O que era para ser mais uma ocorrência policial terminou em tragédia para o soldado Ronaldo dos Santos, 31 anos, lotado no 17.º Batalhão da Polícia Militar. Ele foi assassinado com dois tiros no rosto, por um garota de 17 anos, grávida de três meses. A adolescente e seu amásio, Gilson Luiz Pereira, 18 anos, foram baleados. O rapaz morreu e a garota foi levada ao Hospital Evangélico, onde permanecia internada até a tarde de ontem.
Viciados em crack e maconha, Gilson e a garota moravam em um barraco, na Rua Ivaiporã, Vila Pompéia, em Campo Largo, cedido pelo tio do rapaz, Valderi Bueno, 35. Na moradia não havia móveis, apenas alguns armários velhos na cozinha e roupas espalhadas pelo chão. De acordo com Valderi, o casal costumava se drogar no local junto com outras pessoas. Por este motivo, o tio de Gilson pediu para que ele deixasse o barraco, desde então, passou a ser ameaçado.
Na noite de quarta-feira, Gilson ameaçou o tio novamente e disse que iria colocar fogo no barraco. Temendo a atitude do sobrinho, Valderi resolveu acionar a Polícia Militar.
Tiros
Em poucos minutos uma viatura do 17.º Batalhão estava no local. A tragédia foi descrita por Valderi Bueno, que por pouco não foi atingido por um disparo. Os policiais chegaram para conversar com o casal e tentar convencê-los a sair da moradia, emprestada por Valderi. Mas não houve conversa, a garota e Gilson entraram em luta corporal com os policiais. Durante a confusão, um garoto de 16 anos, que estava no local fugiu, mas foi recapturado logo depois por policiais militares.
A delegada Maritza Haise, de Campo Largo, informou que durante a confusão Gilson conseguiu tomar a arma do soldado Ronaldo e a passou para a adolescente, que apontou a pistola contra a própria cabeça, com a intenção de que o outro policial largasse seu amásio. Vendo a cena e lutando na tentativa de escapar, Gilson ordenou: “Atira nele!”. O PM se aproximava lentamente da garota, quando ela afastou a arma de sua cabeça, apontou para o soldado e disparou dois tiros no rosto de Ronaldo, que tombou morto em um dos cômodos da casa, enquanto o colega do soldado, tentava algemar Gilson: “Ele não conseguia pôr a algema no meu sobrinho”, contou Valderi. “O colega do soldado reagiu e atirou contra a adolescente, acertando sua barriga. Em ato contínuo, lutava com Gilson”, salientou a delegada Maritza. “Gilson conseguiu tomar a arma do outro policial e sair da moradia. Usando uma segunda arma, o policial disparou contra Gilson, acertando sua coxa”, completou a delegada. Maritza disse que no corpo de Gilson havia outros ferimentos que serão revelados com o laudo de necropsia a ser feito pelo Instituto Médico-Legal.
Completamente alucinada e ferida, a garota saiu do barraco e ficou aguardando Gilson, mas após vê-lo morto, desistiu e resolveu se entregar. Ela está sob escolta da Polícia Militar no hospital. “Assim que for liberada, o Ministério Público deverá decidir o destino dela”, frisou a delegada.
Transtornados pelas drogas, vangloriavam o crime
Segundo moradores do bairro, Gilson e a companheira eram vistos em bares da região se vangloriando da vida criminosa que levavam. O rapaz comentava que teria matado uma pessoa em Almirante Tamandaré, há cerca de um ano, e enterrado a vítima no quintal. “Eles só falavam em matar”, contaram conhecidos do casal. Nem a mãe de Gilson escapava das suas ameaças. Ele prometeu matar todos os familiares, caso a polícia o tirasse da casa do tio. “Ele disse que mataria a mim, minha mulher e meus filhos”, disse Valderi. Outro tio do rapaz relatou que, ao cobrar uma televisão comprada por Gilson, ganhou a seguinte resposta: “Você só vai receber no inferno”. O garoto vivia com o pai, na Vila Hauer, antes de ser preso e fugir para a Vila Pompéia. Ele se separou da mãe desde que era criança.
Drogas eram constantemente usadas pelo casal e por outros freqüentadores do local. Um menino de 11 anos que acompanhava o trabalho da polícia também era visto na casa por moradores do bairro. A mãe desse garoto também acompanhou a retirada dos corpos.
Além do uso de drogas, Valderi apontou outra causa para o que aconteceu. Segundo ele, o sobrinho agia normalmente com certa calma, mas de repente, se transtornava. “Era o espírito do mal na pessoa. É o diabo na vida, via isso nos olhos dele”, comentou.
Furtos freqüentes pra sustentar o vício
Viciados em crack, Gilson Luiz Pereira, 18 anos, sua amásia, de 17 anos, e um garoto de 16, aterrorizavam os moradores de Campo Largo com pequenos furtos de televisores e objetos domésticos, para sustentar o vício do crack e da maconha. Também foi a droga que incomodou Valderi Bueno, que não viu outra alternativa a não ser pedir para o sobrinho deixar a moradia. O desejo de Valderi se transformou em constantes ameaças feitas pelos viciados.
A delegada Maritza Haisi lembrou que há cerca de dez dias, a jovem e o garoto de 16 anos foram apanhados em flagrante, por furto. “Como prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente, os dois foram entregues para os pais. Já que o furto é considerado um delito leve”, salientou a delegada. Ela disse que Gilson também praticou o crime com a amásia e o comparsa, mas conseguiu escapar. “O Gilson foi autuado em flagrante aqui na delegacia em maio deste ano, por receptação. Ele estava com um veículo furtado e acompanhado da amásia, que foi entregue aos pais”, lembrou a delegada. Ela disse que o rapaz saiu do xadrez da delegacia com alvará de soltura. “Até comentaram no local que o Gilson teria matado uma pessoa e era foragido, mas nada consta no sistema de informações da polícia”, ressaltou a delegada.