Rebeliões, ônibus incendiados e polícia alerta. Os sintomas, mesmo em menor escala, são os mesmos dos atentatos em São Paulo, deflagrados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) desde o início da semana. A diferença é que ocorreram no Paraná. Na madrugada de ontem, presos se amotinaram nas cadeias públicas de Campo Mourão e Sarandi. Na quinta-feira, ônibus urbanos em Cascavel e Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná, foram incendiados. A Secretaria de Segurança Pública (Sesp), apesar das semelhanças, assegura que não há ligação dos crimes com o PCC, e que todos os esforços são para manter a facção longe do Estado.
Um agente penitenciário que pediu para não ser identificado afirmou à reportagem da Tribuna que "todos dentro do sistema penitenciário estão muito tensos". O motivo seria a transferência de presos para o recém-inaugurado presídio federal de Catanduvas, que poderia ser um dos motivadores dos problemas em São Paulo. Para o coronel Honório Olavo Bortolini, coordenador do Departamento Penitenciário (Depen), quem trabalha no sistema penitenciário exerce uma profissão de risco e por isso tem de estar mais alerta quanto à sua segurança e de sua família.
"Não existe qualquer indício de que possa haver problemas no Paraná", afirma o coordenador. Porém ele confirmou que está em vigor uma rotina mais rígida, com revistas mais minuciosas e maior controle dos presos. Para o coronel, o atendimento que os detentos recebem no Estado ajudaria a evitar o panorama paulista. "No Paraná, procuramos atender o preso de forma digna. Tem bom atendimento jurídico, médico, social. Está cumprindo pena, mas é ser humano. Nossas penitenciárias não são superlotadas. As cadeias públicas são, mas nas penitenciárias procuramos não deixar justamente para que o preso tenha local e oportunidade de ser socializado."
Nota
A Secretaria da Segurança de Pública divulgou nota informando que forças policiais especializadas e o Departamento de Inteligência estão em alerta máximo e trabalham ininterruptamente na tentativa de evitar que aconteçam no Paraná ações similares às cometidas em São Paulo por facções criminosas.
"Preventivamente, a Secretaria da Segurança determinou reforço policial em alguns locais estratégicos e todos estão atentos para qualquer movimentação dessas facções aqui no Estado", diz a nota.
Em Catanduvas a segurança foi reforçada. Agentes federais e penitenciários percorrem toda a cidade. Policiais rodoviários federais param todos os carros que se dirigem à cidade. Ronaldo Urbano, diretor do presídio, diz que policiais federais da recém-criada delegacia de Cascavel também estão percorrendo as ruas de Catanduvas à noite fazendo abordagens de pessoas em atitudes suspeitas ou que sejam estranhas. "A cidade é pequena e fácil de controlar", disse. O município tem cerca de 11 mil habitantes, 7,5 mil dos quais vivem na zona urbana. "Estamos monitorando possíveis células criminosas que poderiam estar vindo para a cidade", acentuou.
Rebeliões e ônibus queimados
Em Campo Mourão, presos da cadeia pública fizeram um motim na madrugada de ontem, que só foi contido com a chegada da tropa da Companhia de Choque da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros. O superintendente da delegacia, Job de Freitas, nega ligação do ato com os atentatos de São Paulo. "Eles reivindicam o andamento dos processos", afirma Freitas. Com capacidade para 64 presos, a cadeia abriga atualmente 130. Seis pessoas ficaram feridas nas cinco horas de tumulto que deixaram as celas completamente destruídas.
Outro motim aconteceu na manhã de ontem, em Sarandi, onde 142 presos iniciaram tumulto dentro das celas. O motim foi controlado 40 minutos depois do início. Dois carcereiros tiveram ferimentos leves e alguns presos foram atingidos por balas de borracha. O tumulto teria começado após a recusa de um detento de sair da cela.
Em Cascavel, na quinta-feira, um ônibus do transporte coletivo foi destruído por vândalos na região do Conjunto Julieta Bueno, no bairro Melissa II. O bando tentou incendiar o veículo, mas não conseguiu. Também na quinta-feira, um ônibus da Viação Itaipu, de Foz do Iguaçu, foi incendiado por pessoas que alegavam se tratar de um assalto. Um dos criminosos se queimou e foi hospitalizado.
Ninguém ficou ferido nas ações. A polícia não acredita que os ataques tenham algum tipo de ligação com o PCC e os atribui a vândalos.
Ataques continuam em SP
São Paulo (AE) – Após denúncia anônima, policiais militares prenderam, por volta das 14h30 de ontem, três pessoas acusadas de participarem de incêndios em ônibus na região de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Assim, sobe para 61 o número de suspeitos presos pela polícia, somando-se aos dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP). Entre os dias 11 de julho até a madrugada de ontem, 58 pessoas acusadas de participar dos ataques em São Paulo foram presas, segundo a SSP.
O trio preso nesta sexta no ABC estava em um veículo roubado que foi abordado na Rua Diogo Botelho, no Jardim Silvinha. Na delegacia, o proprietário do veículo reconheceu os três detidos como os autores do roubo e mencionou que durante a ação, os criminosos falaram que iriam incendiar ônibus.
Ainda na tarde de ontem, mais um ônibus foi incendiado em Santo André, no ABC paulista. O ataque aconteceu por volta das 14 h. Os criminosos retiraram todos os passageiros, jogaram gasolina e atearam fogo. Ninguém ficou ferido.