Paixão insana

Rapaz preso após seqüestrar ex-namorada em Curitiba

Inconformado com o final do relacionamento amoroso, Maicon Alexandre de Andrade, 21 anos, raptou a ex-namorada, Jéssica Andressa Gomes Tavares, 17, e a manteve refém por mais de quatro horas na manhã de ontem. Ele abordou a garota quando ela chegava no Colégio Estadual Santa Cândida, por volta das 7h, e pegou alguns ônibus com a vítima para despistar a polícia.

O sofrimento da adolescente só terminou no final da manhã, quando ela foi libertada e se encontrou com os policiais da Companhia de Choque nas imediações do terminal do Cabral.

Maicon só foi para casa no final do dia e, ao saber que era procurado, se entregou à polícia. O rapaz foi autuado em flagrante por rapto, pelo delegado Messias Rosa, no Ciac Sul (Portão), e está detido.

Quando Jéssica e sua prima, ambas estudantes do ensino médio, chegavam ao colégio, na Rua Theodoro Makiolka, no Santa Cândida, Maicon obrigou a ex-namorada a acompanhá-lo. Segundo a prima de Jéssica, ele teria mostrado uma arma.

“Ele me mandou ir embora e levou a Jéssica”, relatou a prima da vítima. Alguns amigos tentaram ajudar a adolescente, porém foram ameaçados pelo seqüestrador.

Desespero

Agarrado à menina, Maicon desapareceu atrás de um galpão abandonado, às margens da PR-417 (Rodovia da Uva). Desesperados, amigos e a prima de Jéssica chamaram a polícia, que cercou a região.

“Deslocamos efetivos de toda a Companhia de Choque (Rone, COE e Canil), além do serviço reservado da Polícia Militar”, informou o major Chehade Elias Geha, comandante da operação.

Um cachorro farejador foi utilizado pela polícia para tentar seguir o trajeto feito por Maicon. Enquanto isso, o serviço de inteligência rastreava ligações e apurava denúncias anônimas, sem sucesso. “Tínhamos informações de que se tratava de uma pessoa violenta”, comentou Chehade.

Passeio

O rapaz entrou em um ônibus com Jéssica, na Estrada do Santa Cândida. Eles passaram por vários bairros, até que, próximo das 11h, a adolescente foi libertada, em um ponto da Avenida Victor Ferreira do Amaral, no Tarumã. De lá, ela pegou outro ônibus até o terminal do Cabral.

Quando ligou seu telefone celular, Jéssica recebeu a ligação do major Chehade e foi combinado um local para se encontrarem. Às 11h30, a menina entrou na viatura da polícia e reencontrou-se com a prima e a mãe. Jéssica não foi ferida durante o rapto.

Depois de Maicon se entregar, Jéssica compareceu ao Ciac e prestou depoimento. “Ela disse que conversou com Maicon e que permaneceram dentro do coletivo durante todo o tempo. Jéssica alegou que não viu Maicon portando nenhum tipo de arma”, informou o delegado Messias Rosa.

Violência doméstica

Marcelo Vellinho

Átila Alberti
Sem informações, PMs faziam de tudo pra encontrar a garota.

Maicon e Jéssica começaram a namorar em fevereiro de 2007 e, três meses depois, a adolescente engravidou. De acordo com a mãe da menina, Almira Gomes de Lima, “no começo do relacionamento, tudo ia bem”. Quando nasceu o bebê, eles se mudaram para uma casa no Cajuru e passaram a morar sozinhos.

“Eles moraram um mês juntos. Ele não trabalhava e era a gente que tinha que sustentá-los. Além disso, ele batia nela”, contou Almira, que, além de Jéssica, tem outras duas filhas.

Durante os meses seguintes, o casal voltou e se separou algumas vezes, até que, no dia 24 de setembro, Maicon raptou a própria filha. De acordo com Almira, o rap,az invadiu sua casa, onde Jéssica estava morando.

“Ele bateu na minha filha e na minha mãe, que foi parar no hospital, e levou o bebê”, lembrou. Duas horas depois, o pai entregou a criança para uma prima e desapareceu.

Mudança

Assustada, Jéssica se mudou, com o bebê, para a casa de uma tia, em Colombo, há cerca de duas semanas. “A intenção era que ela ficasse um tempo lá, com a prima, para se acalmar”, disse a mãe.

Na semana passada, Maicon e Jéssica, embora separados, pareciam ter se entendido. “Ele conversou com nossa advogada e ficou combinado que ele poderia ver a criança todos os sábados”, afirmou Almira

Reconciliação no interbairros

Valéria Biembengut

Assim que chegou em casa, Maicon concordou em ser conduzido para o Centro Integrado de Atendimento ao Cidadão – Ciac, instalado no 8.º Distrito Policial (Portão). Tranqüilo, ele disse que procurou a ex-namorada apenas para conversar.

“Passamos a manhã toda dentro do Interbairros. Terminamos nosso relacionamento há dois meses e temos uma filha de 8 meses. Brigamos por causa dela”, contou.

Maicon disse que ficou surpreso com a confusão. “Eu não tinha nem idéia do que estava acontecendo. Só vi na TV, quando cheguei em casa. Isso não passou de um mal-entendido”, afirmou.

Ele garantiu que não estava armado, mas que falou para os amigos de Jéssica que portava uma arma para afastá-los. “Eu só queria conversar. Foi muito bom, ela me deu bons conselhos, falamos sobre nós e a nossa filha.”

Maicon negou que se inspirou no caso do seqüestro de Elóa, que ocorreu recentemente em Santo André (SP). “Chegamos a comentar o caso, mas nunca faria isso. Só quero ser amigo dela, pois temos uma filha e jamais quero prejudicá-la”, salientou Maicon.

Momentos delicados

Marcelo Vellinho

Átila Alberti
Jéssica encontrou com a polícia no terminal do Cabral.

Embora Jéssica tenha saído ilesa do rapto, a garota contou ao major Chehade que passou por momentos delicados nas mãos do ex-namorado. “Em determinados momentos, Maicon teria comentado que o final do seqüestro poderia ser o mesmo do que aconteceu em Santo André (SP)”, disse o oficial, referindo-se à morte da garota Eloá Cristina Pimentel, baleada pelo ex-namorado, Lindemberg Alves.

Segundo o policial, a diferença entre os dois casos é que Jéssica se portou bem durante o crime e agiu com inteligência. “Ela convenceu o rapaz de que poderiam conversar outro dia, com a cabeça fria, e até pensar em reconciliação”, declarou o major.