Stélio Machado está preso no Centro de Operações Policiais Especiais (Cope). |
Depoimentos e interrogatórios do inquérito de concussão (extorsão praticada por funcionário público), instaurado na Corregedoria da Polícia Civil, terminaram por volta das 3h da madrugada de ontem. Naboru Kamura Júnior, mais conhecido como “Japonês”, 27 anos, e sua mulher Marilza Kamura reconheceram o delegado Stélio Machado, titular da Homicídios; o superintendente Paulo Roberto Knupp, e o investigador Edmilson Polchlopek como sendo os três policiais que pediram dinheiro em troca de liberdade de Naboru. O trio foi preso em flagrante. Stélio está recolhido no xadrez do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), enquanto Paulo e Polchlopek na cadeia da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos.
De acordo com a Promotoria de Investigação Criminal (PIC), há mais policiais envolvidos no crime. Segundo a PIC, “as vítimas ainda não fizeram o reconhecimento, mas o farão. Assim que forem identificados será requisitada a prisão preventiva dos mesmos”. Quanto a “Japonês”, foi cumprido o mandado de prisão por furto. Ele foi autuado em flagrante ainda por falsidade ideológica.
Depoimento
“Japonês” depôs duas vezes. A primeira delas com o nome de seu irmão César Kazumi Kamura e a outra com seu nome verdadeiro Noboru Kamura. Ele justificou a troca dos nomes alegando que era fugitivo da cadeia de Londrina, onde cumpria pena por furto, estando por esse motivo com mandado de prisão decretado.
Em seu primeiro depoimento, ele disse que cerca de oito policiais chegaram na chácara, na localidade de Vossoroca, em São José dos Pinhais, por volta das 8h da manhã de sexta-feira. “Japonês” disse que os policiais chegaram com intuito de extorqui-lo. Os policiais teriam lhe pedido R$ 20 mil, aumentando posteriormente para R$ 25 mil.
Ele disse ainda que, ao alegar que tinha documentação do jet-sky supostamente roubado, os policiais falaram que ele teria que pagar a “fiança”, para buscar o documento e retirar o jet-sky da delegacia. “Japonês” citou que o delegado entrou uma vez na sala e lhe intimou: “Tá demorando muito, vou ter que te levar lá para baixo”, teria ameaçado.
“Japonês” e Marilza, que também foi ouvida como vítima, informaram que ambos foram levados até a delegacia, junto com um outro rapaz. O jet-sky e um motor de barco foram levados em cima de uma caminhonete, de propriedade do casal, até a Delegacia de Homicídios. A mulher afirmou, em seu depoimento, que antes de sair da chácara, se negou a acompanhar os policiais, chegando a bater-boca. Marilza ressaltava que não tinha praticando crime algum, quando um dos policiais teria dito: “Não tem problema, a gente pode colocar uma arma, droga, para a gente é fácil”. Diante do constrangimento, ela foi até a delegacia. Mas após uma conversa entre policiais e seu marido, liberaram a chave da caminhonete para Marilza e “Japonês” pediu que ela fosse atrás de dinheiro.
Após a PIC descobrir a verdadeira identidade de “Japonês”, ele não mudou sua versão, apenas acrescentou mais informações. “Japonês” contou praticamente a mesma história, ao ser ouvido novamente. Mas acrescentou que os policiais constataram o seu nome verdadeiro e começaram a pedir dinheiro por isso. Segundo “Japonês”, os policiais avisavam que não iriam checar no sistema, porque ficava gravado. Ele disse ainda que todos os policiais envolvidos entravam a todo o momento na sala e avisavam que estava demorando demais a chegada do dinheiro.
Arrecadação
Enquanto “Japonês” estava na delegacia, Marilza tentava levantar a quantia exigida. Por volta das 10h, seu marido começou a telefonar para ela, usando o telefone celular de um policial e o orelhão da frente da delegacia, onde, segundo informações da PIC, ele ia livremente.
Apavorada, a mulher tentou arrumar o dinheiro com amigos, parentes, mas não obteve êxito. Ela então ofereceu os carros para os policiais, que não quiseram aceitar. “Eles só tiraram o som”, contou.
Diante da situação, Marilza procurou revendas de carro para entregar os veículos em troca de dinheiro à vista, mas também foi em vão. Já desesperada, porque o prazo para entregar o dinheiro vencia por volta das 15h, ela procurou um amigo, que lhe orientou procurar um advogado.
Policiais
Em seus depoimentos, os policiais negaram a concussão. Eles alegaram que apanharam uma arma com numeração lixada em posse de “Japonês”, que estava guardada em uma das gavetas da delegacia.