Foto: Valquir Aureliano |
Sentença saiu ontem de madrugada. |
Depois de mais de 17 horas de julgamento, o professor Aristóteles Kochinski Smolarek Júnior, 28 anos, foi condenado a 27 anos e três meses de prisão. A sentença foi divulgada às 2h30 da madrugada de ontem, no Tribunal do Júri de Curitiba. Foram seis votos a favor e um contra em todos os crimes pelos quais Smolarek foi acusado: homicídio qualificado, aborto, ocultação de cadáver, registro de filho alheio como próprio e tentativa de estelionato. O advogado do professor, Haroldo César Náter, pode recorrer da sentença. Para a Justiça, o professor matou a esposa para receber um seguro no valor de US$ 400 mil.
Quase seis anos depois de assassinar sua mulher, Luciane Ribeiro de Paula, 18 anos, em Santiago do Chile, Smolarek sentou no banco dos réus do Tribunal do Júri. Ele confessou a autoria do crime. O julgamento começou na manhã da sexta-feira. A acusação já esperava que Smolarek fizesse a confissão (conforme divulgado com exclusividade em O Estado), alegando que desferiu um golpe com taco de beisebol na cabeça da vítima, após uma discussão. Com frieza, ele disse que a vítima arranhou seu rosto. Por isso apanhou o taco, que estava no banco de trás do veículo que haviam alugado para passear em Santiago, e atingiu a moça na cabeça. A briga continuou fora do carro, quando a jovem caiu num precipício de 50 metros.
Testemunhas
Após o interrogatório, foram lidas 300 páginas do processo. Somente por volta das 15h30 começaram a ser ouvidas as testemunhas, três de acusação e uma de defesa. Dois vizinhos de Smolarek foram ouvidos e relataram que ele era uma pessoa violenta. Um deles disse que certa vez pediu para que Smolarek abaixasse o volume do rádio. Ao invés disso, Smolarek aumentou o volume. No dia seguinte, o carro do vizinho estava riscado. A testemunha ainda falou que Smolarek agrediu verbalmente Luciane e que, certa vez, presenciou ele cuspir na jovem. O outro vizinho disse que era amigo do professor e que ele tinha atitudes estranhas, como jogar cal na lataria de carros na garagem. O vizinho contou que Smolarek teria tentado aplicar golpes em duas locadoras de veículos. A testemunha disse ainda que, após a morte de Luciane, Smolarek lhe mostrou uma fita de vídeo, com a gravação de uma matéria jornalística, referente a um seguro de R$ 500 mil. Depois informou ao vizinho que estava rico.
A terceira testemunha a ser ouvida foi a mãe de Luciane, Maria Judite Ribeiro dos Santos de Paula. Ela falou que a filha trabalhava em uma lanchonete e sobre a vida dos dois filhos que Luciane teve, antes de se casar com Smolarek. Segundo a mulher, a jovem estava grávida quando viajou para o Chile.
Defesa
O advogado de defesa, Haroldo Cézar Náter, fez várias perguntas para Maria Judite na intenção de que ela falasse que a filha era garota de programa, mas a mulher não confirmou. “Ele achava que a Vanessa (filha de Luciane) era sua, tanto que a registrou. Durante a briga no Chile, ela disse que a menina não era filha dele. Smolarek fez o que fez tomado pela emoção”, justificou o defensor.
A última testemunha a ser ouvida foi um vizinho e amigo da família de Smolarek. O advogado Dálio Zippin Filho fez perguntas à testemunha, buscando saber se ele tinha conhecimento de que Smolarek e sua mãe Leci haviam falsificado documentos para burlar a Justiça. O advogado de defesa pediu para o juiz Rogério Etzel não permitir as perguntas. Etzel rebateu dizendo que ele também tinha feito perguntas não pertinentes ao processo às testemunhas.
A acusação e a defesa começaram a defender suas teses por volta das 18h. O advogado Dálio Zippin lembrou que Smolarek responde a outros crimes, além dos cinco pelos quais foi julgado – como a falsificação de um habeas corpus – e que era suspeito de ter matado uma inquilina de sua avó. O motivo era que a mulher estava com os aluguéis atrasados. “Não sei como ficou esse caso. Mas a mulher levou dois tiros na cabeça”, salientou o defensor, que pediu aos jurados que condenassem Smolarek a uma pena superior a 30 anos de reclusão.
Haroldo Náter alegou que seu cliente não premeditou o crime e que não tinha planos de dar um golpe no seguro. Ele solicitou que os jurados condenassem Smolarek, mas entendendo que ele praticou um homicídio privilegiado, movido sob violenta emoção. “É um réu confesso e deve ser condenado na medida de sua culpabilidade”, acrescentou.