O misterioso desaparecimento de três jovens, após terem sido detidos no 7.º DP (Vila Hauer), completou dez anos sem solução e continua trazendo muita dor e sofrimento aos parentes das vítimas. Junice Lima dos Santos, 61 anos, mãe de uma das vítimas, cansada do conformismo dos órgãos públicos em não dar informações sobre o caso procurou mais uma vez a Tribuna solicitando ajuda. Passado tanto tempo, ela já não tem mais esperanças de encontrar o filho com vida. “Como mãe, tenho direito de saber que destino teve meu filho. Quero ao menos encontrar os ossos para dar um enterro digno a ele. É muito triste”, disse emocionada a mãe. Junice contou ter procurado vários órgãos de segurança e inclusive chegou a enviar carta ao governador do Estado tentando obter a verdade sobre o que realmente aconteceu com o seu filho no dia 16 de outubro de 1992. Mas até o momento nada. “A Corregedoria fez um bom trabalho e me ajudou bastante, mas não solucionou o meu problema”, contou.
Outro fato que deixa Junice bastante angustiada é de que ainda não acharam, ao menos, a ossada de seu filho. Isso, segundo ela, é uma falha do Estado que não tem feito os exames de DNA nas ossadas que têm sido encontradas durante os anos. “O exame custa caro, eu sei. Mas é um direito enterrar o próprio filho. Só eu sei o que tenho passado”, desabafou.
Sumiço
A história que chegou até Junice sobre o desaparecimento de seu filho e dos outros dois jovens é meio obscura. De acordo com informações da época e relatadas por ela, José Aparecido dos Santos, 24 anos, o “Zezinho”, e os amigos Luiz Carlos da Fonseca, 24 e Clóvis Osório, 20, saíram com o veículo de propriedade de “Zezinho” (Fusca placa ABC-6303) e foram abordados por policiais. Por motivo ignorado, os rapazes teriam sido levados ao 7.º DP para tomar um “corretivo” e na seqüência desapareceram. Os familiares das vítimas acreditam que eles tenham sido assassinados e desovados em algum lugar distante. O Fusca foi encontrado mais tarde, abandonado na Vila São Pedro.
“Zezinho” não tinha antecedentes criminais, ao contrário de seus amigos, e de acordo com a mãe, no dia de seu desaparecimento, saiu com o carro sem levar os respectivos documentos.
Investigação
De acordo com Junice até agora nenhuma explicação sobre o desaparecimento dos garotos foi fornecida pelos órgãos competentes. A desesperada mãe disse que soube das supostas atrocidades cometidas contra seu filho através do depoimento de presos que estavam detidos no 7.º DP naquela noite. A Corregedoria da Polícia Civil ouviu dezenove presos que confirmaram a passagem dos jovens pelo DP e que José Aparecido sofreu torturas por parte dos policiais. “Arrebentaram a cabeça do meu filho e quando perceberam que ele iria morrer, arrastaram o corpo pelos corredores do distrito e juntamente com os outros jovens, o colocaram dentro de um carro. Depois desapareceram com os meninos”, disse Junice.
A Corregedoria da Polícia Civil chegou a ouvir os policiais acusados de participação no caso, mas nada foi provado contra eles. “Pelo que sei, eles continuam trabalhando normalmente”, relatou a mãe. “Eu quero justiça”, finalizas.