A abordagem policial que resultou na morte do agricultor Deiviti Maicon dos Santos, 19 anos, e na prisão de seu primo, Tiago Luís Machado, 21, durante a madrugada de domingo,revoltou a população de Colombo. Na manhã de ontem, em depoimento na delegacia local, Tiago desmentiu a versão apresentada pelos policiais militares da Rondas Ostensivas de Natureza Especial (Rone), que afirmaram que seu primo estava armado com uma pistola 380 e que a dupla teria reagido à abordagem. Enquanto isso, o corpo de Deiviti era velado, rodeado de familiares e amigos.
?A gente saiu da Festa do Vinho e estava a caminho de casa, na região de Águas Fervidas, quando percebi que o Deiviti caiu da motocicleta e que eu fui ferido no braço?, contou Tiago. ?Depois, quando dei a volta para ver o que tinha acontecido com ele, os policiais me prenderam e levaram meu primo para o hospital?, completou. O rapaz relatou que não percebeu a presença da polícia, porque a viatura não estava com a sirene ligada. Já os policiais alegaram que a dupla reagiu à abordagem e que Deiviti teria atirado. Depois do suposto confronto, Tiago ainda teria fugido e acabou detido.
Foto: Daniel Derevecki |
Deiviti levou um tiro na garupa da moto. |
Investigação
Na delegacia local, o delegado titular Hamilton da Paz ouviu as versões de Tiago e dos policiais. ?Estamos averiguando a veracidade dos fatos, confrontando as informações para tomar a decisão mais justa. Podem ter certeza de que se houve excesso, os responsáveis serão punidos?, afirmou. Uma das primeiras ações do delegado foi liberar Tiago, que passou a noite na delegacia. ?Não encontrei nenhum motivo para que ele fosse mantido preso?, explicou.
Hamilton também solicitou que fosse realizado exame de parafina nas mãos de Deiviti, a fim de verificar se ele disparou a pistola apresentada pelos policiais. ?Não é possível analisar se as impressões digitais dele estão na arma, porque muita gente mexeu na pistola?, disse o delegado. Hamilton também lembrou que nenhum dos dois primos tinha passagem pela polícia.
Embora seja normalmente realizado no Instituto de Criminalística, o exame nas mãos do jovem aconteceu durante o velório, na casa da vítima, no bairro Ribeirão das Onças. Durante a cerimônia, Suzane Gasparim, vizinha de Deiviti, contou que o rapaz trabalhava em uma firma de produção de mudas e que não costumava sair de casa. ?Quando chegava do trabalho, ele ficava em casa com a mãe. Não era muito de ir a festas?, lembrou. ?Acho que o Deiviti nunca viu uma arma na vida?, revoltou-se.
Ação desastrosa é investigada
O tenente Alves, da Companhia de Choque, a quem a Rone é subordinada, informou que os três policiais que estavam na viatura envolvida no suposto confronto foram momentaneamente afastados, porém, por questões psicológicas. ?Sempre que há confronto, eles são encaminhados ao serviço de atendimento social, no qual conversam com uma psicóloga. Ela é que vai decidir quando eles poderão voltar ao trabalho?, explicou o tenente.
Alves também lembrou que o capitão Vieira, comandante da companhia, já solicitou a abertura do inquérito policial-militar, que irá investigar a morte de Deiviti. ?Não podemos puni-los só em função do que diz a família do rapaz. É preciso aguardar o resultado desse inquérito?, concluiu o tenente.