A forma cruel como Giovanna dos Reis Costa, 9 anos, foi morta em Quatro Barras, somada às suspeitas que recaíam sobre a família cigana Petrovitch, levou a reportagem da Tribuna a iniciar um série de investigações sobre outros crimes cometidos da mesma forma. Ao longo de quase dois meses, descobriu-se que assassinatos semelhantes ao de Giovanna ocorreram em Teresópolis, no Rio de Janeiro, entre outubro de 2000 e abril de 2001. O principal suspeito das mortes é Paulo Bianch Yanovich, um cigano que é parente da família Petrovitch, moradora em Quatro Barras.
As coincidências assustam. Em Teresópolis, três jovens, com idades entre 14 e 17 anos, foram assassinadas por esganadura. As caraterísticas físicas das vítimas são iguais as de Giovanna. Meninas franzinas, de pele clara e cabelos negros. Todas eram virgens e sofreram violência sexual. Os corpos foram encontrados em matagais e não havia vestígios de sangue neles, o que indica que o material também foi coletado pelo assassino. Duas delas desapareceram ao sair do colégio onde estudavam e foram encontradas mortas dias depois. Elas foram esganadas com os cadarços do tênis. Giovanna foi encontrada amarrada por dois fios de luz.
As mortes aconteceram antes do casamento de Paulo, e a garotinha de Quatro Barras, também foi assassinada dias antes de um casamento cigano. Na casa de Paulo a polícia apreendeu mechas de cabelos humanos, velas e imagens estranhas, assim como aconteceu na casa dos Petrovitch.
Outras duas garotas foram atacadas por Paulo – uma conseguiu fugir antes e outra sobreviveu depois de ser agredida e esganada.
Elas reconheceram o cigano e por isso ele passou a figurar como principal suspeito das três mortes.
Investigações
Os assassinatos chocaram a pacata cidade carioca, e por isso as polícias Militar e Civil, Ministério Público e famílias das vítimas se uniram nas investigações. Paulo ficou preso, mas hoje aguarda o julgamento em liberdade, que não tem data prevista para acontecer. Um caso praticamente insolúvel para as autoridades.
Um fato chama a atenção.
Na ocasião foi coletado sêmen no corpo de uma das vítimas. Preso ao ser reconhecido, a Justiça pediu coleta do sêmem de Paulo para confronto de DNA. O resultado foi negativo, mas o perfil genético mostrou que a amostra pertencia a alguém de sua família. Estranhamente, o corpo de Giovana foi lavado e nenhum vestígio de sêmen foi encontrado. Não se descarta a possibilidade de que os Petrovitch já sabiam que o rastro poderia gerar problemas como no Rio de Janeiro. Lá especula-se a possibilidade das amostras de sêmen terem sido trocadas, uma vez que Paulo é uma pessoa com muito dinheiro.
Magia negra seria pra garantir virilidade
Giovanna foi morta na casa de Pero, antes de casamento cigano.
O assassinato de Giovanna dos Reis Costa, 9 anos, ocorrido dia 10 de abril, em Quatro Barras – em que são acusados Pero Theodoro Petrovitch Vichi, 18 anos, e a mulher dele, uma jovem de 15 anos – e os três crimes ocorridos no Rio de Janeiro, levam a crer que todas as jovens foram vítimas de magia negra. Mas a pergunta que todos fazem é qual a finalidade destes rituais. Para esclarecer esta dúvida, na época dos crimes ocorridos no Rio de Janeiro, o coronel Walmir Alves Brum, hoje assessor do Ministério Público do Estado carioca, iniciou uma minuciosa pesquisa sobre magias. Em entrevista concedida à Tribuna do Paraná, Brum detalhou suas descobertas e afirmou que as mortes fazem parte do "ritual da virilidade", para garantir bom desempenho sexual aos ciganos. Todas as mortes aconteceram antes de casamentos. É da tradição cigana, segundo o coronel, ter muitos filhos, o que representa poder, principalmente se forem meninos.
Segundo Brum, ele entrou em contato com alguns ciganos, fez uma ampla pesquisa bibliográfica e analisou todos os detalhes dos crimes. "Eles confessaram que este ritual existe para que o homem seja viril em seu casamento. É um culto secreto, pouco comentado até mesmo na comunidade cigana", explicou.
As jovens mortas em Teresópolis estavam no período menstrual, fato que, segundo Brum, representa uma período de muita energia para a mulher. A virgindade é outro fator muito importante. "A história revela que, principalmente na Europa, estes rituais envolvem moças puras e o sangue. O conde Drácula foi uma história criada baseada em ciganos que bebiam sangue humano", disse o coronel.
Outro fato pesquisado pelo policial é de que as cinco garotas cariocas foram atacadas em pontos distintos da cidade de Teresópolis, que ligados por uma linha formam um pentagrama. Segundo estudos, as cinco pontas da estrela põem de acordo, numa união fecunda, o número 3, que significa o princípio masculino, e o 2, que corresponde ao feminino. O pentagrama sempre esteve associado com o mistério e a magia.
Ciganos
A comunidade cigana, por sua vez, nega que tal ritual esteja ligado à tradição deste povo. De acordo com Cláudio Domingos Iovanovitchi, presidente da Associação de Preservação da Cultura Cigana e Membro do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, a questão étnico-racial não pode ser considerada um fator de culpabilidade ou inocência. "A minha luta é divulgar a cultura cigana e evitar que estas lendas e mitos tragam problemas para o nosso povo. Não podemos dizer que todo cigano é criminoso, que todo o negro é ladrão e que todos os alemães são nazistas", disse Claúdio.
Ele afirmou ainda que, se os Petrovich são realmente culpados, deverão pagar pelos seus erros e elogiou o trabalho da polícia. "Queremos defender a Justiça e por isso não vamos ficar a favor se eles forem culpados, mas não vou admitir que toda a nossa comunidade, que já sofre muito preconceito, pague por este crime", finalizou Cláudio.
Tradição manda casamento durar três dias
De acordo com a tradição cigana, os casamentos duram três dias. Nos dois primeiros acontecem a festa e no último um almoço de despedia para parentes e amigos, convidados de várias lugares.
Para casar-se, a moça deve ser virgem. O pai do noivo paga toda a festa e o dote da garota. Geralmente, o valor é de 100 moedas de ouro, mas durante a festividade são feitas negociações, e no final do primeiro dia o desconto chega a quase 90 moedas. O valor passa a ser simbólico.
No primeiro dia a noiva veste branco. As ciganas mais velhas vão até o quarto para se certificar de não há objetos cortantes, para evitar que o noivo simule a perda da virgindade cortando seu dedo, caso a moça não seja mais pura. Se o hímen for complacente, médicos são chamados para examinar a mulher e garantir sua integridade. No segundo dia, o lençol com a mancha da perda da virgindade deve ser exibido aos convidados. A mulher então passa a vestir-se de vermelho e dança pelo salão segurando o "bariaco" – uma espécie de lança com uma maçã vermelha cravada na ponta, junto com um bandeira da mesma cor. Conforme os convidados chegam, dão um valor em dinheiro aos noivos e recebem um cravo.
Os ciganos se casam muito cedo, entre os 14 e 15 anos, uma vez que a vida social deste povo só começa após o matrimônio. O solteiro não tem valor perante a comunidade, pois não sustenta família. O amor vem depois, uma vez que o casamento é marcado pelos pais. Quanto mais filhos o casal tiver, principalmente se forem homens, maior será o poder da nova família.