Suspeitos da ?Operação Tentáculo? são interrogados

Estendeu-se até a noite de ontem o interrogatório de nove presos acusados de participar de um grupo de extermínio desmantelado pela Operação Tentáculos, no último dia 15. O delegado Luiz Alberto Cartaxo de Moura, da Homicídios, ouviu nove policiais e ex-policiais militares (veja quadro abaixo) acusados de envolvimento direto com a morte do major Pedro Plocharski, em janeiro deste ano, e que deu início às investigações do grupo.

De acordo com Cartaxo, os depoimentos foram lacônicos e não trouxeram nenhuma novidade. "Todos negam participação com os crimes, mas a quantidade de contradições nos depoimentos só reforça aquilo que já sabíamos", disse. Apesar disso, Cartaxo afirma que os depoimentos levam a crer que a organização criminosa é maior do que se tem conhecimento e que novas pessoas ainda podem ser presas.

Cartaxo informou que vai respeitar o prazo – termina hoje – para entrega do inquérito que investiga a morte do major. No entanto, a busca por novas provas continua mesmo depois de concluído o inquérito.

Até o momento estão presas 33 pessoas, 27 delas através de mandados de prisão. O único foragido é o advogado Peter Amaro, que cedeu entrevista exclusiva à Tribuna, no último fim de semana. Amaro disse que teme pela própria vida e que vai se entregar à polícia assim que tiver uma resposta do habeas-corpus impetrado por seu advogado, Cláudio Dalledone.

Cartaxo disse que Amaro está com prisão decretada por formação de quadrilha e ligação ao tráfico de drogas. Também constam nas gravações que levaram até a solução do crime da morte do major, que Amaro tinha conhecimento do fato.

Outro acusado, que estava foragido, identificado apenas como "Sky", teria sido detido na manhã de ontem. Cartaxo disse que foi preso um sargento da PM que teve uma ligação telefônica interceptada com algum dos detidos. "Este sargento está muito ferido pois acabou de sofrer um acidente de moto. E ele disse que não é o ?Sky’ e que conhece quem seria esta pessoa. A mesma coisa foi dita pelo sargento Leite, em depoimento. Por isso este sargento foi liberado e seu nome será mantido em sigilo até concluirmos as investigações", disse o delegado.

Crimes

Inicialmente, todos foram indiciados por formação de quadrilha. Entretanto, há muito material para ser analisado, o que dará subsídios sobre a participação da quadrilha em crimes de morte, roubos e tráfico de drogas. Quanto às investigações, o delegado adiantou que estão em fase de montagem do banco de dados sobre as atuações criminosas do grupo. Os peritos estão catalogando as armas e munições apreendidas durante a operação.

"Eles fazem parte de uma organização criminosa, com várias facções. Cada facção cometia específicos delitos. Mas há integrantes que atuavam em dois grupos", explicou o policial. De acordo com Cartaxo, a organização tinha diversos "braços". O ex-PM Moacir Possamai Girardi liderava o grupo ligado aos roubos de veículos. O sargento Ademir Leite Cavalcante era quem comandava o tráfico de drogas. Em seu depoimento ontem, jurou que é apenas usuário de entorpecentes. E Sandro Delgobo era o líder do grupo de extermínio que agia a serviço do tráfico e que também matou o major Plocharski.

Casos de Almirante Tamandaré voltam à tona

A complexidade dos casos apurados pela Operação Tentáculos é tanta, que uma nova informação foi cogitada ontem. Segundo Cartaxo, titular da Delegacia de Homicídios, alguns dos policiais militares presos durante a operação têm ligações com outros PMs que também estão presos em conseqüência dos homicídios cometidos contra mulheres, em Almirante Tamandaré, entre os anos de 1998 e 2002. "Pessoas envolvidas nas mortes em Tamandaré têm envolvimento com os presos em nossa operação. Eles têm relações, mas não sabemos até que ponto", explicou o delegado. Segundo ele, por determinação da Secretária de Segurança Pública, 13 inquéritos sobre as mortes dessas mulheres foram encaminhados à Delegacia de Homicídios, que ficou com a responsabilidade de dar prosseguimento às investigações.

Morte

O major Pedro Plocharski era comandante interino do 13.º Batalhão da PM quando foi assassinado em 28 de janeiro deste ano. O Fusca que o major dirigia, após sair do batalhão, foi alvejado por dezenas de tiros. O Golf verde que participou desse homicídio está apreendido pela polícia e pertencia, na época, à irmã de Moacir Girardi, ex-policial militar que também está preso. Girardi teria dirigido o Golf e o ex-tenente Alberto da Silva Santos teria efetuado os disparos. Cartaxo afirmou que um terceiro policial estava dentro do Golf na noite do crime. Porém, de acordo com informações obtidas ontem, ele pode já ter sido assassinado como queima de arquivo.

A polícia acredita ainda que uma viatura da PM deu cobertura para que o crime fosse cometido. Porém ainda não se tem evidências sobre isso. A polícia já tem a certeza que, de dentro do batalhão, os executores do major tinham respaldo de Sandro del Gobbo e Ari Camargo.

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