O presidente do Sindicato Rural de Ponta Grossa, Marcos Degraf, admitiu ontem, em depoimento na sede da Polícia Federal, em Curitiba, que cedia as instalações do sindicato para as reuniões de fazendeiros com o tenente-coronel Valdir Copetti Neves, acusados de financiar e chefiar – respectivamente – uma milícia armada que agia na região. Foram ouvidos ainda dois fazendeiros, Manuel Ribas Neto e Maria Helena Ribas Coimbra que confirmaram pagar cotas mensais para a realização de patrulhamento em suas propriedades. Não se sabe o valor exato que cada fazendeiro pagava e eles informaram que a quantia variava de acordo com o tamanho da propriedade. A secretária do Sindicato Rural, Eliane Primila, prestou depoimento e confirmou receber envelopes com dinheiro de fazendeiros e repassá-los para o coronel Neves ou para pessoas de sua confiança enviadas para pegar os valores. Eliane disse que fazia este intermédio mas não sabia o porquê dos repasses. Com as informações, a PF vai solicitar a quebra do sigilo bancário de Neves para verificar a movimentação financeira do militar e comprovar depósitos feitos na conta dele, por fazendeiros, para pagar a milícia e o repasse que o coronel fazia aos ex-policiais, que executavam o serviço.
Degraf mudou completamente a versão apresentada na terça-feira passada, quando a PF deflagrou a operação "Março Branco" e prendeu, além do tenente-coronel, cinco PMs e dois falsos sem terra. Naquela data, Degraf foi até a sede da PF e disse que desconhecia a formação de qualquer milícia ou grupo chefiado por Neves para patrulhar fazendas em Ponta Grossa.
Os fazendeiros informaram à Polícia Federal que antes de contratarem os serviços do coronel, a Polícia Militar fazia uma patrulha rural e eles colaboravam pagando o combustível. Com o cancelamento deste serviço, eles resolveram contratar um grupo particular para fazer a patrulha. Porém disseram à PF que não sabiam que o trabalho estava sendo desvirtuado pelo coronel Neves, para atuar contra sem terra.
Hoje, serão ouvidos outros seis fazendeiros. Todos eles foram citados pelos PMs aposentados Ricardo José Derbes, José Valdomiro Maciel e Nereu Paschoal Moreira, que resolveram prestar depoimento na sexta-feira da semana passada e revelaram detalhes de como o grupo atuava. Como todos os fazendeiros estão colaborando com a polícia e resolveram falar espontaneamente, eles estão sendo ouvidos como testemunhas. Terminados os depoimentos, a PF vai analisar o material levantado juntamente com a Procuradoria da República, para verificar se cabe o indiciamento de algum dos fazendeiros.
Contradições
O presidente do Sindicato Rural, Marcos Degraf, informou por intermédio do assessor jurídico do Sindicato Rural, Amauri Paulo Constantine, que em março do ano passado foi procurado por Neves que pediu para que o sindicato cedesse uma sala para que ele fizesse uma reunião com fazendeiros. Degraf disse que cedeu a sala e que nunca participou das reuniões e também não procurou saber o conteúdo do que era discutido.
No entanto, durante depoimento na PF ontem, Degraf disse que sabia o que era discutido entre os fazendeiros e o coronel. Amauri disse ainda que Degraf ficou sabendo através da imprensa que a secretária do sindicato, Eliane Primila, repassava os envelopes com o dinheiro dos fazendeiros para pagar a milícia.
