Em túmulo emprestado e no caixão comprado a prestação por um dos filhos, João Mochinski, 50 anos, está sepultado no Cemitério do Bugre, em Balsa Nova.
Vítima de policiais, que o mataram a tiros ao confundi-lo com um criminoso, ontem ele foi homenageado pela comunidade.
?João do Campo?, como era conhecido, por cuidar com extremo carinho do pequeno campo de futebol da Prefeitura, onde ensinava os primeiros dribles à garotada, deixou saudade e inconformismo.
Sete dias depois de seu assassinato nem mesmo um pedido formal de desculpas à família foi feito. Até hoje, nenhum representante das polícias Civil ou Militar ou um simples servidor da Secretaria de Segurança Pública apareceu na casa onde ele morava com a mulher e os quatro filhos.
Câncer
Há seis anos ele lutava contra a leucemia. Foi no campo de futebol do time São Caetano, situado no bairro de mesmo nome, que ele encontrou forças para vencer a doença. Há quatro anos, foi contratado pela Prefeitura de Balsa Nova para fazer a manutenção do local, mas não se deteve a essa função.
?Meu pai plantou toda a grama do campo sozinho. Além disso, ajeitava areia do parquinho para as crianças e era preparador físico e massagista dos jogadores do time. Era o ?paizão? de todo mundo?, conta o filho Ricardo Mochinski, 25.
Ontem, em frente ao campo e ao parquinho, dezenas de crianças de dois colégios do bairro se reuniram para prestar uma homenagem a João. ?Ele enchia o pneu da minha bicicleta. E agora, quem vai fazer isso pra mim??, disse um garotinho de 8 anos. João, da mesma idade, anunciou orgulhoso: ?Serei o próximo ?João do Campo?. Vou fazer como ele. Ajudar todo mundo?.
Contra-mão
Poucas horas antes da manifestação das crianças, o secretário da Segurança Pública, Luiz Fernando Dellazari, enaltecia o trabalho da polícia, durante a Escola de Governo. ?A maior mudança deste governo foi neste sentido, de ter policiais cada vez mais bem preparados para agir em nome e em defesa da comunidade?, salientou Dellazari.
A fala do secretário soou irônica para a família de ?João do Campo?, vítima de erro ainda mal explicado. O governo não prestou qualquer ajuda à mulher ou aos filhos da vítima. A própria Secretaria de Segurança preferiu manter o silêncio, ontem, quando questionada sobre a omissão.
Ricardo, segundo filho de João, parcelou o pagamento do funeral, que custou R$ 1.300. O terreno do cemitério foi emprestado por uma tia. Era João quem sustentava a esposa, os quatro filhos, o genro e a neta de 8 anos. Agora, o filho Robson, de 20 anos, que é garçom, e Ricardo, que busca aprovação no concurso para a Guarda Municipal de Campo Largo, serão os provedores da família.
Filho diz que foi seguido
Ricardo Mochinski também teme por sua vida, de seus irmãos e de sua mãe. Na terça-feira, por volta das 16h, Ricardo passou de carro em frente ao campo de futebol do São Caetano.
A partir dali, garante ter sido seguido por uma Parati preta. Ricardo foi para casa e, assim que estacionou, a Parati foi embora. Ele anotou a placa e informou-a à polícia, que constatou que a identificação é de uma motocicleta.