O suposto furto de uma bateria gerou grande confusão na noite de ontem, no centro de Campina Grande do Sul. Acusando o administrador de empresas, Eduardo Ramos dos Santos, 25 anos, de ter furtado a bateria, o secretário de Obras do município, Cleverson Dalprá, 30 anos, e seu pai Antônio Dalprá, 58, – irmão e pai da prefeita da cidade, Anelise Dalprá – invadiram a casa onde Eduardo estava, o espancaram e atiraram no braço dele, conforme denuciado pela vítima.
Ferido, o rapaz foi socorrido por familiares e levado ao Hospital Angelina Caron, onde foi medicado e liberado na tarde de ontem. Enquanto esteve internado, o delegado Douglas Vieira o autuou em flagrante. Porém, antes dele deixar o hospital, a juíza Paula Priscila Candeo Haddad Figueira relaxou a prisão.
O promotor Otacílio Sacerdote Filho informou que já foi pedida a instauração de inquérito policial contra Antônio e Cleverson Dalprá, por tentativa de homicídio. ?Se houver necessidade, como ameaça contra testemunha poderemos pedir que a juíza decrete a prisão dos dois. A do Antônio, como autor e do Cleverson, pela co-autoria?, explicou o promotor.
O delegado Douglas Vieira contou que Cleverson e Antônio se apresentaram espontaneamente na delegacia ontem pela manhã e deram suas versões dos fatos. ?Eles não apresentaram a arma?, informou.
Tiros
De acordo com parentes do rapaz, Eduardo ia para a casa de seu sogro, quando passou pela Avenida São João, onde havia acontecido um acidente de caminhão e viu uma bateria jogada em uma valeta. O rapaz pegou a bateria e foi até a casa de seu sogro. Assim, que entrou, chegaram Antônio e Cleverson, com armas em punho. ?Eles acusaram meu cunhado de furto. Ele explicou a situação e chegou a se ajoelhar, dizendo que devolveria. Eles o chamaram de vagabundo, ladrão?, contou Márcia Regina Seragatti, cunhada de Eduardo, que estava na casa no momento da confusão. ?Eles não respeitaram nem as crianças que estavam aqui?, reclamou Márcia.
Segundo ela, Cleverson chutou a mulher de Eduardo, Jeana, enquanto gritava: ?Nós somos donos da cidade. Mata ele pai, antes que ele vá falar alguma coisa contra nós?. Márcia relatou que, atendendo a ordem do filho, Antônio apontou a arma para Eduardo. ?A minha irmã pulou em cima dele e o tiro acertou o braço. Se ela não tivesse feito isso, teriam matado meu cunhado?, enfatizou Márcia.
Denúncia, também, pela demora da polícia
Márcia Regina Seragatti acusou a PM de não tomar providências sobre o atentado. ?Chamamos a polícia que demorou mais de uma hora para chegar e ainda queriam prender o meu cunhado. Contra quem atirou, eles não fizeram nada?, lamentou.
O promotor Otacílio Sacerdote Filho, de Campina Grande do sul, disse que irá encaminhar um ofício para o Comando da Polícia Militar para investigar a atitude dos PMs que atenderam a ocorrência. ?Queremos que seja investigado se houve conveniência da PM?, contou o promotor.
Antes de tomar conhecimento do pedido do Ministério Público, o coronel Sérgio Renor Vendrameto, comandante do 17.º Batalhão, explicou que houve demora no atendimento porque as duas viaturas que atendem o município estavam em atendimento. ?Se houve omissão e o inquérito policial apurar isso, vamos investigar. Nosso objetivo é esclarecer o que aconteceu, conforme manda a lei, independente de quem sejam os envolvidos?, afirmou Vendrameto.
Defesa diz que tiro foi acidental
O advogado da família Dalprá, José Mário Rabello Filho, contou uma versão diferente. Segundo ele, o disparo que atingiu Eduardo foi acidental. ?Houve um acidente em frente à casa de Cleverson e de Antônio e o proprietário do caminhão pediu para que eles olhassem o veículo. Por volta das 22h, os cachorros latiram e eles saíram para ver o que acontecia e viram o Passat (de Eduardo) parado próximo ao caminhão?, contou o defensor. Rabello disse que o veículo deixou o local em alta velocidade e seus clientes telefonaram à Polícia Militar, que alegou não ter viatura para atendê-los.
Por esse motivo, pai e filho se dirigiram até a delegacia. Porém, no caminho viram o Passat estacionado, com o porta-malas aberto. Ao se aproximarem, viram a bateria. ?As pessoas que estavam na casa começaram a agredir meus clientes, que telefonaram para a Polícia Militar. O Antônio carrega a arma na cintura, apesar de não ter porte. As mulheres pularam em cima dele, a arma caiu e disparou?, alegou o advogado. ?Na hora do tiro, meu cliente correu e a arma ficou no chão?, acrescentou.
Rabello garantiu que em momento algum seus clientes usaram artifícios próprios para fazer justiça com as próprias mãos. ?Quero deixar claro que a prefeita não tem nada a ver com isso. O que existe são versões dos fatos que serão apuradas?, salientou. ?A versão dada por eles (família de Eduardo), é apenas uma auto-defesa. Acho que estão fazendo disso um fato político?, completou o advogado.
