O secretário-executivo do Comitê Interamericano contra o Terrorismo, da Organização dos Estados Americanos (OEA), Steven Monblatt, disse ontem, em Foz do Iguaçu, que não há confirmação da presença de grupos terroristas atuando na região da tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai.
“Não posso constatar a presença de células (terroristas) no sentido em que se usa a palavra. Mesmo segundo o Departamento de Estado (órgão do governo dos EUA), não foi constatada a presença de nenhuma célula”, afirmou à imprensa ao chegar ontem de manhã para visitar a Itaipu Binacional, acompanhado do diretor-geral brasileiro da usina, Jorge Samek, e do cartunista Ziraldo Alves Pinto.
Monblatt acrescentou ainda que não vê riscos de ocorrência de atos terroristas na região das três fronteiras. “Quando penso em alvos potenciais do terrorismo, não penso nesta região”, assinalou. “Acho que aqui, vocês estão mais preocupados com isso (repercussão) do que lá fora”, disse Monblatt. “Lá fora essas notícias não têm tanto impacto quanto têm aqui”, relativizou.
A declaração do diplomata, que já foi subsecretário antiterrorismo do governo dos EUA, encerra a polêmica sobre as supostas denúncias que mancharam a imagem da terra das Cataratas do Iguaçu internacionalmente. Após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, nos EUA, passou-se a dizer, com incentivo de fontes ligadas aos órgãos de inteligência do governo americano, que a tríplice fronteira abrigava, por exemplo, células terroristas da Al-Qaeda, de Osama bin Laden. Até hoje, Foz e as demais cidades da região, que têm no turismo sua principal fonte de renda, sofrem com esse tipo de alarmismo.
Monblatt disse que a questão mais preocupante hoje na tríplice fronteira refere-se à remessa de dinheiro para o exterior. Ele sugere que a comunidade árabe tome algumas precauções para evitar que as doações feitas a entidades beneficentes e organizações assistenciais e políticas em seus países de origem, venham, de alguma forma mesmo que indiretamente, beneficiar atividades terroristas.
“Gente de boa fé pode estar sendo usada por pessoas com fins não muito bons”, diz Monblatt. “O importante é verificar para onde vai esse dinheiro (das doações) e como está sendo usado, porque às vezes as pessoas enviam dinheiro à entidades de outros países pensando estar contribuindo de boa fé com alguma obra boa e sem saber estão contribuindo com o terrorismo ou outras atividades ilícitas.”
A questão da lavagem de dinheiro é outro fator preocupante para a imagem internacional das três fronteiras, segundo ele. Mas Monblatt reconheceu que o governo brasileiro faz um grande esforço no combate a esse tipo de crime. Acredita, no entanto, que há a necessidade de combater esse problema por meio de uma ação conjunta, e permanente, entre Brasil, Paraguai e Argentina.
Exemplo
Já de acordo com o diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Samek, a visita de Monblatt contribui para restabelecer a verdade sobre esse episódio. “Nos últimos tempos correram o mundo muitas informações erradas, deturpadas sobre a região. Isso trouxe prejuízos enormes. Então, a verdade tem que ser restabelecida, e se restabelece, por exemplo, trazendo personalidades como o senhor Monblatt, para que sirvam de base para uma informação com credibilidade”, afirmou.
Samek diz que a região das três fronteiras é um exemplo para o mundo de convivência pacífica entre povos que vieram de lugares os mais distantes e construíram uma comunhão. “Aqui, o árabe vive bem com o judeu, o polonês pode viver bem com o alemão, o brasileiro com o paraguaio e o argentino”, afirma. “Esta região é um dos destinos turísticos mais importantes do mundo. E o turista quer paz, beleza, segurança, e é isso que temos a oferecer.”