Foto: Átila Alberti/Tribuna

Depois do crime, a polícia fez buscas para localizar os bandidos.

continua após a publicidade

Um jogo de carteado que reúne só bacanas, com apostas iniciais de R$ 500,00, foi violentamente interrompido, na noite de anteontem, por marginais que invadiram o Jockey Club, na Rua Victor Ferreira do Amaral, Tarumã, fingindo ser policiais. Após o roubo, houve perseguição policial, troca de tiros, mortes e prisões.

O cabo da Polícia Militar Júlio Cezar Bales foi morto a tiros de metralhadora, durante abordagem ao veículo ocupado pelos ladrões. Dois dos criminosos também tombaram no confronto. Os assaltantes usavam coletes à prova de balas, bonés e camisetas da Polícia Civil. Pareciam ter informações seguras do que acontecia nas dependências do Jockey e queriam dinheiro.

De acordo com informações apuradas pela reportagem, o grupo de ?grã-finos? costuma se reunir semanalmente para jogar uma nova modalidade de pôquer, chamada ?Texas Hold?n?, que está sendo a coqueluche dos cassinos internacionais. A reunião começa sempre às 21h30 (os bandidos invadiram o local dez minutos depois) e, normalmente, as apostas são feitas com cheques, uma vez que os participantes são todos conhecidos entre si.

Nessas reuniões, o passe de entrada é ilimitado, ou seja, cada vez que o jogador perde tudo, pode voltar a jogar com mais R$ 500,00 quantas vezes desejar ou puder pagar.

continua após a publicidade

Entre os ?figurões? estaria Antônio Celso Garcia, vulgo Tony Garcia, apontado como responsável pela quebra do Consórcio Garibaldi, que deixou um rombo de cerca de R$ 40 milhões no mercado e milhares de lesados. Tony seria figurinha carimbada no clube de pôquer, que acontece toda quinta-feira, sempre avançando a madrugada, e atualmente é beneficiado por um esquema de delação premiada.

Os marginais dominaram o vigilante às 21h40, e entraram no estabelecimento, rendendo os empresários e funcionários do Jockey. Como não há cofre no local, começaram a roubar as vítimas e a agredi-las com coronhadas. Após fazer uma ?limpa? nas vítimas e arrecadar jóias, talonários de cheques e cartões de crédito, os ladrões ainda queriam dinheiro.

continua após a publicidade

Uma das vítimas entregou a chave de sua Mercedes-Benz e disse que havia certa quantia dentro do veículo. Integrantes do grupo foram até o carro e pegaram aproximadamente R$ 30 mil.

Rajada de metralhadora

Para a fuga, os marginais roubaram o Toyota Corolla de uma das vítimas e seguiram em alta velocidade pela BR-476, sentido a São Paulo. Um pouco antes do viaduto de acesso ao Bairro Alto (Rua Alberico Flores Bueno), na BR-476, policiais militares da Rotam, do Regimento da Polícia Montada, cruzaram com o veículo, sem saber que se tratava de um carro roubado. O Corolla estava com as luzes apagadas e transitando em alta velocidade, o que chamou atenção da equipe policial.

Começou a perseguição e, quando os PMs realizaram a abordagem ao veículo, foram recebidos a tiros. Os indivíduos estavam armados com pistolas e uma metralhadora. Rajadas foram disparadas contra os PMs e o cabo Júlio Cezar Bales foi baleado e morreu ainda ao volante da viatura. A troca de tiros foi intensa e deixou o Corolla crivado de balas. Dois integrantes do grupo também foram baleados e morreram. Eles foram identificados extra-oficialmente como Levi da Cruz e Milton Cezar Alves.

Os comparsas aproveitaram o tiroteio e fugiram. Um deles tomou de assalto um Celta vermelho e saiu em disparada. O carro foi abandonado em Colombo. O outro, baleado na perna, atravessou a rodovia e rendeu um motoqueiro de uma empresa de vigilância, exigindo que fosse levado daquele lugar. ?Achei que ia levar a minha moto. Ele estava nervoso?, relatou. Ainda segundo o motoqueiro, ele foi obrigado a levar o marginal até o Santa Cândida.

Pego com arsenal

Diversos batalhões da PM e também da Delegacia de Furtos e Roubos (DFR) realizaram buscas e identificaram Marcos Aurélio do Couto Martins e Reginaldo Nascimento de Souza como os outros participantes do assalto ao Jockey.

Marcos foi detido numa moradia, em Colombo. No local, os PMs encontraram um arsenal: três espingardas calibre 22 e 32, duas delas com miras especiais, uma escopeta calibre 12, uma pistola 380 e munição para calibres 762, 22, 32 e 380. Também foram localizados coletes à prova de bala e espelhos de cédulas de identidade de outros estados e CPFs – material que seria utilizado para a confecção de documentos falsos. Durante as investigações também foram encontrados radiocomunicadores e pertences das vítimas.

Dirlei Pereira Souza, irmão de Reginaldo (um dos envolvidos no assalto) também foi detido. Ele teria dado carona para o irmão fugir. A polícia tem a informação de que a quadrilha chegou ao Jockey em um Celta prata. De acordo com o delegado Rubens Recalcatti, titular da DFR, a polícia está à procura de Reginaldo, que é foragido do sistema penitenciário.

O delegado Rubens Recalcatti, titular da DFR, acredita no envolvimento do bando em grandes assaltos contra empresas e estabelecimentos comerciais. Um dos envolvidos no roubo e que morreu no confronto com a PM já era conhecido da polícia. ?O Levi estava sendo investigado pela DFR devido a roubos de carga, crimes cometidos juntamente com uma quadrilha de Santa Catarina?, explicou o delegado.

Com honras

Patricia Cavallari

Dezenas de policiais militares, se reuniram ontem na Associação da Vila Militar para prestar a última homenagem ao cabo Bales. O caixão deixou a capela sobre o caminhão do Corpo de Bombeiros e seguiu em cortejo, até o Cemitério Jardim da Colina, em Colombo. Bales trabalhava há 10 anos na Polícia Militar. Ele deixou a esposa e um filho de 15 anos.

Em nota à imprensa, o comandante-geral da PM, coronel Nésio Xavier, disse que o cabo morreu em cumprimento do dever de proteger a vida, a integridade física e o patrimônio da comunidade paranaense.