Nas nove páginas de processo contra Tony Garcia, constam diligências, interceptações telefônicas e a quebra do sigilo fiscal e bancário do ex-deputado. Segundo o juiz federal da 2.ª Vara Criminal Federal de Curitiba, Sérgio Luiz Moro, que anexou as investigações do Ministério Público Federal ao processo, há indícios significativos de que Antônio Celso Garcia, Roberto Ângelo Siqueira, Antônio Eduardo de Souza Albertini e possivelmente Sérgio Luiz Malucelli teriam se reunido em quadrilha para prática de crimes de falsidade, financeiro, de sonegação fiscal e ainda corrupção ativa de agentes da Receita Federal e Estadual. Baseado nesse indícios foram decretadas operações de busca e apreensão nas casas dos envolvidos e na casa de Wilson Roberto Santos e sua empresa WR Contabilidade. Santos é contador da Empresa Eldorado Comércio de Mercadorias. Na investigação concluiu-se que há significativos indícios que Tony Garcia é o proprietário da Eldorado ao lado de Roberto Ângelo Siqueira. Os dois utilizavam "laranjas" para desvincular seus nomes da importadora.
A principal atuação da Eldorado era na importação de veículos. Há registro de que a empresa importou 65 veículos subfaturando o preço declarado como pago, mas revendendo-os com preço de mercado. "A falta de pagamento da importações via contratos de câmbio constitui indício da prática expressiva de sonegação cambial e de evasão de divisas", cita o processo. Um Porshe foi alienado para Eldorado por R$ 284.456,81, entretanto há informações da Polícia Federal que o real valor do carro é R$571.880,00. O processo apresenta também trechos de conversas dos dois donos da Eldorado com o proprietário da importadora Autonews, Sérgio Luiz Malucelli. A empresa de Malucelli supostamente teria abrigado um escritório da Eldorado.
Numa gravação telefônica, os donos da Eldorado questionam se têm "alguém na Receita ou um deputado" que possa facilitar os negócios. Tony Garcia então lembra que conhece alguém que pode fazer isso e chega a perguntar se é necessário "queimar esse cartucho" para regularizar a situação. Outra gravação mostra a conversa de Roberto Siqueira com um suposto fiscal da Receita, chamado Geraldo Veloso. Nessa conversa ele negocia pagamento para que Veloso retarde ou omita a fiscalização. Uma ligação vinda de Genebra, na Suíça, sugere que Roberto tenha ligação com a clonagem de veículos.
Além dos problemas com os veículos, a Eldorado não apresentou declarações de rendimento de 2002 e 2003, dando evidentes indícios de sonegação fiscal.
Tony Garcia também é citado por ter feito, supostamente de forma ilegal, uma doação de R$500 mil ou R$1 milhão para campanha política.
A íntegra do processo envolvendo o ex-deputado e ex-controlador do Consórcio Garibaldi, Antônio Celso Garcia, pode ser encontrado no site www.gazetadenovo.com.br.
Ex-deputado perde todas
No despacho que negou liminar ao recurso interposto pelos advogados do ex-deputado Antônio Celso Garcia, o Tony Garcia, contra decisão do Tribunal Regional Federal da Quarta Região – que não concedeu habeas corpus pleiteado pelo ex-controlador do Consórcio Garibaldi -, o ministro Arnaldo Esteves Lima, do Superior Tribunal de Justiça, solicitou informações ao tribunal de Porto Alegre e determinou vista do processo ao Ministério Público Federal. A Procuradoria Geral da República deverá se manifestar dentro de dez dias e o TRF também precisará de alguns dias para encaminhar as informações solicitadas pelo ministro da Quinta Turma do STJ. O recurso, então, será julgado no mérito, com o voto do ministro relator e dos demais integrantes da turma do STJ. Enquanto isso, Tony Garcia continuará preso na carceragem do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), da Polícia Civil, em Curitiba. Sua transferência para o Centro de Observação Criminológica e Triagem (COT), que funciona anexo à Prisão Provisória de Curitiba (presidio do Ahu), depende de uma decisão do Superior Tribunal de Justiça, que está julgando um conflito de competência entre as justiças estadual e federal.
No Cope
Tony Garcia foi preso por ordem do juiz federal Sérgio Moro, da 2ª Vara Federal Criminal, especializado em crimes do colarinho branco. Respondendo por crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, como controlador do Consórcio Garibaldi, o ex-deputado acabou preso, juntamente com Antônio Eduardo de Souza Albertini, acusado de importação ilegal e adulteração de veículos. A captura dos dois ocorreu no último dia 9, numa ação da Polícia Federal denominada Operação Fraude Zero. Cumprindo mandados do juiz Sérgio Moro, agentes atuaram, a partir da 6 horas, em vários endereços de Curitiba, apreendendo computadores e documentos em escritórios e em duas residências, a de Tony Garcia e Antônio Albertini. Tony foi preso quando tentava fugir. Ele pulou da sacada de serviço do apartamento no bairro do Mossunguê para um pátio interno do prédio, escondendo-se numa casa de bonecas. Em seguida, subiu numa árvore do pequeno bosque, onde foi descoberto e preso pelos agentes federais. Tony ficou numa cela da Polícia Federal durante uma semana, antes de ser transferido pelo o Cope, onde divide o xadrez com três outros presos.