Sicride encontra irmãos desaparecidos

Duas crianças que estavam desaparecidas, há três meses, de São José dos Pinhais, foram encontradas durante o final de semana em Curitiba. Os irmãos Thiago, 12 anos, e Lucas, 9, passam bem e estão recolhidos junto ao Conselho Tutelar do município no qual residiam. As crianças haviam fugido de casa, situada na Vila Margarida, na cidade vizinha, em 31 de julho deste ano.

Na noite de sexta-feira, Thiago foi localizado pelo Resgate Social – trabalho de assistência da Prefeitura de Curitiba – transitando pelas ruas e foi levado até o abrigo. Lá foi descoberto que ele era uma das crianças desaparecidas. Na noite de sábado, Lucas foi encontrado no bairro Cabral. Ele foi ouvido pela delegada e conduzido ao encontro do irmão.

No dia em que fugiram de casa, Thiago e Lucas conheceram um carrinheiro, em Curitiba, e o homem lhes ofereceu moradia ao custo diário de R$ 10,00. Os meninos concordaram com a proposta e passaram a dormir na moradia do coletor de papel, na Vila Leonice, convivendo com o desconhecido. Há pouco tempo, o carrinheiro mudou-se para uma nova casa, no Tarumã, e os garotos o acompanharam. Para conseguir pagar a diária, os menores viraram pedintes pelas ruas de Curitiba, entretanto, não eram obrigados a exercer a função pelo carrinheiro.

"Medo do pai"

A história dos irmãos se enquadra em muitos casos averiguados pelo Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride). São crianças e adolescentes que fogem de suas moradias por problemas com os pais, resultantes de maus-tratos. No caso específico dos garotos, eles não querem retornar para casa e conviver sob a guarda do pai.

De acordo com a delegada Márcia Tavares, no dia em que fugiram de casa, Thiago e Lucas haviam saído para vender produtos de artesanato nas ruas de Curitiba. Como se atrasaram no retorno a São José dos Pinhais e tiveram medo da reação do pai, os dois resolveram perambular pelas ruas da capital do Estado.

Márcia conta que, no primeiro contato, Thiago ofereceu um acordo para informar onde poderia estar seu irmão mais novo. O pedido era para que ele não retornasse a morar com o pai.

Diante das informações dadas à polícia, foi solicitada à Justiça um mandado de busca e apreensão na casa do carrinheiro e investigadores do Sicride passaram a diligenciar nas regiões onde o garotinho de 9 anos costumava pedir esmolas. A ação culminou com a localização da criança, no bairro Cabral.

Ambos estão à disposição do Juiz da Vara da Infância e da Juventude e, temporariamente, sob a responsabilidade do Conselho Tutelar, em um abrigo. Thiago e Lucas já haviam fugido de casa em 2004.

Carrinheiro vai ter que se explicar

A delegada Márcia Tavares (Sicride) informou que pretende convidar o carrinheiro a prestar depoimento sobre o oferecimento da moradia para abrigar os irmãos desaparecidos mediante pagamento de diárias. O indivíduo poderá ser responsabilizado pelo ato. Conforme informações repassadas pelas crianças à polícia, depois de acertarem o pagamento de R$ 10,00 pela moradia, eles tiveram uma surpresa quando chegaram no endereço do carrinheiro. Lá estavam outros dois adolescentes dormindo, cujos primeiros nomes são Robson e Diego. Esses garotos não foram localizados e o Sicride não tem informações sobre crianças desaparecidas com esses prenomes.

Na casa de madeira, localizada na Vila Leonice, o carrinheiro, sua mulher e um bebê dormiam no único quarto do local. Thiago e os outros adolescentes descansavam em colchões dispostos num cômodo nos fundos da residência. Lucas dormia no sofá da sala. Cada um dos ocupantes da casa deveria pagar R$ 10,00 para poder dormir. Se não permanecessem na moradia, não precisavam pagar. "Era uma escolha deles. Eles não eram obrigados a ficar e, conseqüentemente, a pagar para o carrinheiro. Eles tinham liberdade", relatou a delegada. Por esses motivos, o indivíduo não pode ser enquadrado em crimes de cárcere privado ou exploração de trabalho infantil, por exemplo.

"Pensão"

A casa do carrinheiro servia como uma espécie de pensão, que era usada pelas crianças e adolescentes quando eles queriam.

Com base nas informações recebidas é possível que outras crianças, que estão sendo procuradas pelo Sicride, tenham pernoitado por algumas vezes na casa do carrinheiro. Por esse motivo é imprescindível que o indivíduo seja ouvido. Atualmente, o Sicride trabalha em 23 casos de crianças desaparecidas.

Há uma outra denúncia envolvendo o indivíduo que ainda será averiguada pela Divisão de Narcóticos (Dinarc). O negócio de aluguel de aposentos a crianças era rentável para o carrinheiro. Cada dia que as quatro crianças dormiam em sua residência, ele recebia, no mínimo, R$ 40,00.(CB)

Justiça decidirá destino dos irmãos

Thiago e Lucas estão sob os cuidados do Conselho Tutelar de São José dos Pinhais. De acordo com a conselheira Maria de Fátima de Chaves Rocha, os irmãos estão em um abrigo e permanecerão por lá até que o juiz da Vara da Infância e da Juventude se pronuncie sobre o caso. O Conselho ainda vai realizar estudos sobre as condições de vida dos garotos junto aos seus familiares. O resultado será encaminhado à Justiça para dar subsídios à decisão final. Inicialmente, os garotos não querem voltar a conviver com o pai, porque eles alegam maus tratos.

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