Julgamento

Suplente é acusado de matar vereador de Fazenda Rio Grande

Um beijo na testa e um forte abraço. Assim José Vilmar Luciano, 50 anos, também conhecido como “Luciano Cabeleireiro”, despediu-se da ex-mulher e das duas filhas, no plenário do Fórum de Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba.

Na quinta-feira passada, ele foi submetido a júri popular e condenado a 14 anos de reclusão em regime fechado, a serem cumpridos na cadeia de Araucária, onde já estava recolhido. Também não faltaram lágrimas na despedida e de ambas as partes: da família do réu e da família da vítima.

Os pais, irmãos, primos e outros parentes do vereador Valdomiro Francisco da Silva, 37 – assassinado a tiros numa emboscada, em agosto de 2006 – que lotaram a ala direita de bancos do plenário, derramaram lágrimas por achar que a pena foi muito pequena.

Tão logo o juiz João Cléve anunciou a sentença, após nove horas de trabalhos, a defesa também se pronunciou, avisando que vai recorrer e pensa até mesmo na possibilidade de pedir a anulação do julgamento, por razões que não quis revelar. Valdomiro ou “Miro Siqueierense”, como era mais conhecido – por ter nascido em Siqueira Campos – estava em seu primeiro mandado como vereador em Fazenda Rio Grande. Luciano era seu suplente, derrotado nas urnas por apenas seis votos de diferença. No entender da acusação e dos jurados, a cobiça pelo cargo de vereador, que lhe daria mais “status”, fez com que Luciano arquitetasse um plano diabólico para tirar o concorrente de cena.

Em meio a uma história complicada e com muitas trocas de acusações e ameaças, ele contratou outras três pessoas para executar a vítima. Teria pago módicos R$ 7 mil pelo “serviço”.

Morte

Atraído para uma cilada, “Miro” foi a um churrasco no Bar dos Amigos, para conversar sobre política. Logo que chegou, surgiram dois rapazes, armados. Um deles perguntou quem era o “Miro”. Ao responder “sou eu”, ele já recebeu os tiros. Cinco ao todo, sendo três na cabeça. Morreu na hora. Luciano também estava lá e ironicamente prestou ajuda, indo chamar a polícia e tentando consolar os familiares. Mas a farsa não durou muito. Em maio do ano seguinte, Luciano foi preso. Os dois executores do crime – Edio Oliveira Rocha e um menor de idade – foram capturados e confessaram tudo.

Julgamento em Fazenda Rio Grande durou nove horas.

Depois disso, várias testemunhas do caso, inclusive uma jovem que reconheceu o menor e forneceu o nome dele à polícia, contaram que foram ameaçadas por Luciano para que não revelassem o que sabiam.

O condenado nunca admitiu sua participação no episódio e saiu do Fórum algemado, alegando inocência. Nos próximos meses, Édio deverá ir a júri, acusado de autoria. O menor, que ficou preso algum tempo no antigo Educandário São Francisco, fugiu e já matou outra pessoa. E a mãe do garoto – que agora já é “de maior” – Carla Adriane dos Santos, que foi quem ficou com a maior parte do pagamento pelo assassinato e quem recrutou os dois atiradores, nunca chegou a ser presa. Dizem que ela é traficante de drogas e está em São José dos Pinhais. Só não se sabe por que a polícia não vai prendê-la.

Matança em série

Na esteira da morte de “Miro”, outros crimes teriam acontecido, com igual requinte e premeditação. A polícia atendeu os casos, mas não ligou uns aos outros e é possível que eles estejam fadados ao rol dos insolúveis, já que não há pessoas para investigá-los. Uma breve lida no processo que tramita pelo F&,oacute;rum mostra que pelo menos mais três pessoas foram assassinadas em circunstâncias ligadas à morte do vereador.

A conversa corre solta nos bares e nas esquinas sobre os demais crimes, porém ninguém tem coragem de procurar a polícia e revelar detalhes. A história que não foi contada oficialmente dá conta de que Luciano, antes de contratar Carla para que ela arranjasse os executores, teria acertado a encomenda com João Cristiano Ribeiro de Godói, o “Capeta”, e Everson dos Santos Lima. Ele receberiam R$ 10 mil. Os dois desistiram ao saber que a vítima seria Miro. O vereador fornecia cestas básicas para as famílias dos contratados.

Após o acerto com Édio e o menor, os dois outros deveriam ser descartados, numa legítima “queima de arquivo”. O fato é que “Capeta” apareceu morto em 16 de agosto de 2006 (cinco dias antes do assassinato do vereador), à margem do Ribeirão dos Padilhas, no Sítio Cercado. E Everson foi assassinado com um tiro atrás da orelha, em 26 de novembro do mesmo ano, na guarita de uma empresa de confecção onde trabalhava como vigia.

Conta-se que a namorada de “Capeta” tentou chantagear o mandante dos crimes. No dia 3 de dezembro de 2006 o corpo de Solange Nunes, 22 anos, foi encontrado em uma plantação de feijão, na Rua Rio Japurá, em Fazenda Rio Grande. Ela foi assassinada com requintes de crueldade, a golpes no rosto com um pedaço de meio-fio. “Capeta” também foi morto por espancamento.

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