As promotoras de Justiça Maria Ângela Camargo Kiszka e Marla de Freitas Blanchet, de Rio Negro, ofereceram denúncia, ontem, contra o delegado-geral da Polícia Civil, Leonyl Ribeiro, acusando-o de ter feito uso do cargo para obter vantagem para o quadrilheiro Mário do Amaral Fogassa, acusado de liderar um bando responsável por roubo e desvios de cargas no Paraná, Santa Catarina e interior de São Paulo.
Na mesma ocasião, as promotoras relacionaram os nomes do secretário da Segurança Pública, José Tavares, e do deputado estadual (reeleito) Carlos Simões, como co-autores do favorecimento, porém, não puderam denunciá-los porque ambos têm prerrogativa de foro. Serão extraídas peças dos autos de investigação para serem encaminhadas à Procuradoria Geral da Justiça, para adoção de medidas cabíveis. Também degravações de conversas telefônicas entre os envolvidos serão anexadas às peças.
Denúncia
A denúncia encaminhada ao juízo de Rio Negro salienta que durante o primeiro semestre deste ano e o início do segundo, nas dependências da Secretaria da Segurança Pública e em seu próprio gabinete, no Departamento da Polícia Civil, Leonyl Ribeiro, juntamente com outras pessoas, “aderindo a conduta delituosa uns dos outros, com vontade livre e consciente de praticar o ato ilícito, valeu-se do cargo de delegado-geral da Polícia Civil, a fim de obter vantagem para Mário do Amaral Fogassa”.
Ainda de acordo com a denúncia, “Ribeiro solicitou aos delegados Armando Marques Garcia e Margareth Motta, da Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas, para que no exercício de suas funções deixassem de dar o regular andamento aos inquéritos policiais números 93/02 e 161/02, instaurados contra Fogassa, por receptação e roubo de cargas”.
Segundo avaliação das promotoras, o delegado-geral incorreu nas penas dos artigos 332 e 29 do Código Penal. Ele deverá ser citado para interrogatório e para apresentar sua defesa dentro de 15 dias. As testemunhas que depõem contra ele são os dois delegados da Estelionato (ambos estão presos, acusados de extorquir Fogassa) e Fernandez da Cruz, um comerciante residente em São José dos Pinhais.
Quadrilha
Fogassa teria montado o “QG” de sua quadrilha em Campo do Tenente, onde os caminhões roubados eram guardados até serem transferidas as suas cargas para outros veículos. Um vereador da cidade, Divonzir Rodrigues, descobriu a trama e ameaçou denunciá-la às autoridades. Porém foi morto a tiros no bar de sua propriedade, num assalto simulado, praticado por fugitivos da cadeia local, em março passado. A fuga teria sido facilitada pelo delegado da cidade.
A família do vereador, inconformada com sua morte, procurou o Ministério Público para que tudo fosse devidamente investigado. A partir de então vários fatos novos foram levantados e após alguns “grampos” telefônicos, autorizados pela Justiça, foram apurados os nomes de 26 pessoas envolvidas com a quadrilha (15 já estão presas). Inclusive os nomes de policiais, do próprio Leonyl Ribeiro, do secretário José Tavares e do deputado Carlos Simões.
Ribeiro e Tavares admitiram ter conversado com Fogassa, por telefone, a pedido do deputado, mas nunca confirmaram ter prestado qualquer ajuda ao quadrilheiro nem determinado qualquer facilitação nos inquéritos instaurados.