Treinamento pesado!

Terrorismo em Curitiba? Nós estamos preparados!

Um tiro de longa distância derrubou o terrorista que ameaçava reféns com uma suposta bomba na Arena da Baixada. Após certo tempo de negociação, a polícia agiu de maneira drástica. A movimentação de viaturas e pessoas fortemente armadas chamou a atenção dos moradores do entorno do estádio. Alguns começaram a ligar para a polícia pedindo socorro, outros pediam explicações. O evento aconteceu no fim de junho e era apenas uma parte do treinamento do Curso de Negociação em Crises da Polícia Militar. Não passava de uma simulação.

Apesar da possibilidade remota de Curitiba e outras regiões do Paraná serem alvos de ações terroristas, os policiais se mantêm em treinamento. “Precisamos estar preparados para agir no pior momento”, comentou o capitão Cesar Hoinatski, do Comandos e Operações Especiais (Coe). Ele acredita que estas ações têm um reflexo importante na segurança. “Adaptamos muitas dessas técnicas de contra terrorismo para a nossa realidade. Situações com reféns e ações na fronteira com o Paraguai são alguns exemplos”.

Guerra diária
E é essa realidade que mais preocupa. O Brasil tem sua própria guerra diária. Em 2014, ano da Copa do Mundo, 59 mil pessoas foram assassinadas por arma de fogo, arma branca ou agressão, segundo o Atlas da Violência, divulgado em março deste ano pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). No mesmo ano, o Paraná, que recebeu alguns jogos do Mundial, teve 2.964 pessoas mortas a tiros, facadas ou espancamento. No ano anterior, o número havia sido muito parecido: 2.955.

Foto: Lineu Filho.

Nenhum atentado terrorista foi praticado no Brasil em 2014, pelo menos de que se teve notícia. Já em outras partes do mundo, como a Nigéria e alguns países do Oriente Médio (Iraque e Síria principalmente), no mesmo ano, o número de vítimas fatais em atentados terroristas foi cerca de 7 mil, de acordo com o Index Global do Terrorismo, do Institute for Economics & Peace.

Zika vírus e crime organizado
“Os americanos, que em tese são os alvos principais, estão mais preocupados com o zika vírus e com o que o crime organizado pode aprontar durante as Olimpíadas, do que com os radicais do Estado Islâmico (EI) agindo aqui. Na Copa não tivemos incidentes”, pontuou o professor Andrew Traumann, do setor de História das Relações Internacionais da Unicuritiba. Ainda assim, segundo ele, o Estado Islâmico gosta do efeito surpresa e de agir onde ninguém imagina.

“Com os holofotes do mundo voltados para o Brasil, há uma preocupação com ações dos chamados ‘lobos solitários’, que agem sem conexão provável com grupos terroristas, como me pareceu ser o caso do atentado recente em Orlando. O EI costuma assumir ações que não partiram deles, já fizeram isso antes”. Para o professor Andrew, a perda de território na Síria e Iraque está deixando o EI mais agitado. “Estão atrás de propaganda”.

Inteligência e vigilância
O professor Alexsandro Eugenio Pereira, que coordena o Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), acredita que o Brasil, por não estar envolvido em combates no Oriente Médio, está fora da mira dos terroristas. Porém, eventos internacionais podem ter um efeito atrativo. “Não é possível descartar a possibilidade do Estado Islâmico ou de organizações terroristas tentarem promover atentados terroristas no Brasil durante as Olimpíadas, seja em grande escala ou como uma a&cced,il;ão isolada de um terrorista”, afirmou.

Mesmo assim, para Alexsandro, não há necessidade de pânico. “Não considero que o Paraná e a região da Tríplice Fronteira precisariam ficar em estado de alerta por causa de eventuais ameaças terroristas. Mas essa região tem sido observada pelos serviços de inteligência americanos por concentrar uma comunidade islâmica cujos indivíduos podem ser recrutados pelo EI”.
A alternativa para se evitar o pior ou mesmo reduzir danos seria um preparo específico e vigilância. “Os aparatos de segurança tendem a coibir ações concretas, embora a possibilidade de derrotar ações terroristas depende, hoje, muito mais da capacidade dos serviços de inteligência e de vigilância”.

Policiais do Coe conheceram técnicas e equipamentos de primeira fora do Brasil. Foto: Lineu Filho.

Prontos para ação
O Comandos e Operações Especiais (Coe), da PM, participou de treinamentos de contra terrorismo na Áustria, em 2013, e nos Estados Unidos, em 2014. Neste ano, em Goiânia, diversas unidades policiais e das forças armadas de vários estados brasileiros estiveram reunidas para realizar treinamentos para o período das Olimpíadas. Os policiais do Coe ministraram uma das 17 oficinas. “Foi uma troca de informações entre as agências de segurança do país. Este tipo de interação dá as forças policiais uma vantagem muito grande”, comentou o capitão Hoinatski.

Nestes intercâmbios, os policiais conheceram técnicas e equipamentos melhores. Recentemente a farda foi substituída por uma com tecnologia de camuflagem e resistência mais avançada. “Podemos ficar dias em ação. É ergonômica e durável. Não sabemos como a missão pode acontecer, nem quanto tempo poderá ser necessário para finalizá-la”, exemplificou o tenente Mario Piacetskei. Segundo ele, estar pronto significa manter-se em constante atualização. O Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) também conta com o Esquadrão Antibombas, que age em situações de suspeita de explosivos.

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