Doze horas de tensão, com os cinco sentidos aguçados e duas metas: salvar vidas e prender bandidos. Este poderia ser o resumo de um turno de patrulhamento da Rondas Ostensivas de Natureza Especial (Rone), um dos braços da Companhia de Polícia de Choque da Polícia Militar do Paraná. Criada há 14 anos (aniversaria hoje), a Rone é uma espécie de ?menina dos olhos? da corporação. Todo policial sonha em fazer parte da unidade, porém poucos são os escolhidos. Ele recebem treinamento rigoroso e aprendem normas diferenciadas de abordagem, que são rigidamente obedecidas.

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Mais do que companheiros de trabalho, os PMs do efetivo da Rone são amigos, depositam enorme confiança uns nos outros, atuam integrados e usam de uma cordialidade admirável entre si. Sabem que a vida de um depende do bom trabalho do outro. E mais, que a população de bem espera deles o melhor.

Ação

Capitão Chehade, orgulho.

São dois os turnos de trabalho. Das 8h às 18h e das 18h às 8h, todos os dias da semana. As viaturas – com pintura diferenciada – são ocupadas por quatro homens, que andam fortemente armados. Granadas de efeito moral e gás lacrimogênio, além de fuzil, metralhadora, pistolas automáticas e muita munição fazem parte do arsenal que carregam. A farda camuflada, colete balístico e outros acessórios compõem a indumentária, que parece ter o poder de fazê-los aumentar o porte físico.

Se não aumenta o tamanho, com certeza aumenta o peso, o que os obriga a ter um bom preparo físico para agir nas situações de crise. A forma é mantida em exercícios diários, aulas de defesa pessoal, corridas e muita ginástica.

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Para sentir de perto como trabalham os policiais da Rone, a Tribuna foi o ?quinto homem? em uma viatura do 3.º Pelotão, comandado pelo tenente Anderson Couto de Moraes, um jovem de 24 anos que não esconde seu orgulho em fazer parte da unidade. Na fria noite de uma quarta-feira, as equipes se reuniram para troca de turno no pátio da Companhia de Choque. Todo o equipamento a ser usado passa por minuciosa checagem, assim como as viaturas. Tudo precisa estar em perfeito funcionamento para o trabalho. Afinal, ninguém sabe o que vem pela frente.

Ao volante da Blazer quase nova (nem tem xadrez instalado ainda) está o soldado Marco Antônio Domingues, antigo na corporação e respeitado pelos colegas. Um hábil motorista. Ao seu lado, acomoda-se o tenente Anderson, comandante do patrulhamento naquela noite. No banco de trás sentam-se os soldados Júlio César Schulmaister e Fábio da Silva, empunhando o armamento pesado (fuzil e escopeta). Cada um ocupa uma janela e já deixa meio corpo para fora da viatura. É a forma como trabalham.

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Com sirenes ligadas, o comboio parte do quartel do Comando Geral já sabendo que é a região norte da cidade que será patrulhada. Antes, porém, segue até a Praça Tiradentes, no centro, com muito estardalhaço. ?Esta é uma herança da Rota de São Paulo?, explica o oficial.

?É um alerta à população de que a Rone está na rua, está patrulhando e vai atuar?, diz. Também serve para esquentar as ?turbinas ? das equipes.

A partir dali, cada policial trata de esquecer problemas e dificuldades pessoais, e se assume como um mantenedor da ordem pública.

Sem tempo ruim

Dia ou noite, frio, sol ou chuva, pouco importa. Eles andam sempre com as janelas abertas, observando tudo. Qualquer movimentação diferente, seja na rua ou em estabelecimento comercial, é motivo para uma abordagem. Em segundos deixam a viatura, dominam a situação, fazem as revistas pessoais e em carros e bolsas e quando não encontram nada de anormal, despedem-se com a mesma rapidez com que chegaram, alertando que se tratou de um patrulhamento de rotina da Rone. Poucos se atrevem a correr, resistir ou reagir. Quem tenta, normalmente leva a pior.

Dois rádios comunicadores ficam ligados permanentemente. Um na freqüência da Rone e outro na freqüência do batalhão da área em que estão patrulhando.

Pelos rádios chegam as informações de tudo o que está acontecendo na cidade.

Em caso de emergência, as viaturas de deslocam em apoio a quem precisa. Além de Curitiba, os policiais cobrem também toda a Região Metropolitana e ainda participam de operações especiais no interior do Estado, quando necessário.

Comando com pulso firme

Comandar uma unidade de elite da Polícia Militar não é tarefa fácil. Hoje a Rondas Ostensivas de Natureza Especial (Rone) está sob as ordens do capitão Chehade Elias Geha, 43 anos, um descendente de libaneses que esconde, atrás do bigode negro, um sorriso generoso. Na PM desde 1988 – formado em História e atualmente cursando Direito – o oficial enverga a farda com singular orgulho. ?A Companhia de Choque é uma referência na Polícia Militar, no Paraná e no Brasil?, salienta, lembrando que a Rone compõe o Choque juntamente com as unidades Canil e Comandos e Operações Especiais (COE).

Vinte e quatro horas à disposição da corporação, quando não está em operações especiais, capitão Chehade está em instrução, ou seja, dando aulas aos seus comandados. ?Quem trabalha aqui tem que ter disponibilidade de servir, salvar vidas e aplicar a lei?, explica.

?Quando a Rone foi criada, os assaltos em agências e postos bancários eram os principais delitos combatidos. Hoje, com a tecnologia de segurança nos bancos e a redução do volume de dinheiro, os bandidos se voltam mais à população?, revela o oficial. Desta forma, os atendimentos mais freqüentes são de roubo de veículos, seqüestros relâmpagos e assaltos em estabelecimentos comerciais e residências. Além do patrulhamento, a unidade ainda tem como missões principais o controle de distúrbios civis, contra guerrilha urbana e rural, ocupação, defesa e retomada de pontos sensíveis, escolta de dignatários e outros.

Uma história em defesa do bem

A Rondas Ostensivas de Natureza Especial (Rone) foi criada em 13 de julho de 1992. Com o recrudescimento da violência, a Polícia Militar sentiu falta de um dispositivo de reação intermediário entre o policiamento básico e as ações de choque. A nova unidade então surgiu para agir em operações preventivas ou repressivas. Para tanto, conta com viaturas de maior porte, guarnições reforçadas, equipamentos e armamentos compatíveis para enfrentar situações de alto risco.

Para os policiais da Rone não há lugar onde não possam atuar. Diante de comentários de que em algumas favelas de Curitiba a polícia já não conseguia mais entrar, o efetivo é taxativo: ?isso é lenda?. E o trabalho duro não intimida. Há fila de espera de PMs para entrar na unidade. Quando surge uma vaga, o candidato faz um estágio de 30 dias (sai como o quinto homem da viatura). Se apresentar alguma deficiência, tem mais 15 dias para se aperfeiçoar. Caso não consiga se adequar aos padrões de abordagem e patrulhamento, perde a chance e outro é chamado. A seleção é rigorosa, o que faz deles homens especiais. Quando consegue receber o braçal (acessório do fardamento, colocado no braço esquerdo) com a inscrição Rone, o policial sabe que a partir daquele momento estará sempre pronto para o que der e vier.