Ricardo Chab afirma que foi vítima de armação

Depois de passar oito dias preso no Centro de Triagem II, em Piraquara, o jornalista e ex-deputado Ricardo Chab concedeu entrevista, na manhã de ontem, na sede de sua emissora, a Rádio Mais, em São José dos Pinhais. Ele negou as acusações de extorsão contra a empresa de segurança Centronic e alegou ter sido vítima de armação. Chab ainda aproveitou para criticar a forma como ocorreu a prisão e reclamou da maneira como foi tratado na cadeia. Indiciado pelo crime de extorsão, o ex-apresentador será interrogado no início do próximo mês, na 8.ª Vara Criminal de Curitiba.

Acompanhado de seu advogado, Ricardo Chab afirmou que negociava com a Centronic, inclusive com um pré-contrato, a veiculação de um comercial em seu programa. Chab alegou que, nos últimos dois meses, um funcionário da Centronic, que seria de sua confiança, teria feito gravações de conversas direcionadas e montado o material para aparentar a extorsão. ?Estamos tratando com pessoal que trabalha com tecnologia de ponta para montagem e edição?, disse Chab.

Prisão

O jornalista fez duras críticas à polícia pela forma como foi preso. A versão de Chab é de que ele estava na sua sala, no segundo andar da sede de sua rádio, quando os policiais detiveram o advogado Antônio Neiva de Macedo Filho, no primeiro andar, com uma sacola com R$ 35 mil. ?O que aconteceu foi um absurdo. Nenhuma autoridade me deu voz de prisão, fui convidado a comparecer à delegacia e terminei autuado em flagrante?, esbravejou. A partir daí, Chab afirmou que foi submetido a uma série de humilhações. ?Fui colocado incomunicável por 48 horas em um cubículo sem janela e sem energia elétrica. Tive que comer com as mãos?, revoltou-se.

Por fim, bastante emocionado, Chab questionou o motivo de sua prisão. ?Tentaram me calar, mas eu resisto, porque sou sério, tenho 30 anos de profissão e todos sabem do meu comportamento?, exclamou. ?Tentaram matar minha dignidade, mas não vão conseguir?, concluiu.

Perícia

O ex-deputado deixou a prisão na sexta-feira da semana passada e responderá o processo em liberdade. Seu advogado, Haroldo César Natter, informou que Chab irá se afastar do trabalho por alguns dias. ?Iremos solicitar a perícia das fitas, mas temos certeza de que houve montagem. Há indícios fortes de edição?, disse, referindo-se às gravações em que supostamente há um acerto entre as partes. Em 2 de junho, Chab será interrogado na 8.ª Vara Criminal de Curitiba.

Dinheiro e gravações

Ricardo Chab e Antônio Neiva de Macedo Filho foram presos em flagrante, no último dia 25, nas dependências da Rádio Mais. Neste dia, segundo a polícia, eles teriam recebido R$ 35 mil como parte do pagamento para que o apresentador não divulgasse matérias sobre a Centronic em seus programas. O vereador Onéias Ribeiro, presidente da Câmara de Colombo, também foi indiciado, acusado de fazer parte do esquema.

De acordo com as investigações da Delegacia de Estelionato e Desvios de Carga (Dedc), apesar de Chab não receber o dinheiro, entregue ao advogado, as interceptações telefônicas comprovam sua participação no crime. Segundo a denúncia do Ministério Público, Chab e Macedo extorquiram duas vezes o proprietário da Centronic, Nilson Rodrigues de Godoes. A primeira, no ano passado, quando teriam recebido R$ 80 mil. A última, no mês passado, quando foi acertado o valor de R$ 70 mil para não divulgar novas denúncias contra a empresa.

O teor dessas denúncias ainda é desconhecido. Surgiram comentários de que dois funcionários da Centronic estariam envolvidos com o desaparecimento de um rapaz, em Colombo. Porém na delegacia do Alto Maracanã, onde foi instaurado o inquérito sobre o desaparecimento, não há nenhuma informação que envolva a empresa ou seus funcionários.

Advogado diz que foi humilhado

Patricia Cavallari

Foto: Átila Alberti

Neiva: dinheiro de honorários.

O advogado Antônio Neiva de Macedo Filho também concedeu entrevista na tarde de ontem. Ele falou sobre as humilhações que passou na cadeia e alegou inocência nas acusações.

Segundo Neiva, as imagens em que ele recebe R$ 35 mil do proprietário da empresa de segurança Centronic, na sede da Rádio Mais, foram mal interpretadas. O dinheiro seria referente a parte dos honorários que a empresa lhe devia, por conta da defesa do vigilante Marlon Janke, acusado de assassinar o estudante Bruno Strobel em outubro do ano passado. ?A Centronic se negava a pagar o que me devia e, naquele dia, resolveu me entregar o dinheiro. Mesmo assim, não recebi tudo a que tinha direito. Foi flagrante armado?, alegou Neiva.

Segundo o advogado, o contato que ele tinha com a Centronic era por meio de seu ex-cliente Ademir, que era funcionário da empresa de segurança. ?Foi ele que fez as gravações, em que nós conversávamos sobre os honorários e não sobre extorsão. Os R$ 80 mil que disseram que foi extorquido no ano passado foi dinheiro recebido pelo meu trabalho na defesa de Marlon?, disse Neiva. O advogado disse que havia fechado seu escritório e, como participava do programa de rádio de Chab, pediu para que o pagamento fosse na sede da Rádio Mais.

Nus

Neiva contou que, quando chegou com Chab no Centro de Triagem II, foi obrigado a tirar toda a roupa e se agachar. ?Os agentes carcerários queriam ver se não tínhamos drogas no ânus. É um absurdo pois já tínhamos passado a noite no Centro de Operações Policiais Especiais (Cope). Também tivemos que vestir o uniforme do presídio e fomos escoltados por policiais fortemente armados, como se fôssemos criminosos. Além disso, não tivemos direito a cela especial e desafio o secretário de Segurança Pública a provar o contrário. A nota enviada pela Sesp é uma mentira?, finalizou Neiva.

Secretaria se defende

Em nota oficial, a Secretaria da Segurança Pública do Paraná rebateu as acusações feitas pelo apresentador sobre seu tratamento na prisão. Segundo a nota, Chab foi mantido em cela especial, com direito a visitas, telefonemas, banho quente e energia elétrica. Ainda de acordo com a nota, a cela tinha banheiro, fornecimento de água e energia elétrica, beliches e uma minibiblioteca.

A Sesp divulgou ainda que as refeições servidas ao apresentador e seu advogado, Antônio Neiva de Macedo Filho, foram as mesmas de todos os funcionários do Centro de Triagem II.

O diretor do presídio, Cláudio Stegues Pereira, disse através da nota que Ricardo Chab recebeu a visita de seu advogado, da esposa, filha e irmão, e além de familiares, cerca de 50 visitas entre elas a de quatro vereadores e de diversos colegas de imprensa.

?Todas as condições disponíveis ao apresentador Ricardo Chab e também ao advogado Antônio Macedo Filho foram acompanhadas e presenciadas pelo subprocurador da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Paraná, Andrey Salmazo Poubel, e respeitaram todos os preceitos legais?, informa a nota.

Por último, o documento garante que a prisão em flagrante do apresentador e do advogado aconteceu respeitando também todos os trâmites legais e referendadas pelo Poder Judiciário.

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