Queda de monomotor assusta moradores no Bacacheri

A queda de um avião monomotor logo após decolar do aeroporto Bacacheri, às 9h43 de ontem, matou o piloto e provocou pânico na vizinhança. A aeronave explodiu ao cair sobre o escritório de uma empresa de produtos de higiene, situada na Rua Paulo Ildefonso Assumpção, próximo da Rua Fagundes Varela. Três mulheres, um homem e um bebê foram retirados do local e não se feriram.

Funcionários da aeronáutica informaram que o comandante Vitor Ascânio Caldonazo, 68 anos, era um piloto experiente e atuava desde a década de 80. Ele tentou decolar na pista 18, na direção do centro de Curitiba, mas por algum motivo desconhecido a aeronave PT-OIS, modelo Bonanza BE-36, não conseguiu sustentação e caiu no terreno com duas casas.

Na moradia dos fundos reside uma família. Na frente, funcionava a empresa de produtos de higiene, de propriedade de Antônio Reginaldo. O muro da casa dos fundos faz limite com o fim da pista do aeroporto, alguns metros mais alta. Devido à velocidade, a aeronave passou sobre a residência e caiu com a parte da frente direcionada ao telhado do escritório. O piloto morreu carbonizado.

Socorro

A aposentada Cláudia Prates, que mora do outro lado da rua, imediatamente chamou o Corpo de Bombeiros. “Escutei a primeira explosão, e quando olhei pela janela vi apenas a cauda do avião para fora do telhado. O avião mergulhou na casa. Depois ouvi mais três explosões”, relatou.

Dentro do escritório, um casal de funcionários viu o bico da aeronave e conseguiu correr para fora antes da explosão. Na casa dos fundos, Sabrina Chagas da Costa conseguiu pegar o filho Luan, de 8 meses, e saiu correndo acompanhada da sogra.

“Senti o impacto, vi tudo pegando fogo e saímos correndo, aos gritos”, conta a doméstica Maria Onizete Viana de Souza, ainda trêmula e assustada. O pequeno Luan dormia no momento do acidente.

Assim como os moradores do terreno em que caiu monomotor, vizinhos passaram mal devido ao nervosismo e foram atendidos por socorristas do Corpo de Bombeiros. Um homem que inalou fumaça ajudando os moradores a sair das casas foi encaminhado ao Hospital Cajuru, mas passa bem.

Investigação

De acordo com o capitão Adilar Lima, do Grupamento Aéreo da Polícia Militar (Graer), a pista e as condições climáticas não ofereciam riscos ao vôo.”O acidente poderia ter acontecido em qualquer lugar”, ressalta.

As causas serão investigadas pela Aeronáutica e um laudo preliminar deverá ser divulgado em até 30 dias. O Aeroporto do Bacacheri permanecerá interditado até que haja a liberação do trecho final da pista.

O piloto Vitor Ascânio Caldonazo era farmacêutico e bioquímico e foi diretor do laboratório Frishmann Aisengart Medicina Diagnóstica entre 1978 e 2000. Ele deixou esposa e duas filhas.

A família foi ao Instituto Médico Legal (IML) de Curitiba na tarde de ontem para reconhecer o corpo. Como o piloto morreu carbonizado, o IML precisou fazer o exame de arcada dentária.

Investigações iniciadas

Valéria Auada

O Comando da Aeronáutica, por meio do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), já iniciou as investigações sobre a queda do monomotor.

Para Roberto Peterka, perito e especialista em aviação da Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo 1907, a causa do acidente pode ter sido uma parada de motor.

“Normalmente quando o avião cai após a decolagem o problema é com o motor. Pode ser que tenha ocorrido drenagem dos tanques de combustíveis. O combustível pode ter se misturado com água. É a causa mais comum quando a queda acontece na decolagem. Há também inúmeras variáveis como, por exemplo, a quebra de um cabo de comando&r,dquo;, analisou o perito.

Átila Alberti
Moradoras saíram correndo, com bebê no colo.

Palco de outros acidentes

Joyce Carvalho

O Aeroporto de Bacacheri, alvo de protestos de moradores por estar praticamente dentro de uma área residencial, já foi palco de outros acidentes, mas de menores proporções.

O último deles aconteceu em outubro de 2008, quando piloto de um avião de pequeno porte perdeu o controle da aeronave ao pousar. O avião derrapou e parou na pista lateral do aeroporto. Não houve feridos.

Em março de 2005, um monomotor teve uma pane ao decolar. O avião percorreu toda a pista e bateu no muro de uma casa. O piloto e dois passageiros sofreram ferimentos leves.

Em junho de 2001, táxi aéreo bateu contra o muro do aeroporto após fortes ventos ao tentar pousar. O muro separa o aeroporto da Avenida Erasto Gaertner, uma das vias de maior movimento na região. Os três ocupantes do avião -dois tripulantes e um passageiro – tiveram ferimentos sem gravidade.

Átila Alberti
O monomotor virou um emaranhado de ferragens.

Aeroporto tem 80 anos

Joyce Carvalho

O Aeroporto de Bacacheri foi inaugurado na década de 30 e é classificado pela Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) como referência nacional em manutenção de aeronaves e helicópteros e como Centro de Formação de Profissionais da Aviação.

Segundo o site da Infraero, o aeroclube do Paraná forma pilotos, comissários de voo e mecânicos. A área do antigo Colégio Agrícola Estadual foi escolhida para ser a base aérea para aviação militar, pois já havia uma pista para pouso e decolagens. No início da década seguinte, o aeroporto passou a ser propriedade do Ministério da Aeronáutica. Em 1980, a Infraero assumiu a administração.

Piloto iria pra Minas

Redação

Agentes da Diretran e da polícia isolaram a área nas proximidades do local do acidente. Segundo a Diretran, o trânsito não chegou a ser afetado. Uma equipe da Aeronáutica chegou ao local por volta das 10h40, para verificações.

Em nota oficial, o Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta II) informou que o plano de voo apresentado pelo piloto tinha como destino a cidade de Pará de Minas, em Minas Gerais.

Segundo o órgão, o Comando da Aeronáutica, por meio do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) já iniciou as investigações sobre o acidente.

Átila Alberti
Bombeiros trabalharam durante toda a manhã no local.
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