A Polícia Civil de Cascavel, na região Oeste do Paraná, identificou dois suspeitos pelo assassinato da coordenadora do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MSLT), Jocélia de Oliveira Costa, 31 anos, e da filha dela, Emanuele de Souza, 5. De acordo com o delegado titular da subdivisão policial da cidade, Amadeu Trevisan Araújo, em princípio, há duas hipóteses para o crime: disputa pela liderança do movimento e vingança.
Durante a tarde de ontem, o delegado preparava o pedido de prisão preventiva de Ademar Alves de Lima e Paulo Rodrigues de Lima, que estavam acampados no local e são apontados como os responsáveis pelos assassinatos. "Temos informações de que Paulo e Jocélia já teriam se desentendido anteriormente em função da liderança do grupo. O que sabemos, por enquanto, é que Paulo queria ocupar o cargo de Jocélia. Porém, também soubemos que ela tinha expulso Paulo do movimento e, por isso, ele teria se vingado", relatou o delegado. Tanto Paulo quanto Ademar estão foragidos e são procurados pela polícia.
No meio da tarde de ontem, o delegado começou a receber testemunhas para serem ouvidas. Policiais passaram o dia no local do crime na tentativa de coletar mais informações sobre o duplo homicídio.
Crime
Jocélia e sua filha foram assassinadas a tiros por volta das 20h de domingo, no assentamento Primeiros Passos, às margens da BR-369, no quilômetro 511, entre Cascavel e Corbélia. Os assassinos invadiram a casa onde as duas estavam, e os corpos foram encontrados por policiais militares chamados por acampados. Socorristas do Siate também foram ao local, mas as duas já estavam mortas. Ezequias Faleiro, 31 anos, foi ferido na perna e encaminhado para um hospital de Cascavel. "Acredito que eles tenham matado a criança porque ficaram com medo que ela pudesse identificá-los", finalizou o delegado.
Grupo marcado pela violência
O Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) ganhou notoriedade nacional no último dia 6, quando cerca de 500 integrantes invadiram a Câmara dos Deputados, no Congresso Nacional, em Brasília. O movimento promoveu quebra-quebra, que resultou em prejuízo de mais de R$ 150 mil. Durante o episódio 24 pessoas ficaram feridas. Líderes do quebra-quebra foram presos e responderão por acusações que vão desde destruição do patrimônio público à formação de quadrilha e tentativa de homicídio.
Radical
O MLST é uma dissidência radical do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) na luta pela reforma agrária, e está presente em nove estados brasileiros. Os dois movimentos não são aliados e já entraram em choque ao invadir a mesma fazenda, em Alagoas, no ano passado. Em abril de 2005, cerca de 1.200 integrantes do movimento invadiram o Ministério da Fazenda, e ficaram no local por mais de seis horas. Em 2004, membros do grupo visitaram o Palácio do Planalto. Na ocasião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou o boné do MLST, o que causou polêmica. Depois de duas horas de reunião com integrantes do grupo, o governo federal deixou disponível R$ 9 milhões para o movimento.