Para desespero dos familiares dos mais 100 presos recolhidos no xadrez do 12.º Distrito Policial, em Santa Felicidade, são desconhecidas as condições do detento baleado durante a rebelião ocorrida no final da tarde de sábado.
Sabe-se que ele levou um tiro na cabeça no momento em que os presos tentaram dominar dois policiais que faziam a entrega das marmitas, por volta das 17h40.
Na tarde de ontem, os policiais de plantão diziam não estar autorizados a divulgar o nome do preso, o seu histórico criminal nem se ele estava vivo ou morto.
Da mesma forma, no Hospital Evangélico, por determinação superior, as enfermeiras não revelaram seu estado de saúde. O mistério, em torno do caso, levou muitos parentes de detentos recolhidos na distrital ao desespero, já que ninguém sabe quem é o ferido.
Na confusão, o investigador Marcelo Sakamoto foi feito refém e levado para dentro de uma cela. Foi ameaçado durante quase três horas e recebeu alguns ferimentos no rosto. Depois de liberado, graças a negociações levadas a efeito por policiais militares, mas em estado de choque, o policial foi medicado e passa bem.
De acordo com a polícia, providências já foram tomadas para evitar nova revolta. Ainda na noite de sábado, dez presos foram removidos para o Centro de Triagem 2, em Piraquara. A partir de hoje, novas remoções deverão acontecer. A delegacia também informou que irá cobrar a agilização dos processos criminais para acelerar a transferência dos detentos para o sistema penitenciário.
Ainda segundo a polícia, nenhum dos demais presos no 12.º DP ficou ferido e a cadeia está em ordem. Durante a rebelião, os presos jogaram comida e lixo nos corredores da carceragem, porém nada foi destruído.
Espremidos e perebentos
Márcio Barros
O 12.º Distrito Policial recentemente foi visitado pela Vigilância Sanitária e também pela Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná (OAB-PR), quando foi confirmada no xadrez a superlotação, falta de ventilação, umidade e calor dentro das celas.
Alguns dias depois, foram instalados três exaustores, que reduziram a umidade e o calor dentro no xadrez. No entanto, a superlotação, que continua, deteriora as condições de higiene e sanitárias dos presos. Na hora da rebelião havia 129 detentos em celas que deveriam receber no máximo 26 pessoas.
Em abril, a Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR verificou que doenças de pele, como sarna e micose, proliferam entre os presos. Também já foram registrados casos de tuberculose.
Para amenizar a situação e evitar que o xadrez receba mais gente, iniciou-se um processo de filtragem. ?Eles não estão mais recebendo membros do PCC; condenados; reincidentes ou presos obesos. Hoje, 98% dos presos são réus primários, lá?, afirmou a secretária da comissão, a advogada Izabel Kugler Mendes.
Ainda de acordo com Izabel, a diretoria da Polícia Civil teria entrado em contato com a Corregedoria Geral de Justiça para pedir mais prazo para as adaptações. Caso as melhorias não sejam feitas, o 12.º DP também pode ser interditado.