Uma coisa é certa, Tayná está morta. Quanto ao resto, existem perguntas e respostas pouco precisas. A garota Tayná Adriane da Silva, 14 anos, ia para casa no bairro São Dimas, em Colombo, numa terça-feira à noite, dia 25 de agosto de 2013. Estava quase chegando. Às 20h37 mandou recado de celular para a mãe Cleuza Cadoná da Silva, 47 anos: “Mãe, estou chegando!”. Foi a última vez que a garota falou com a família. Tayná era linda, magra, 47 quilos e sua beleza chamava atenção. Estudava a nona série no Colégio Estadual João Gueno, no bairro São Dimas, em Colombo, período da manhã. E trabalhava de manicure num salão do bairro. Naquela noite, a garota desapareceu. Em casa, a mãe esperou. A espera foi mais longa que imaginava.
Imagens de câmara de segurança flagraram Tayná por volta das 20h30 diante de um parque de diversões na cidade há um mês. Nas imagens de outra câmara mais adiante ela não aparece. “Foi a noite mais longa de minha vida. Ela desapareceu na terça-feira à noite. Não dormi esperando. Tenho até hoje o celular guardado. Quando amanheceu eu pensei que uma coisa grave aconteceu. Estava chovendo. Eu coloquei a filha nova na Van da creche. Depois botei galocha e fui procurar minha filha na mata. Eu não tinha esperança de encontrar ela com vida. Porque aquele tipo de coisa não acontecia. Quando ela ia na casa de amigos, os pais traziam ela para casa. Ela não era de ficar fora de casa à noite”, relembra a mãe.
Corpo no poço
Cleuza procurou e não achou nem filha e nem o corpo da menina, que apareceu somente na tarde de sexta-feira, dia 28 de junho de 2013, depois de mais de 15 horas de busca, dentro de um poço em um terreno baldio de 20 mil metros quadrados, na Rua Presidente Faria, ao lado do parque de diversões, no bairro São Dimas. Num primeiro momento, o parque de diversões foi o cenário da busca pelo corpo da menina. “A gente passou por aquele lugar e não viu. Ela estava lá”, relembra a mãe. Quando os quatro suspeitos que trabalhavam no parque foram presos, a população se revoltou, incendiou e o destruiu. Até esse momento, o caso era o de uma menina desaparecida. Depois da destruição do parque, o caso, como o parque, também pegou fogo.
Enquanto o corpo não aparecia, a família viveu entre esperança e informações desencontradas. “Tinha gente que ligava. Um caminhoneiro disse que viu ela. Era trote. Se tivesse visto teria avisado a polícia”, relembra a mãe. Entre o sumiço de Tayná na terça-feira à noite e a aparição do corpo, a polícia prendeu na quarta-feira três funcionários do parque com uma quarta pessoa. Eles confessaram a morte da garota com um cadarço para estrangulá-la. O trio passou pelo local com a polícia e a família da garota na manhã de quinta-feira, indicando locais. Ninguém achou nada. Foram populares que encontraram o corpo no poço na tarde de sexta-feira, por volta das 16 horas. Revoltada, a multidão que acompanhava as buscas fechou a Estrada da Ribeira com barricadas em chamas. O trânsito parou.
A perita criminal Jussara Joeckel disse que Tayná “foi jogada dentro do poço vestida”. Se houve abuso sexual, eles vestiram antes de se livrar do corpo. A bolsa foi encontrada a cerca de 200 metros. Dos vários pertences que a família afirma que ela carregava, foi encontrada somente a carteira de trabalho. Cleuza relembra: “Nós fomos lá onde os rapazes ficavam. Perguntamos se eles conheciam, disseram que não conheciam. Eles conheciam sim. Minha filha passava por ali todos os dias”. Os suspeitos presos por investigadores da delegacia do Alto Maracanã na tarde de quinta-feira eram Adriano Batista (23 anos), Sérgio Amorim da Silva Filho (22 anos), Paulo Henrique Camargo Cunha (25 anos) e Ezequiel Batista (22 anos).
Uma reviravolta
Os três primeiros confessaram em depoimento que estupraram a garota. Der,am detalhes. Os dois primeiros acusaram o terceiro de ter asfixiado a adolescente. No entanto, este apontou o segundo como assassino. Os três afirmaram que o quarto não tinha nada com o crime. Mas a polícia o envolveu alegando que ele sabia do homicídio e não abriu o bico. No dormitório do parque os policiais apreenderam duas armas falsas, uma pistola e um revólver. A faca teria sido usada para intimidar a garota. Do grupo, apenas Sérgio tinha antecedentes criminais. O caso, aparentemente, estava resolvido. Os quatro foram indiciados pelo assassinato.
No entanto, dias depois, aconteceu reviravolta: a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a direção da Casa de Custódia de Curitiba, onde os jovens estavam presos, denunciaram que a confissão deles foi obtida sob tortura. E que acusação de estupro não se fundamentava.
Veja a segunda parte da reportagem especial: Um quebra-cabeça