O servente de pedreiro Ismael Ferreira da Conceição, de 19 anos, prestou depoimento nesta terça-feira (03) no 6º Distrito Policial, no bairro Cajuru, em Curitiba. Foi o primeiro passo após a instauração do inquérito policial que vai apurar a denúncia de tortura contra o jovem. Ele relatou que sofreu tortura por parte de policiais militares há um mês.
O caso foi repassado para a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil – seção Paraná (OAB-PR), que denunciou o fato e acompanha os desdobramentos.
Ismael foi abordado por policiais militares no Cajuru. A suspeita era de que Ismael teria envolvimento com um crime cometido no bairro, o que não foi comprovado.
A vítima ficou desaparecida por cinco horas e depois foi encontrada no 8º Distrito Policial. Antes, a casa da família dele, no bairro Uberaba, foi revirada enquanto era mantido junto dos policiais.
Na mesma época, a Polícia Militar (PM) realizou uma mega operação para a posterior instalação da Unidade Paraná Seguro (UPS) no Uberaba. A PM ressaltou que o caso não estava relacionado com a UPS.
Os policiais militares foram identificados e afastados. A defesa da vítima realizou na semana passada a representação criminal e o inquérito policial foi instaurado pelo delegado José Tadeu Bello, do 6º DP.
“Continuo bastante abalado, esperando que a Justiça seja feita. Esquecer, eu não vou. O que eu passei ali foi muito forte para mim e para a minha família. Mas, ao mesmo tempo, quero refazer a minha vida”, contou Ismael, que ainda disse estar com medo de sair na rua. Ele não está trabalhando por causa de dores no ombros, oriundas da agressão que sofreu. O servente de pedreiro ainda possui várias marcas pelo corpo.
O advogado Ivan Camargo, que defende a vítima, explicou que os policiais militares envolvidos no caso podem ser indiciados por tortura, sequestro, cárcere privado, injúria racial, violação de domicílio, constrangimento ilegal, abuso de autoridade e lesão corporal. Ele também vai reunir os prontuários de atendimento da vítima nos hospitais do Trabalhador e Cajuru. Em breve deve sair o resultado do exame de corpo de delito.
De acordo com o delegado José Tadeu Bello, serão ouvidos os seis policiais envolvidos no caso. Um ofício deve ser encaminhado para o Comando Geral da PM após os depoimentos de testemunhas.
O delegado também deve pegar informações no Centro de Atendimento Integrado ao Cidadão (CIAC), no 8º DP, para onde Ismael foi levado pelos policiais militares após as agressões. O prazo de conclusão do inquérito vai até 30 de abril.
A tenente Luci Belão, do núcleo de Direitos Humanos da Polícia Militar, informou que a vítima e os policiais envolvidos diretamente no caso já foram ouvidos no inquérito policial militar. “Todas as oitivas foram acompanhadas por advogados da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR”, revelou a tenente. O inquérito está em fase final para conclusão.
Nesta terça-feira, algumas entidades foram até a PM para cobrar a punição dos policiais que participaram da tortura. Foi protocolado um ofício pedindo a condenação de todos os envolvidos.