O pedido de afastamento e investigação da denúncia havia sido feito na semana passada à Procuradoria Geral da Justiça e à Corregedoria da Polícia Civil, pelo advogado Dálio Zippin Filho, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção do Paraná. Zippin Filho foi procurado pelo mecânico Carlos Ribeiro Moraes, 32 anos, que revelou ter sido preso sem motivo e torturado na carceragem da DFR durante cinco horas consecutivas, para confessar ser participante de uma quadrilha de roubo de cargas. A prisão aconteceu em 27 de janeiro passado.
Violência
O mecânico – casado, pai de dois filhos e sem antecedentes criminais – contou com detalhes os horrores a que foi submetido no xadrez da delegacia. Espancado e humilhado, ele foi solto horas depois, com a alegação de que nada havia sido “encontrado” contra ele. Devolveram sua motocicleta e ainda o chamaram de vagabundo. A família de Carlos suspeita que os policiais, na verdade, pretendiam ficar com a motocicleta dele. Porém, quando descobriram que o veículo era financiado, desistiram.
Assim que a denúncia do mecânico foi divulgada, várias outras pessoas fizeram contato com a redação da Tribuna, afirmando que haviam passado pelo mesmo “inferno” e que não tinham denunciado nada às autoridades porque foram ameaçadas de morte.
Um representante comercial foi preso pela mesma equipe, conforme afirmou, em 23 de dezembro passado e mediante tortura e ameaças foi obrigado a fornecer a senha de sua conta bancária. Segundo ele (que não quer ser identificado), um dos investigadores sacou todo o dinheiro de sua conta. O saque foi filmado pelo circuito interno de TV da agência e o filme pode ser usado como prova contra o policial. “Eu fui pendurado no pau de arara e tive uma arma engatilhada na minha cabeça para fornecer a senha do meu cartão magnético”, relatou.
Ainda de acordo com o representante comercial, os policiais queriam ficar com o seu carro. No entanto, como o veículo era financiado, exigiram que ele entregasse o carro de sua esposa. Diante da recusa, o agrediram brutalmente e se contentaram com o dinheiro da conta bancária. Na mesma ocasião, ainda de acordo com o denunciante, uma mulher grávida foi detida e agredida por eles, sendo obrigada a passar a noite no xadrez junto com outros presos. Ele e a mulher só foram soltos na noite seguinte.
Reconhecimento
O próprio governador Roberto Requião telefonou para Carlos, ontem à tarde, e o tranqüilizou informando das providências que estão sendo tomadas para punir os policiais denunciados. O governador avisou que será marcada uma data para que o mecânico faça o reconhecimento dos acusados, de forma a dar andamento no inquérito. Este reconhecimento deverá ser feito na presença de promotores da Procuradoria de Investigação Criminal (PIC), que também acompanham o caso.