Roubo de carro foi fachada para assassinato

Oito pessoas acusadas de envolvimento na execução da empresária Sônia Modesto e tentativa de homicídio de Tatiana Gusso, fato ocorrido na madrugada do último dia 20, foram presas por investigadores da Delegacia de Homicídios. Dentre elas está o empresário italiano e suposto namorado de Sônia, Erich Lechner, 56 anos, que foi detido na manhã de ontem no Aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, no momento em que tentava embarcar com destino a Itália. As demais prisões aconteceram na tarde de quinta-feira.

O que motivou a morte de Sônia ainda é desconhecido da polícia, porém trata-se de um crime encomendado e que, segundo o delegado Adonai Armstrong, pode estar relacionado a remessa de dinheiro ao exterior (lavagem de dinheiro) ou negócios que eram gerenciados pela empresária aqui no Brasil.

Três suspeitos estão foragidos e são procurados pela polícia. Mahara Valência de Oliveira Franco e dois homens identificados como Marcos Bezerra, que seria o chefe da quadrilha, e José Geraldo Júnior, o ?Juninho?. Estão detidos Rodnei Araújo Serrano; Adenir Alves de Lima, o ?Bruno?; Francisco Elcio Nunes do Nascimento; Maria Suerda Bezerra Soares; Beatriz Cox Frank, dois menores e o italiano Erich Lechner. Foram apreendidos com o grupo os dois revólveres utilizados no assassinato, aparelhos celulares, inclusive o da empresária, e documentos de identidades.

Contratados

Pelo levantamento da polícia, a morte de Sônia foi encomendada por uma pessoa com muito dinheiro – ainda não se sabe quem – que contratou integrantes da facção criminosa paulista PCC (Primeiro Comando da Capital). O contato paranaense do grupo entrou em contato com dois pistoleiros em Ourinhos (SP), mas para eles foi repassado apenas a informação de que deveriam vir para Curitiba e roubar um carro. Sem mortes.

Outros integrantes da quadrilha, mas que vivem em Curitiba e foram selecionados por ?Bruno?, também ficaram a par da situação do roubo para dar cobertura a ação. Essa quadrilha estaria envolvida em assaltos e receptação de objetos na capital paranaense, fato que está sendo investigado.

Por volta das 2h da sexta-feira, dia 20, Sônia e Tatiana saíram de uma danceteria em Santa Felicidade com destino a residência da empresária, na Rua Engenheiro Alberto Monteiro de Carvalho, Capão da Imbuia. No trajeto o Astra AXS-9500, dirigido por Sônia, passou a ser seguido por um Corsa. Quando as vítimas chegaram na residência e pararam o Astra, foram rendidas por dois indivíduos armados que desceram do Corsa. Foi dada voz de assalto e os indivíduos entraram no Astra juntamente com a vítima. Os rapazes foram identificados como Rodnei Araújo Serrano e um menor de 17 anos.

Execução

Os assaltantes rodaram com o carro por Curitiba, sempre seguidos pelo Corsa que era ocupado por um casal. Para a polícia o casal era Marcos e Mahara.

Chegando na pouco movimentada Rua Ulisses Aurélio Vizinoni, Cidade Industrial de Curitiba, Marcos teria dado a ordem para os assaltantes executarem as vítimas. Inicialmente, os matadores se recusaram e disseram ter sido contratados apenas para o roubo do veículo. No entanto, foram convencidos por Marcos com um simples aviso: ?Se vocês não matarem, todos vão morrer.? Rodnei disparou contra a cabeça de Tatiana, que sobreviveu aos ferimentos, e o menor contra Sônia, que morreu no local. Depois da execução de Sônia, os quatro envolvidos no crime foram embora para se encontrar com o restante do grupo, em uma casa no bairro Santa Quitéria, em Curitiba, que é alugada por Mahara.

Presos pela sobrevivente

A sobrevivência de Tatiana, ao tiro que levou contra a cabeça, acabou com as chances de impunidade da quadrilha.

De acordo com o delegado Armstrong foram realizadas diligências e, com as informações obtidas com a testemunha, o quebra-cabeças começou a ser montado.

O carro da vítima (Astra) foi localizado numa estrada secundária, próximo a Jacarezinho (PR). O carro foi levado até aquela região, possivelmente, por Marcos e ?Juninho? que seguiram para São Paulo. Outras evidências foram obtidas na seqüência das investigações. No dia do crime, os carros Astra e Corsa -utilizados na execução -foram fotografados por excesso de velocidade em um radar eletrônico na Avenida Victor Ferreira do Amaral, Tarumã. Próximo ao Detran, os veículos colidiram entre si e foi visto por uma testemunha. Durante a perícia dos carros isso foi comprovado.

Prisão

A partir desses dados, os investigadores da DH chegaram até a placa do Corsa e começaram a vasculhar endereços. O Corsa AAW-2412, é de propriedade de Mahara, que chegou a prestar depoimento e foi liberada. Ela estava residindo em uma casa alugada no Santa Quitéria, a qual era utilizada como ponto de encontro da quadrilha. Entretanto, quando isso foi descoberto, ela desapareceu e está foragida.

As diligências prosseguiram e levaram ao nome de um policial rodoviário que colaborou com a polícia. Ele era casado com Beatriz, uma das mulheres acusadas de envolvimento com o grupo. Ela, por sua vez, namorava Adenir, mais conhecido por ?Bruno?, que é apontado pela polícia como um dos participantes intelectuais do crime.

Com o cerco fechado, os policiais partiram para as prisões: Na chácara, situada no bairro Órleans, foram detidos Adenir ?Bruno?; Beatriz e um menor e localizadas as armas do crime – dois revólveres, calibre 38 – e o telefone celular da empresária Sônia.

Em seguida, foi realizada a ?batida? policial em Colombo onde foram pegos Rodney, Francisco, Maria Suerda e seu namorado, o menor responsável pela morte da empresária.

Ressalta-se que após o crime, enquanto parte da quadrilha foi para São Paulo, Mahara, Ademir e Beatriz foram para Matinhos (litoral do Paraná) com o Corsa, onde permaneceram até o dia 24 de janeiro. A casa em Matinhos pertence a Beatriz.

Negócios no Exterior são elo do crime

Dias depois do assassinato, sabendo da ligação entre Sônia Modesto e Erich Lechner, o empresário italiano foi convocado a prestar esclarecimentos na Delegacia de Homicídios. Depois do depoimento, o delegado Adonai recomendou ao estrangeiro para que não se ausentasse do País até que o envolvimento dele com a vítima fosse devidamente esclarecido. No entanto, a polícia descobriu que o italiano estava de passagem marcada para a Itália e, na manhã de ontem, o delegado Maurílio efetuou a detenção dele no saguão do Aeroporto de São José dos Pinhais.

A partir dessa atitude, Erich passa a figurar como um dos principais suspeitos de ser o mandante do crime, de acordo com o delegado Armstrong. ?A vítima tinha negócios com muita gente e muitas pessoas poderiam ter interesse em matá-la. Alguém encomendou a morte da empresária, mas não sabemos efetivamente o motivo?, afirmou o policial. Por trás do assassinato podem estar negócios e uma alta quantia de dinheiro envolvido. As investigações continuam, mas somente os posteriores desdobramentos podem levar a elucidação do motivo e mandante da execução.

Milão

Erich é oriundo de Milão, região norte da Itália, e tem como principal investimento o ramo de derivados de carne, porém no Brasil tinha também outros investimentos. Ele é um empresário que realiza transações com o mundo todo e conheceu Sônia na Itália, em 2002. A partir de então tiveram um relacionamento. ?Ele passava alguns meses aqui no Brasil e ela também viajava para a Itália?, disse o policial. De acordo com Armstrong, algumas aquisições realizadas pelo italiano em Curitiba foram a compra de um posto de combustível, a compra de um veículo Audi e, posteriormente, um Mercedes-Benz para Sônia e estava construindo uma casa em um conjunto residencial de alto padrão, na Região Metropolitana de Curitiba.

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