Leci (de costas) e Maria
esconderam as crianças.

Com três prisões, o longo seqüestro de uma menina de 5 anos foi encerrado ontem pelo Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride). A garota é filha de Luciene Ribeiro de Paula – assassinada a pauladas em Santiago do Chile, há mais de quatro anos – e estava sob os cuidados da família do professor Aristóteles Smolarek Júnior, 26, contrariando ordem da Justiça. A criança será devolvida ao pai biológico, que detinha a guarda oficial.

Depois de 9 meses de investigações, o Sicride, com auxílio do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), localizou a menina ontem pela manhã, em São José dos Pinhais, na casa de Maria Luiza Rosa, 37 anos. Suja, com o cabelo cortado bastante rente à cabeça e ainda tingido, a criança foi entregue inicialmente a uma psicóloga do órgão. Após passar por um trabalho de assistência e orientação, a garota deverá ser devolvida ao motoboy José Divonzir dos Santos, 27, seu pai biológico.

Na residência de Maria Luiza, foram detidas a mãe dela, Leci Smolarek, 55 anos, e a avó, Maria Brasílio, 78. Juntas, as duas últimas cuidavam da criança. Marcelo Brasílio Rosa, 23 anos, filho de Maria Luiza, que esteve na casa e teria auxiliado a guardar a menina, também foi preso. A proprietária da residência, que tem mandado de prisão por envolvimento no caso, conseguiu fugir. “Todos os que deram abrigo à criança ou mandaram dinheiro a quem a mantinha, também são enquadrados como participantes do seqüestro”, explicou a delegada titular do Sicride, Márcia Tavares dos Santos.

Assassinato

A garotinha tinha apenas nove meses quando a mãe dela, na época com 18 anos, foi assassinada no Chile com golpes de taco de beisebol. Aristóteles, que havia se casado com Luciene dois meses antes, foi apontado com autor do crime pela Justiça chilena e fugiu para o Brasil, acreditando que aqui iria se livrar da responsabilidade pelo assassinato. Porém, a Justiça brasileira decidiu no início do ano, que ele será julgado aqui, em breve. Por enquanto Smoraleck permanece recolhido no presídio do Ahú.

Entre o casamento e o assassinato, o professor fez dois seguros de vida em nome da esposa e da garotinha, no valor total de R$ 400 mil, sendo ele o beneficiário. Até hoje Smoraleck nega o crime, afirmando que deixou a esposa a 20 metros do hotel onde haviam se hospedado, em Santiago, e nunca mais a viu. Em recente audiência na Justiça, quando pedia para não ser levado à julgamento pela Justiça comum -alegava que seu caso deveria ser tratado pela Justiça Federal -o acusado abriu mão do prêmio do seguro de vida da mulher, para tentar mostrar sua inocência. Porém a própria seguradora, suspeitando que ele havia aplicado um golpe, já havia se recusado a fazer o pagamento e ajudava nas investigações que o incriminaram.

Registro

Fruto de um breve relacionamento entre a mulher e José Divonzir, a criança foi registrada depois do casamento como filha de Aristóteles. O pai verdadeiro sequer sabia da existência da criança – só foi informado após o crime, pela família de Luciene.

Durante a viagem do casal a Santiago, a criança ficou com Leci Smolarek, mãe de Aristóteles. Com base no depoimento de testemunhas, José Divonzir conseguiu a guarda definitiva em 5 de julho do ano passado. Um oficial de justiça foi destacado para resgatar a criança na casa de Leci, no Alto da XV, mas ela despistou, apanhou um táxi e desapareceu levando a menina consigo.

Desde então, o caso foi tratado como seqüestro pelo Sicride. “Leci esteve em São Paulo e no Rio de Janeiro com a criança. Acionamos a Polícia Federal para procurá-la”, falou a delegada.

Os acusados, que não quiseram se pronunciar, foram presos em flagrante por seqüestro, cárcere privado e formação de quadrilha.

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