O Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce) exumou, na manhã de ontem, a ossada de um corpo sepultado como indigente no Cemitério Parque São Pedro, no Umbará. Foi coletado material genético para exame de DNA, a fim de confirmar se o cadáver é de Márcio Victor Ferreira, desaparecido em 2005.
A ex-mulher dele acionou a seguradora para receber o seguro de vida, avaliado em mais de R$ 350 mil, porém a empresa desconfiou e exigiu uma investigação da polícia. A suspeita é de que o corpo tenha sido usado para aplicar o golpe do seguro, com participação de antigos funcionários do Instituto Médico-Legal (IML).
O seguro de vida de Márcio foi feito em outubro de 2003, pela então esposa dele, Tatiane Diácoro. Meses depois, o casal se separou, mas ela continuou pagando as mensalidades do seguro. Em 2005, o rapaz, que tinha 26 anos, desapareceu.
“Ele era envolvido com drogas e sumiu em 20 de agosto”, contou o delegado Sivanei de Almeida Gomes, do Nurce. Na mesma data, um desconhecido deu entrada no Hospital de São José dos Pinhais, baleado e esfaqueado. Dois dias depois, ele morreu e foi levado ao IML, onde permaneceu, até outubro, quando foi enterrado como indigente.
Suspeitos
Chamou a atenção da polícia a família de Márcio não ter reconhecido nenhum dos corpos do IML. Segundo a família, não seria difícil identificar o rapaz, já que ele tinha tatuagens. “O laudo de necropsia não constatou a presença de tatuagens nem os ferimentos a faca que o hospital havia informado”, lembrou Sivanei.
As contradições não pararam por aí. Em 2007, enquanto ainda era dado como desaparecido, um funcionário do IML formalizou um termo de reconhecimento do indigente como sendo Márcio.
Ainda mais estranho é o documento que apareceu na seguradora, em junho de 2007, com uma suposta assinatura de Márcio, que comunicava sua mudança de endereço.
Com todos os documentos que “confirmavam” a morte de Márcio, Tatiane deu entrada no requerimento do seguro. Desconfiada, a empresa pediu uma investigação, que resultou na exumação do corpo. De acordo com Sivanei, o resultado do exame deverá sair em aproximadamente 20 dias.
Mulher nega golpe
Tatiane negou que tenha se envolvido em qualquer tipo de golpe e alegou não saber de onde surgiu o documento com a assinatura de Márcio. Ela afirmou que não reconheceu o corpo do ex-marido no IML e que continuou pagando o seguro, porque tinha informações que ele estaria em Santa Catarina. Tatiane contou que só ficou sabendo da suposta morte do ex-marido em 2007.
“Essa é a terceira vez, em menos de dois anos, que o Nurce realiza uma exumação. As outras duas resultaram na prisão de envolvidos em golpes milionários para recebimento de seguros, com participação de pessoas do IML”, lembrou o delegado Sivanei.
