O desembargador Miguel Pessoa, do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), foi designado ontem para presidir a investigação do acidente em que se envolveu o deputado paranaense Luiz Fernando Ribas Carli Filho (PSB), na madrugada da última quinta-feira.
O caso foi encaminhado ao TJ porque deputados têm foro privilegiado. No acidente, outras duas pessoas – Gilmar Rafael Souza Yared, de 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, 20 – estavam no outro veículo e morreram no local. O caso também está sendo acompanhado pelo promotor de Justiça Rodrigo Chemin.
Carli Filho já saiu da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e foi para a unidade semi-intensiva, segundo informações da assessoria da instituição. Segundo a assessoria, os médicos aguardam melhora no estado de saúde para fazer a cirurgia de correção de face.
Ontem, depois de cinco dias, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) se manifestou pela primeira vez. O texto é bastante genérico e não esclarece determinados pontos fundamentais da investigação.
Entre eles está a informação sobre os radares e a câmera de vídeo que teriam flagrado o acidente. Não há a informação que esclareça se o deputado estava ou não em alta velocidade.
Segundo a Sesp, “o delegado recebeu da Urbs – órgão da prefeitura de Curitiba que gerencia o trânsito da cidade – imagens dos radares da rua onde aconteceu a colisão e vias próximas que possam auxiliar nas investigações”.
O texto fala ainda que a delegacia “também recebeu imagens da câmera de vigilância do posto de combustível, na esquina onde aconteceu a colisão”, mas não relatou o que a câmera flagrou.
O texto da Sesp também não confirma se houve racha no dia do acidente. Somente relata que duas testemunhas prestaram depoimentos, além do dono e dos garçons do restaurante onde o deputado jantou naquele dia.
A Sesp não informa, ainda, se o carro do deputado era blindado e relata que “não há nenhuma testemunha que tenha visto o velocímetro do carro em 190 quilômetros por hora”.
Outro ponto polêmico logo após o acidente foi sobre os exames de dosagem alcóolica. A Sesp informa que a polícia pediu ao Hospital Evangélico esses exames, que por sua vez disse que o sangue coletado pelos profissionais seria apenas para analisar doenças preexistentes e não para tais constatações.
O advogado da família Yared, Elias Mattar Assad, informou ontem que ainda não teve acesso às informações sobre os radares e a câmera do posto. Ele disse que sugeriu ao Ministério Público e ao TJ que indiciem o deputado por duplo homicídio doloso eventual.
“Eu não preciso de nenhum radar para configurar o crime. Ele estava em alta velocidade e há testemunhas que dizem isso”, afirmou o advogado. Sobre o fato de o deputado não ter sido detido – já que cometeu dois crimes: dirigia sem carteira e os homicídios – o advogado diz que houve omissão.
Reincidência
O deputado já teria se envolvido em outro acidente em Guarapuava, há cerca de 12 anos. Segundo informações do presidente da câmara de vereadores da cidade, Admir Strechar (PMDB), na época o deputado dirigia outro Passat quando se envolveu em um acidente grave que destruiu o carro. Não houve vítimas. A informação também foi confirmada por um proprietário de jornal da época, João Mendes. “Ele era menor e estava fazendo um racha”, afirmou.
A reportagem entrou em contato com o gabinete do deputado, em Curitiba, mas foi informada de que todos os assessores estariam em São Paulo e incomunicáveis.