de cocaína; 787,4 mil pedras de crack e outras 13,2 toneladas de maconha, somadas as apreensões das polícias militar, civil e federal. Segundo o 181 Narcodenuncia, as apreensões contabilizadas pelo sistema geraram 1.661 prisões no período.