O abuso de poder de quatro seguranças particulares da empresa Metronic por pouco não resultou em tragédia maior. No dia 2 de novembro, três adolescentes foram espancados e torturados enquanto cheiravam tíner no terreno de uma igreja no bairro Centro Cívico. Um dos garotos foi queimado e continua internado no Hospital Evangélico, sofrendo risco de morte. Dos quatro criminosos, José Alexandre Gonçalves, 29 anos, está preso e Lourival Buava Pinto Júnior, foragido. Os demais ainda estão sendo procurados pelo Nucria – Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente.
De acordo com a delegada Ana Cláudia Machado, titular do Nucria, ontem as duas vítimas foram levadas até a igreja, situada na Rua Alberto Folloni, onde fizeram a reconstituição do crime. Eles contaram que estavam cheirando tíner no terreno da igreja quando resolveram mexer no alarme que acreditavam estar desativado. Apesar de não soar o apito, o aparelho foi acionado na central da empresa. Três seguranças foram até o local e em seguida o quarto homem, tido como o mais violento, chegou em apoio. "Quando viram este segurança, os demais falaram: piazada, vocês se ferraram pois o carrasco chegou", conta a delegada.
Os seguranças então espancaram e jogaram tíner em um dos adolescentes. Em seguida, com um aparelho de choque, atacaram o menor. Um faísca o atingiu e o fogo alastrou-se pelo seu corpo. Ainda durante a tortura um outro menor foi colocado de cabeça para baixo na laje da igreja e ameaçado de ser jogado.
Em chamas
Os seguranças então foram embora e o menor, em chamas, se rolou no chão para tentar apagar o fogo. Os criminosos teriam ordenado que os outros menores fossem embora sem prestar socorro, sob ameaça de também serem queimados. As vítimas então correram até perto do shopping Mueller, de onde ligaram para o Siate. O adolescente ferido, que recebeu queimaduras de segundo e terceiro graus, foi levado ao Hospital Evangélico, onde continua internado. Segundo a delegada, ele apresenta 18% do corpo com queimaduras de segundo grau e 27% de terceiro.
Ana Cláudia Machado diz que a polícia só foi avisada dezenove dias depois do crime. "Como o menor morava num abrigo público, a família só foi saber do crime dia 21 de novembro, quando foi registrada a queixa. A mãe soube do caso porque a assistente social do hospital ajudou o menor a encontrá-la", explica a titular do Nucria.
A delegada então foi até a empresa de segurança para identificar os criminosos, mas só conseguiu apurar a participação de José, que está recolhido no Centro de Triagem, e Lourival, que está com prisão preventiva decretada, mas encontra-se foragido. A polícia trabalha agora para identificar o segurança conhecido por "carrasco" e o quarto participante da barbárie.
Segundo Ana Claúdia esta não é a primeira vez que seguranças da Metronic são acusados de abuso de poder. No ano passado, funcionários da mesma empresa agrediram um menor acusado de ter furtado mercadorias de um supermercado e este ano outro adolescente foi agredido próximo do terminal de ônibus do Pinheirinho.
