A repercussão da prisão dos ciganos Pero Petrovitch, 19 anos, e de Vera Petrovitch, 53, no Estado de São Paulo, pode ter ajudado a polícia de Araçatuba a evitar o sacrifício de mais uma criança. A menina de 6 anos (que teve seu nome preservado) era criada pela cigana Percília Nicoliche, parente de Vera, e havia notícias de que quando a garota atingisse a puberdade seria morta em um ritual de magia. A menina foi encontrada na sexta-feira, depois de uma caçada que durou horas, e entregue à mãe biológica na manhã de sábado.
De acordo com o delegado Marcelo Curi, da Delegacia de Investigações Gerais de Araçatuba, a intrincada trama começou há seis anos. A mãe da menina teve complicações no parto e mesmo assim foi para casa. Sentindo muita dor, ela voltou para o hospital e deixou a filha recém-nascida com Percília, que era sua vizinha, uma vez que não tinha parentes na cidade. Quando voltou, a cigana já tinha fugido com o bebê.
Na época, a mãe não comunicou o fato à polícia, mas continuou procurando pela filha.
Dois anos depois Percília e outros ciganos voltaram para a cidade e a mulher os procurou, na tentativa de recuperar a criança. Os ciganos ameaçaram matar a menina caso a mãe se negasse a assinar um documento que autorizasse a doação. Coagida, a mulher seguiu a ordem. Mais uma vez os ciganos deixaram Birigüi e a mãe, por medo e por ver que a filha estava bem, desistiu de recuperá-la.
Os anos passaram e há um mês a história voltou à tona.
A mulher procurou a promotoria da cidade, desesperada. Ela soube que sua filha estava sendo criada para ser sacrificada durante um ritual, quando atingisse a puberdade. Pelo fato da mãe ter, de certo modo, entregue a menina à cigana, o promotor local pediu providências para checar se a mulher realmente tinha entregue a filha mediante ameaças ou se apenas tinha inventado a história do sacrifício porque estava arrependida.
Pero e Vera
A promotoria e a polícia ainda custavam a acreditar na história contada pela mãe. Porém, na noite de quinta-feira a versão dada por ela ganhou força, quando Pero e Vera foram presos, acusados de assassinar a garotinha Giovanna dos Reis Costa,
9 anos – durante um ritual macabro realizado em Quatro Barras, há mais de um ano.
A polícia descobriu ainda que mãe e filho estavam escondidos na casa dos Nicoliche, parentes de Percília.
Enquanto Pero e Vera eram trazidos para Curitiba, a polícia de Araçatuba encontrou o endereço de Percília e, na tarde de sexta-feira foi até a moradia, em Andradina, município situado a 100 quilômetros de Araçatuba. Quando chegou, a cigana tinha acabado de fugir com a criança em um taxi, que as deixou na rodoviária de Bauru. A foto de Percília e da menina foram divulgadas em uma emissora de TV de São Paulo e elas foram reconhecidas em uma churrascaria na beira da estrada, sentido à capital. Quando a Polícia Militar chegou, a cigana já tinha ido embora. Entretanto, uma pessoa a reconheceu e a seguiu, avisando os policiais onde Percília estava. Ela e a menina foram encontradas no bairro Tatuapé, na capital paulista, em uma vila de casas ciganas.
?Não podemos afirmar que realmente iria acontecer um ritual, mas mediante a história da Giovanna, não descartamos essa hipótese. Em princípio não há crime e por isso Percília não foi presa. Vamos investigar em que circunstâncias ela apanhou a menina e se for comprovado o seqüestro, ela responderá pelo crime.
A menina, que estava com mandado de busca e apreensão, foi entregue à mãe?, finalizou o delegado.
Para a delegada Margareth Alferes Motta, responsável pelas investigações do caso Giovanna, com a prisão de Pero e Vera outros crimes serão solucionados. ?Nós já tínhamos o nome de Percília e sabíamos da ligação dela com Vera. Fiquei ainda mais surpresa quando soube da história com essa criança, por isso acredito que outros casos deverão vir à tona a partir de agora. O cerco se fechou?, finalizou a delegada.