O ex-deputado estadual Luiz Fernando Ribas Carli Filho irá a júri popular. Esta foi a decisão unânime dos desembargadores do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) na tarde desta quinta-feira (20). Carli Filho é acusado de matar dois jovens em um acidente de carro em 2009 e vai responder por dolo eventual, quando se assume o risco de matar. A mesma decisão foi proferida em 2011 e o julgamento no Tribunal do Júri chegou a ser marcado, mas recursos da defesa levaram ao adiamento. É o que pode ocorrer novamente. O advogado de defesa já anunciou que vai recorrer, mas o advogado de uma das vítimas acredita que o júri popular será realizado ainda neste ano.
Na sessão que definiu o novo julgamento de Carli Filho votaram os desembargadores Telmo Cherem, relator do caso, Jonny de Jesus Campos Marques e Benjamim Acácio de Moura e Costa. Eles decidiram ainda, por unanimidade, que o teste de alcoolemia do ex-deputado não terá validade no julgamento, pois as amostras de sangue foram colhidas enquanto ele estava inconsciente, no hospital.
Recurso
Carli Filho pode ser condenado a até 30 anos de prisão. O advogado de defesa, René Dotti, declarou que vai recorrer da decisão ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ). “Há dúvida quanto à existência do dolo. Só a embriaguez e a velocidade não são suficientes para prová-lo”, afirmou.
Ivonaldo Alexandre |
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Gilmar e Christiane Yared têm longo caminho pela frente. |
Elias Matar Assad, advogado da família de uma das vítimas, ressaltou que a tese do dolo eventual na condução do veículo “nasceu” em Curitiba. “Esse caso é um divisor de águas”, disse. Ele explicou que, como a votação foi unânime, a defesa não pode entrar com embargos infringentes, mas pode usar embargos de declaração e outros recursos, mas que não terão efeito suspensivo. A expectativa do advogado é que o julgamento seja ainda neste ano. “Acredito que com essa fase burocrática levamos ainda uns seis meses. Em setembro, outubro, poderemos pensar em pautar o julgamento”, explicou Assad.
“Quero agradecer a Deus e à Justiça. Essa foi a Justiça que meu pai, que era desembargador, me ensinou a amar”, disse Christiane Yared, mãe de Rafael Yared, morto no acidente. “Essa decisão é um começo, ainda temos um longo caminho a percorrer”. Christiane contou ter ficado emocionada “principalmente com os desembargadores comentando que meu filho realmente não viu o carro do ex-deputado”.
Voo
Em 7 de maio de 2009, o Passat alemão dirigido por Carli Filho bateu no Honda Fit, onde estavam Gilmar, de 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, 20, na esquina das ruas Monsenhor Ivo Zanlonrenci (rápida Campo Comprido – Centro) e Paulo Gorski, no Mossunguê. De acordo com o Instituto de Criminalística, o veículo do ex-deputado estava a mais de 160 quilômetros por hora. Ele estava com a habilitação suspensa e as investigações apontaram que havia ingerido bebida alcoólica.
A denúncia do Ministério Público foi feita em agosto de 2009. Em janeiro de 2011 a Justiça decidiu que o ex-deputado iria a júri popular e a defesa recorreu ao TJ-PR. Cinco meses depois, o TJ decidiu que Carli Filho iria a júri popular. Em fevereiro do ano passado, o STJ determinou ao TJ-PR que o exame de alcoolemia fosse reavaliado como prova no processo. Com isso, o júri popular, marcado para 26 de março do ano passado, foi adiado. Em novembro, o STJ aceitou o pedido de habeas corpus, o que fez com que o processo criminal voltasse ao desembargador Telmo Cherem, do TJ-PR.