A auto-estima de quem está dentro de uma penitenciária fica seriamente abalada. O efeito pode ser ainda mais devastador entre as mulheres. Esquecem-se delas mesmo diante de um ambiente de ressocialização que, ao mesmo tempo, leva a uma luta diária pela sobrevivência. Entretanto, com atitudes pequenas, essas internas podem se redescobrir como mulheres.
Isso acontece, por exemplo, através de um projeto implantado neste ano na creche Cantinho Feliz, da Penitenciária Feminina do Paraná, pelas bacharelas em Psicologia Priscila Schmidt Alvez e Mariana Pereira de Godoi. Elas escolheram o local para a realização do projeto em psicologia comunitária para a conclusão do curso de Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná. Demoraram dois meses para conseguir autorização e efetivamente começar o projeto. Mas as dificuldades não pararam por aí.
Dentro da penitenciária, perceberam que a creche era uma área que necessitava de assistência. Trinta internas cuidavam de seus filhos na creche durante todo o dia e a única contrapartida era manter o local limpo e arrumado. Apesar da proximidade com os filhos, o ambiente vivenciado dentro da penitenciária era trazido para dentro da creche. Brigas e discussões aconteciam com freqüência na frente das crianças. ?Inicialmente, foi muito difícil a aproximação com as internas. Até assustaram a gente, para ver até onde iríamos. Quando nos aproximamos das crianças, conseguimos nos aproximar delas?, conta Priscila.
Aos poucos, Priscila e Mariana perceberam o estado de ansiedade e nervosismo das internas. Além disso, as mães possuíam poucos conhecimentos sobre cuidados com as crianças. Por isso, as duas desenvolveram diversas atividades que as internas realizam com os próprios filhos. Elas se ocupam e, ao mesmo tempo, ficam ainda mais próximas das crianças.
Assim, atividades como construção de brinquedos e peças teatrais viraram rotina. ?O comportamento delas mudou muito. Antes, as brigas e as discussões estavam muito presentes. Agora, elas estão mais focadas nas crianças e nelas mesmas?, explica Mariana.
O próximo passo foi investir na auto-estima das internas. Uma das ferramentas foi um curso de automaquiagem. ?Elas aprenderam a se maquiar. Quando chegamos um dia na creche e as vimos maquiadas, tempo depois do curso, percebemos o quanto valeu a pena tudo isso, apesar das dificuldades. As internas precisam de atenção. Elas só querem ser ouvidas. E, aos poucos, esse contato foi permitindo exatamente isto?, revela Priscila.
Priscila e Mariana ficam na creche da penitenciária até janeiro de 2008, mas a continuidade do trabalho está garantida para o ano todo, com outras duas alunas da universidade.