Por ciúme e por divergência financeira, o segurança Peter dos Santos Bicalho, 22 anos, matou sua amante, a estudante Karina Munhak, 23. Esta é a conclusão tirada pela Delegacia de Homicídios, que ontem apresentou o desfecho do assassinato da jovem, encontrada morta no quarto 302 do Hotel Rheno, na Rua Pedro Ivo, centro, na noite de 1.º de julho. O acusado, preso quarta-feira, alega inocência, mas a polícia afirma que as provas recolhidas não deixam dúvida quanto à culpa dele.
Na casa de Peter, localizada na Estrada Delegado Bruno de Almeida, Tatuquara, a DH encontrou o Celta prata, AKU-8812, que pertencia a Karina e desapareceu no dia do crime, e os documentos do veículo. No guarda-roupa do acusado foram achadas uma camisa azul e uma calça preta, semelhantes às roupas do homem que esteve no hotel com a estudante naquela noite. “Quatro testemunhas o reconheceram. Foi ele quem entrou no quarto com Karina”, afirmou o delegado titular, Luiz Alberto Cartaxo Moura.
Peter e Karina mantinham relacionamento extraconjugal desde o ano passado. O segurança, que também era casado, providenciou internamento da jovem numa clínica de recuperação de dependência química e tratamento para depressão, entre agosto e setembro de 2003. Quando a estudante deixou a clínica, os dois hospedaram-se durante uma semana no mesmo quarto 302 do Hotel Rheno. “Ali era a casa deles”, disse Cartaxo.
Fim de caso
Karina, casada e mãe de dois filhos, freqüentou a residência de Peter e o via esporadicamente, mas ultimamente o caso não andava bem. “Ela queria abandoná-lo porque estava se reconciliando com o marido e empolgada com o novo namorado do cursinho pré-vestibular”, disse o delegado Átila da Rold Roesler, responsável pelo inquérito. Peter teria comentado com interlocutores que era louco pela estudante e faria de tudo para não perdê-la.
Além disso, o segurança atravessava problemas financeiros. Sem profissão fixa, era sustentado pela mulher dele e pelo dinheiro que Karina eventualmente lhe dava. A amante chegou a prometer um empréstimo de R$ 17 mil para que ele abrisse um negócio próprio, mas o dinheiro nunca lhe foi entregue.
A soma da dor pela iminente separação com o desacerto financeiro motivou o assassinato, no entender da polícia. “Creio que o crime não foi premeditado, e ocorreu durante um desentendimento no hotel”, acredita Cartaxo. Karina foi morta por esganadura e o autor do crime simulou um suicídio, enrolando o pescoço dela num lençol, deixando-a sentada seminua sob o vaso sanitário.
Peter, que tinha uma passagem por furto no 1.º Distrito Policial (centro), foi preso em flagrante por receptação – já que estava com o carro da vítima. A DH enviou ontem à Justiça o pedido de prisão preventiva pelo assassinato de Karina.
Mesmo hotel, mas com outra mulher
Peter dos Santos Bicalho negou ter matado a amante Karina Munhak. Nas poucas palavras ditas à imprensa, alegou que o Celta foi deixado em sua casa por um amigo, chamado Róbson, que também conheceria a estudante. “Nem sabia que ela tinha morrido. Se tivesse matado, não deixaria o carro dela na minha garagem”, afirmou.
Quanto ao reconhecimento das testemunhas, sustenta que esteve no hotel com outra mulher no mesmo dia 1.º de julho. “Mas ele não disse nome nem endereço desta mulher. Seu álibi é muito frágil”, rebate o delegado Luiz Cartaxo, da Delegacia de Homicídios.
O acusado afirma que foi “casado” com a vítima, embora a DH o aponte como apenas mais um entre os vários amantes de Karina. “Não tinha nenhum motivo para matá-la”, disse o segurança.
A versão foi apresentada extra-oficialmente por Peter à imprensa e aos policiais. No depoimento oficial à Delegacia de Homicídios, preferiu evocar o direito de ficar calado e manifestar-se apenas em juízo. “Nem ele acreditou na história que inventou. Para nós, o silêncio serviu como confissão de culpa”, disse Cartaxo.
Internamento denuncia acusado
Dois fatos foram fundamentais para a elucidação do complicado caso: a estadia de uma semana que Karina Munhak e um homem tiveram no mesmo quarto 302 do Hotel Rheno, em setembro de 2003, e a localização do carro da vítima.
Investigadores da DH sabiam que havia um terceiro amante de Karina, além dos dois já localizados e interrogados. Policiais descobriram que este homem providenciou o internamento da jovem numa clínica, no ano passado, e através do prontuário de registro do estabelecimento chegaram ao nome e endereço de Peter.
O retrato falado do autor, confeccionado por testemunhas, é bastante semelhante a Peter. O único detalhe destoante é a altura do suspeito (cerca de 2,08m), bem maior do que a apontada anteriormente (cerca de 1,75m). “As testemunhas eram mulheres, que disseram que o homem era alto. Às vezes, elas não têm noção exata da estatura”, argumenta o delegado responsável pelo caso, Átila Roesler.
O telefone celular e o diário da jovem, onde ela anotava detalhes sobre os casos amorosos, não foram encontrados pela polícia.