Depoimentos

Suspeito de crime no Morro do Boi sustenta inocência

As testemunhas ouvidas, ontem, na Vara de Precatórias Criminais, no Santa Cândida, a respeito do crime do Morro do Boi, colocaram mais dúvidas nas investigações da Polícia Civil, que tentam incriminar Juarez Ferreira Pinto, 42 anos. Ele é suspeito de, em 31 de janeiro, matar Osíris Del Corso, 22, e balear a namorada dele, Monik Pergorari de Lima, 23, que ficou paraplégica.

Todo o trabalho policial, que levou Juarez à cadeia (está preso desde 17 de fevereiro) foi baseado em declarações de Monik – que se contradisse em várias ocasiões – e em alguns reconhecimentos feitos na delegacia de Matinhos.

O biólogo e ambientalista Carlos André Abreu Carneiro, testemunha de acusação, esteve no morro e viu uma pessoa parecida com o retrato falado do assassino, subindo a trilha. Na delegacia ele teria apontado Juarez como suspeito.

Ontem, porém, quando lhe perguntaram se havia alguém, na sala de audiência, parecido com a pessoa que viu no morro, ele apontou para o advogado Nilton Ribeiro (defensor do acusado). Juarez estava sentado ao lado dele, acompanhando o depoimento. “Tem muita gente parecida com este retrato falado”, teria dito Carlos.

“Pateta”

O jornalista Karlos Kohlbach, que acompanhou o início das investigações, apresentou novo personagem dessa novela que parece não ter fim. Segundo ele, um indivíduo conhecido por “Pateta” também esteve no morro naquela noite e que teria visto o suspeito de relance (dizem inclusive que chegou a ajudar a fazer o retrato falado).

Quando foi chamado à delegacia para reconhecer Juarez, afirmou que não se tratava da mesma pessoa. Disse ainda que o suspeito era mais alto e menos barrigudo. Estranhamente, seu depoimento nunca apareceu no inquérito.

Kohlbach estranhou a atitude da polícia, que buscou reunir nos autos apenas as informações que levantavam suspeitas contra Juarez. Esta linha de trabalho contaminou também o Ministério Público de Matinhos, que deixou de pedir diligências, e denunciou Juarez por latrocínio (roubo com morte), sem que uma única prova material tivesse sido levantada contra ele.

Reviravolta

Mesmo depois da prisão de um novo suspeito, em 24 de junho, a promotora da Carolina Dias Aidar de Oliveira, foi categórica ao afirmar que “não moveria um dedo” para mudar o processo.

No dia seguinte a esta declaração, o exame de balística feito no revólver apreendido com Paulo Unfried, 32, constatou que era a arma usada contra Osiris e Monik. E ele, após uma tentativa de suicídio na cela, confessou ser o autor do atentado.

Juarez se diz aliviado

Dez quilos mais magro e com ferimentos no rosto e na testa, provocados por dois presos que o agrediram na cela da Casa de Custódia de Curitiba, Juarez Ribeiro Pinto, 42 anos, acompanhou depoimentos. Pela primeira vez, teve a oportunidade de falar com a imprensa, autorizado pelo juiz da vara, Kennedy Josué Greca de Mattos.

Juarez voltou a negar a autoria do crime, dizendo-se aliviado porque “agora todos sabem que sou inocente” (referindo-se à prisão de Paulo). Com fala mansa e pausada, assegurou que não conhece o Morro do Boi e que não atirou no casal de namorados.

Disse também que rezou muito para que o verdadeiro assassino fosse apanhado. “Acho que Monik não volta atrás no reconhecimento, porque tem medo que a gente vá processá-la. Mas isso eu não vou fazer”, afirmou. Juarez foi submetido a exame de lesão corporal sobre a agressão na cela. Segundo o advogado Nilton Ribeiro, os dois detentos teriam problemas mentais.

Versão do atendimento

Das testemunhas arroladas, quatro foram ouvidas (duas foram dispensadas por já terem sido ouvidas na fase de inquérito e uma não compareceu). Além do biólogo e do jornalista, também a médica do Siate Luciane Bittencourt Carias de Oliveira, que deu o primeiro atendimento a Monik, confirmou que a vítima em momento algum disse ter sofrido assalto (esta versão só foi dada por ela mais de 17 dias após o crime); o bombeiro Eduardo Aguiar, que socorreu as vítimas, confirmou a versão da médica.

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