São menores os autores de triplo homicídio no Uberaba

Através de denúncias feitas à Delegacia de Homicídios, policiais da especializada, em conjunto com investigadores do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) prenderam, ontem, dois acusados de participar da tripla execução ocorrida no Uberaba, na madrugada do último sábado. Os menores, ambos com 16 anos, foram detidos na região do Marumbi, no mesmo bairro dos crimes. Um deles confessou à polícia ter sido o autor dos disparados.

De acordo com o delegado Luiz Carlos de Oliveira, o primeiro a ser preso foi o menor, que possui deficiência física. Na casa dele os policiais apreenderam quatro telefones celulares e um pistola 9 mm. O outro, ao ver a movimentação da polícia, tentou fugir e, ao pular o muro de uma residência próxima, deixou cair a munição da pistola 380 que tinha em punho. “Este último, confessou ter matado os rapazes com a arma encontrada na casa do comparsa”, afirmou o delegado.

Os detidos negaram-se a falar com a imprensa, mas para a polícia, o que tentou escapar confessou os crimes. Ele disse que chegou armado, junto com outros cinco comparsas, no bar onde estavam Israel Neves, 20 anos; Jackson Alexandre, 21, e Rodrigo da Silva Aragão, 22. Ousado, ordenou que os demais clientes ficassem calmos porque a “bronca” era com apenas com os três rapazes.

O delegado da especializada acredita que os crimes foram motivados pelo tráfico de drogas. Além dos menores, os policiais levantaram o nome de outros quatro participantes dos assassinatos: Clovis, Alisson, “Mineiro” e Tiago, que teriam fugido em um veículo Monza, para o Norte do Estado.

Crimes

Os três amigos foram executados às 4h40 da sábado na Rua Joanito Pereira, Uberaba. Além dos tiros, os assassinos ainda teriam usado foice e facas para ferir as vítimas. Israel morreu no local. Em estado grave, Jackson e Rodrigo foram socorridos pelo Siate, mas Jackson não resistiu e morreu a caminho do hospital. Rodrigo foi internado na UTl, mas também não suportou os ferimentos. (PC)

Faltam “prisões” para infratores

Pela avaliação do juiz da Vara da Infância e Juventude, Márcio José Tokars, o sistema que atende jovens infratores no Estado está apresentando sérios problemas. Segundo ele, há um déficit de 300 vagas que está gerando riscos de rebeliões. Além disso, muitos adolescentes que deveriam estar cumprindo medidas socio-educativas estão em delegacias. Falta também projetos que conduzam os jovens ao mercado de trabalho e ambulatórios para tratamento dos dependentes químicos. Praticamente a totalidade tem envolvimento com drogas, sendo que 35% usaram entorpecentes antes dos 12 anos.

Para o juiz, a situação é caótica. Há 150 vagas no Educandário São Francisco para onde vão os que cometeram os crimes mais graves. Mas lá estão internadas 250 pessoas. No centro de internamento provisório onde os jovens aguardam a decisão do juiz em Curitiba, há 57 vagas, mas abriga 90 menores. “A superlotação tem tornado as rebeliões mais freqüentes e violentas. A situação está quase insustentável”, revela o juiz.

Projeto

Segundo ele, o Juizado da Infância e Juventude e o Ministério Público apresentaram, no ano passado, um projeto ao governo do Estado para desafogar o sistema e torná-lo mais eficiente. Mas até agora nada foi feito. Tokars diz que já estão prontas unidades nas cidades de Fazenda Rio Grande, Santo Antônio da Platina, Umuarama, Maringá e Londrina. Mas estão com as portas fechadas. Elas ampliariam o sistema em mais 160 vagas e os jovens infratores estariam mais perto de seus familiares. Hoje, a maioria vem para Curitiba.

Outro problema é a falta de um ambulatório. Segundo o juiz, os adolescentes precisam primeiro largar as drogas para depois conseguir abandonar a vida desregrada. “São poucos os que são atendidos por um tratamento”, fala. Além disto, falta um programa de estágio que abra a possibilidade de um futuro emprego. Tokars acha que as empresas públicas do estado deveriam oferecer vagas. “Depois que saem, a maioria volta para a rua e cai na marginalidade. Só que mais experientes do que quando entraram no sistema”, afirma. O trabalho nas unidades de semiliberdade também é questionado. Tokars fala que a evasão é de 90%.

Para o juiz, a falta de investimento nesta área é responsável pela situação caótica. Ele lembra que o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Constituição Federal determinam que as crianças e os adolescentes sejam prioridade na hora de elaborar políticas públicas. Mas não é o que se vê no país. “Se no Brasil os governos insistem em não construir unidades de atendimento para adolescentes, devem começar a construir cadeias para abrigar os políticos e governantes que não cumprem o estatuto e a própria constituição”, avisa.

Iasp promete novas unidades

José Wilson de Souza, presidente do Instituto de Ação Social do Paraná (IASP) que é órgão responsável pelas medidas socioeducativas no Estado, concorda que estão operando acima da capacidade. Mas, por enquanto, isso não estaria afetando as atividades educativas. Segundo ele, até o fim do ano novas unidades vão ser construídas. As que já estão prontas devem entrar em operação daqui a 30 dias. Por enquanto, a maior preocupação é com os jovens que estão em cadeias públicas, existem 170 nesta situação.

Já o programa de atendimento aos usuários de drogas deve ser ampliado através de uma parceria entre as secretarias de saúde do município e do Estado. Hoje existe vagas sobrando para os jovens que estão em semiliberdade e liberdade assistida. “Falta interesse por parte deles em participar”, comenta Wilson. Nos próximos dias o governo deve apresentar um projeto que abre postos de trabalhos em companhias do Estado, como Copel e Sanepar. “Não resolve o problema, mas é um incentivo”, fala Souza.

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