A única roupa especial que o Comando de Operações Especiais (COE) – unidade pertencente à Companhia de Choque da Polícia Militar – possui para desativação de bombas está com a data de validade vencida há cinco anos. Mesmo intacta, sem nunca ter sofrido um impacto explosivo, o traje – que deixa o policial parecendo um astronauta – pode não protegê-lo com a eficiência desejada. Da mesma forma que a roupa antibomba, há informações de que muitos coletes balísticos usados pelos policiais militares também estão com a data de validade ultrapassada.
O major Chehade Elias Geha, comandante da Choque, não confirmou nem desmentiu a informação. Alegou que esta é uma ?informação estratégica da polícia, controlada pelo Exército, e não poderia divulgá-la?. Apenas revelou que já fez um pedido de compra de uma nova roupa especial, e junto com ela, um braço mecânico – para manter o técnico mais afastado da bomba – e um escudo protetor. O orçamento para estas compras ultrapassa os 150 mil dólares. ?Não é uma substituição ao que já temos, e sim um investimento extra. Não posso esperar uma situação de crise acontecer, para depois correr atrás do prejuízo?, simplificou o comandante.
Átila Alberti |
Motor ajuda a refrigerar roupa, que pesa 30 quilos. |
Validade
Apesar da declaração do major, a reportagem apurou que a roupa, solicitada em 1996 e adquirida pela polícia em 1998, está fora de validade desde 2003. Já foram feitos quatro pedidos para que o equipamento fosse substituído, mas todos foram indeferidos pelo governo do Estado. A negativa no investimento, talvez se explique pelo seu valor. Uma roupa semelhante à usada pelo COE pode custar mais de 90 mil dólares.
?Uma roupa como essa não é como um alimento, que passado um mês da data de validade, é impossível consumi-lo. Esta roupa está em bom estado, nunca sofreu um impacto, é armazenada como manda o fabricante e eu não colocaria um policial meu sob risco, sabendo que a roupa não irá protegê-lo?, alegou o tenente Puglia, comandante do COE.
Especialidade
No Brasil, apenas cinco estados e o Distrito Federal possuem a roupa antibomba em suas polícias militares. O Paraná foi o primeiro a adquirir o equipamento, seguido de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pará e o DF. Com a vinda dos jogos Pan Americanos ao Rio de Janeiro, a Polícia Federal brasileira também se equipou com a roupa especial.
Tecnologia em favor da vida
O COE é referência em todo o País, em treinamentos na área de explosivos. Atende o Paraná e demais estados, quando solicitado. Porém, sem a roupa especial, que pesa cerca de 30 quilos, o trabalho do técnico desativador de bombas seria impossível. Ela é capaz de protegê-lo em quatro tópicos numa explosão: onda de choque, fragmentação, calor e sobrepressão. Modelos mais atuais ainda oferecem proteção contra ameaças químicas, bacteriológicas, radiológicas e nucleares. Na verdade, o que protege o técnico são placas de fibra de aramida – polímero resistente ao calor e sete vezes mais resistente que o aço, por unidade de peso – que vão dentro da roupa.
Para suportar o calor, o técnico veste, por baixo, uma espécie de macacão vascularizado – cheio de pequenos canos – ligado a um motor. É um sistema que faz circular água, para refrigeração. O capacete também é equipado por um sistema especial que amplia a audição, ou a corta, quando há a explosão, para evitar danos auditivos ao operador.
Deterioração com o tempo
A roupa antibomba usada pelo Coe foi fabricada pela Med Eng Systems, sediada no Canadá. No Brasil, a fabricante é representada pela DefenseLink LLC., que forneceu alguns esclarecimentos sobre o equipamento. ?O prazo de validade tem seu início de contagem na data de fabricação e, por esse motivo, somente é produzido após o cliente oficializar o pedido. A vida útil do traje é de cinco anos?, descreve o documento encaminhado pela representante. A informação confirma que a roupa do COE – adquirida em 1998 – teve sua validade expirada em 2003.
A representante ainda revela: ?A vida útil do traje pode ser reduzida caso as instruções de uso, manutenção e estocagem não sejam atendidas, conforme determinação do fabricante; caso o traje experimente qualquer fator resultante de explosão, deve ser submetido à avaliação do fabricante para continuar a operar dentro das condições ideais de segurança. Partes sobressalentes podem ser adquiridas para a substituição.
Protocolo
O protocolo internacional recomenda que, ao término da vida útil, o traje seja utilizado apenas para instrução de uso, sem a presença de artefatos com carga real. A utilização após o término da vida útil é desaconselhável, ?pois a deterioração natural das fibras de aramida diminuem a capacidade de proteção, colocando-o em condição inferior aos parâmetros de segurança para que foi projetado?.
Geração
A roupa usada pelo COE é um modelo EOD 7B, o que significa a sétima geração do equipamento. Hoje, a fabricante já está na nona geração, com o modelo EOD9, utilizada pelas forças militares e policiais de todo o mundo. Os Estados Unidos, por exemplo, utilizam o material em suas investidas no Iraque e Afeganistão. Por estratégias comerciais, a DefenseLink não revelou o preço da roupa antibomba.
Lei regulamenta compra de equipamento
De acordo com o Decreto 3.665, de 20 de novembro de 2000, e da Portaria 17 – DLOG, de 28 de dezembro de 2004, a roupa antibomba é um produto controlado pelo governo. Só pode ser vendida a órgãos de Segurança Pública ou defesa, com a ciência do Exército Brasileiro. Sua fabricação deve seguir protocolos internacionais de segurança.